As árvores, assim como os seres-humanos e os animais, também são seres-vivos que ficam doentes e têm um ciclo de vida – que é diferente para cada espécie. Na cidade, elas sofrem mais porque estão fora de seus habitats naturais. Por isso, é importante ficar de olho na folhagem, se está verde e viva, se há infestação de pragas e fungos e se o tronco está oco. Estes são os sinais mais comuns em árvores adoentadas, mas existem problemas mais complexos que não são vistos a olho nu.
Árvores doentes são um grande risco para a vida nas cidades. No verão, quando as fortes chuvas, alagamentos e raios se tornam comuns, elas podem cair sobre carros, casas e pessoas que estiverem caminhando pela rua. Em 2022, houve 3 mil solicitações para remoção ou poda de árvore no Corpo de Bombeiros do município de São Paulo. Em 2023, só em 15/1, quando a cidade registrou um temporal, a corporação recebeu 167 chamados por quedas de árvore.
A avaliação inicial do estado da árvore pode ser feita por qualquer pessoa, mas também deve passar por uma análise mais profunda de profissionais especializados. De acordo com o analista de meio ambiente do Instituto Butantan Renan Rodrigues da Costa, é necessário olhar para a copa da árvore, caule e raiz.
“Na copa a gente observa se há galhos secos, se há alguma infestação e se as folhas estão com uma coloração diferente, que pode indicar uma deficiência nutricional ou uma doença. Depois, analisamos o tronco, observando se há cavidades ou lesões, que podem indicar problemas mais graves. Por fim, olhamos as condições das raízes quando elas estão aparentes”, explica Renan.
Vale ressaltar que árvores ocas são comuns na natureza, mas no contexto da cidade é necessário controlar esse tipo de situação. Algumas espécies de insetos, como as abelhas sem ferrão, só fazem ninho em árvores ocas e isso pode indicar uma cavidade, o que leva ao risco de queda. Outro ponto para observar é o estado fitossanitário, ou seja, a saúde do vegetal.
É importante, porém, não confundir a aparência das árvores em estações mais secas, períodos em que a folhagem é renovada. “Na estação seca, que é basicamente no outono e inverno, algumas árvores perdem as suas folhas e ficam ‘carecas’. Mas não significa que estão doentes ou em declínio. É uma adaptação dessas espécies para suportar o período de estiagem quando chove menos. Conforme o tempo passa, do meio para o final da estação seca, as folhas começam a rebrotar”, diz Renan.
Tratamento de árvores doentes
Não existe um tratamento convencional para os vegetais doentes no meio urbano, mas sim um acompanhamento de perto da situação. Na cultura agrícola é muito comum o uso de defensivos químicos, mas na cidade essa prática é proibida.
“A gente acompanha os sintomas, faz adubações para ver se a disponibilidade de nutrientes auxilia na regulação das defesas naturais da árvore para combater uma infecção fúngica, por exemplo, e realiza um manejo preventivo com uma poda ou mesmo com a substituição para uma nova muda, que às vezes é necessário por conta do risco de queda”, afirma Renan.
O que fazer com uma árvore doente
Se uma árvore estiver em via pública, com sinais claros de adoecimento, é necessário abrir uma solicitação para a prefeitura da cidade, que fará um laudo e o manejo correto. No município de São Paulo, por exemplo, em caso de ambientes internos, como casas e condomínios, há duas formas de resolver o problema. A primeira é contratar um profissional para fazer um laudo de avaliação da fitossanidade e risco de queda e, em seguida, abrir um processo na prefeitura solicitando a remoção. A outra, que é menos custosa e demora mais tempo, é solicitar uma vistoria dos agrônomos da prefeitura na região.
“Em São Paulo, todo e qualquer manejo de árvore, como poda, transplante ou supressão, necessita de autorização prévia da prefeitura. A única exceção é em caso de risco iminente de queda, onde o manejo pode ser realizado sem autorização prévia, porém a situação emergencial deve ser atestada por meio de laudo técnico elaborado por um profissional habilitado, que pode ser um biólogo, engenheiro florestal ou agrônomo, com respectiva emissão de Anotação de Responsabilidade Técnica (ART)”, ressalta o analista de meio ambiente do Butantan.
Reportagem: Mateus Carvalho
Arte: Daniel das Neves
Fotos: Renato Rodrigues/Comunicação Butantan e Shutterstock