Reportagem: Aline Tavares
Fotos: Hugo Caldato
Nesta segunda (14/4), cientistas do Instituto Butantan e do Hemocentro de Ribeirão Preto se reuniram para debater os últimos avanços da terapia celular durante o 2º Colóquio do Núcleo de Terapia Avançada (Nutera). Com o tema Terapia Celular: realidade no combate ao câncer e perspectivas no tratamento das doenças imunes, o evento foi realizado no anfiteatro do Hemocentro e contou com a participação do diretor do Instituto Butantan, Esper Kallás, do diretor-presidente do Hemocentro de Ribeirão Preto, Rodrigo Calado, e do pesquisador responsável pelo Nutera-SP, Vanderson Rocha.
Inaugurado em 2022, o Nutera é um dos mais avançados programas de tratamento contra o câncer da América Latina. Composto por duas unidades, em Ribeirão Preto e em São Paulo, é especializado na produção de células CAR-T, terapia que modifica geneticamente as células de defesa do paciente para combater o câncer. No exterior, o tratamento pode custar até US$ 500 mil (R$ 2,9 milhões) por paciente.
Na abertura do evento, o diretor do Instituto Butantan, Esper Kallás, ressaltou a importância da união de esforços para disponibilizar novas tecnologias ao Sistema Único de Saúde (SUS). “O trabalho colaborativo entre o Nutera São Paulo, o Nutera Ribeirão Preto e o Instituto Butantan mostra como parcerias eficazes podem transformar a ciência e impactar positivamente a sociedade”, disse.
Em março do ano passado, o Butantan e o Hemocentro iniciaram o ensaio clínico de fase 1/2 da terapia CAR-T para pacientes com leucemia linfoide aguda de células B e linfoma não Hodgkin de células B. Em dezembro, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o relatório de segurança da primeira fase da pesquisa e autorizou a progressão para a segunda etapa.
Desenvolvida no Centro de Terapia Celular da Universidade de São Paulo (CTC-USP) de Ribeirão Preto, a CAR-T vem sendo aplicada experimentalmente contra alguns tipos de câncer desde 2019, tendo mostrado bons resultados – alguns pacientes chegaram a alcançar remissão da doença. Inicialmente, a alternativa é voltada àqueles que não tiveram resposta após tratamentos convencionais, como quimioterapia e transplante de medula óssea, e de acordo com avaliação médica. A incorporação do tratamento no SUS dependerá dos futuros resultados dos estudos clínicos, que serão analisados pela Anvisa.
O encontro desta segunda também oficializou a incorporação do CTC-USP aos Centros de Pesquisa e Inovação Especiais (Cepix) da USP, projeto lançado pela Reitoria da universidade no ano passado. O novo programa fomenta pesquisas antes contempladas pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), com o objetivo de ampliar a manutenção dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) que estavam prestes a ter o prazo de vigência expirado, como era o caso do CTC-USP.
Para o diretor-presidente do Hemocentro de Ribeirão Preto, Rodrigo Calado, o Nutera deve ampliar o acesso à terapia celular no país. “Para ilustrar, nos Estados Unidos já foram realizados mais de 30 mil tratamentos com CAR-T, enquanto no Brasil menos de 100 pacientes foram contemplados. Nosso objetivo é diminuir essa disparidade, tanto entre países quanto entre pacientes da rede pública e da saúde suplementar”, destacou.