Com pouco mais de 55% da população brasileira completamente vacinada, o número diário de mortes por Covid-19, que atingiu o recorde de 4.249 em 8/4, caiu para 506 em 1/10. Especialistas e governos concordam que a grande responsável por essa queda é a imunização coletiva. Ainda assim, os óbitos continuam a acontecer, e uma pequena percentagem deles, cerca de 4%, envolve pessoas já vacinadas com as duas doses.
Isso acontece porque as vacinas cumprem um papel extremamente importante na proteção contra uma doença, mas não são capazes de acabar, sozinhas, com ela. Enquanto as taxas de transmissão da Covid-19 permanecerem altas, o vírus SARS-CoV-2 continuará fazendo vítimas. O caminho para o fim da pandemia envolve duas vertentes: a imunização coletiva, independente da vacina utilizada, com o objetivo de reduzir os casos graves e óbitos causados pela doença; e a manutenção de cuidados como o uso de máscaras, a higienização das mãos e o distanciamento social, para reduzir ao máximo a transmissão do vírus entre as pessoas.
Outro aspecto que deve ser analisado é que as vacinas não são recebidas da mesma forma por todos os organismos: o sistema imunológico varia de indivíduo para indivíduo. “Trabalhamos com muitas variáveis e existem pessoas que são más respondedoras à vacina”, comenta a diretora do Laboratório de Biotecnologia do Instituto Butantan, Soraia Attie Calil Jorge. Esse fato é de conhecimento da ciência há décadas. A vacina não ser protetiva para todos é natural – até camundongos, muitas vezes, não são capazes de responder bem a determinadas vacinas.
Não responder bem a uma vacina não quer dizer ser um mau respondedor para todas. Infelizmente, algumas pessoas não conseguem ter um exército de anticorpos tão bem treinado quanto outras. Isso não está relacionado à eficácia da vacina, e sim, às diferenças de organismo para organismo. Comorbidades e condições autoimunes também podem prejudicar a resposta do corpo.
O Projeto S, estudo de efetividade do Butantan realizado na cidade paulista de Serrana, mostrou que a CoronaVac, vacina feita em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac, teve um impacto considerável na redução de mortes por Covid-19, diminuindo-as em 95%. Essa conclusão não é surpreendente: ela aponta que a vacinação garante uma alta proteção contra a doença, mas não a ponto de zerar o indicador. Para acabar com a pandemia e travar a circulação do vírus, é necessário que a cobertura vacinal esteja alta, o que só se consegue quando todos forem imunizados com as duas doses ou dose única.
A busca do vírus pela sobrevivência
Como todo ser vivo, os vírus prezam pela sua sobrevivência. Quando há uma ameaça seletiva contra ele (no caso, a vacina), ele tenta desenvolver novas formas de continuar circulando. Existem vírus que têm escapes imunológicos, ou seja, conseguem criar estratégias para evitar a proteção do sistema imune e infectam pessoas vacinadas em sua constante busca pelo ambiente ideal de proliferação – pessoas não vacinadas, por exemplo.
Os cientistas ainda não têm dados suficientes para saber se os casos de Covid-19 em pessoas já vacinadas se devem a reinfecções, características da resposta celular e humoral, escape vacinal ou mutações do vírus. É preciso lembrar que todo o conhecimento que se tem sobre o SARS-CoV-2 em seres humanos foi coletado nos últimos dois anos. “É um vírus novo. Pode ser reinfecção, mas também pode ser infecção de outra cepa. Uma vacina pode responder muito bem para o vírus original, mas para uma nova variante como a delta, por exemplo, não”, diz Soraia.