Representantes da comunidade científica do Butantan se reuniram nesta quarta (20/12) para celebrar o encerramento do Programa Educacional Cientista Mirim 2023. Após seis meses de muito empenho, os 18 jovens que participaram da primeira edição do projeto foram homenageados por suas pesquisas e receberam de seus orientadores os almejados certificados de conclusão e um carinhoso “até logo”, diante de uma plateia emocionada.
Coordenado pela Escola Superior do Instituto Butantan (ESIB), órgão vinculado à Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, e idealizado pela pesquisadora do Laboratório de Dor e Sinalização Vanessa Zambelli, o Cientista Mirim é um curso teórico-prático que tem como objetivo reforçar a vocação científica entre alunos dos segundos e terceiros anos do Ensino Médio de escolas públicas e privadas da cidade de São Paulo e regiões próximas, por meio da transmissão de conhecimentos teóricos e imersão nos laboratórios da instituição.
O vice-diretor do Instituto Butantan, Rui Curi, abriu a solenidade de encerramento do Programa Cientista Mirim
“Posso falar duas palavras em relação a esse programa: oportunidade e paixão. Nossos pesquisadores criaram a oportunidade de um jovem curioso, que está no Ensino Médio, ter contato com a ciência”, resumiu o vice-diretor do Instituto Butantan, Rui Curi, que também falou sobre a beleza por trás do processo de produção de conhecimento e sua importância para o desenvolvimento da sociedade. “O prazer, a satisfação e a alegria diante de uma descoberta, queridos cientistas mirim, isso ninguém tira de nós!”
O coordenador da ESIB, Marcelo Santoro, apontou outros importantes propósitos do programa educacional, além de agregar à formação escolar em ciências: o desenvolvimento do pensamento crítico e, consequentemente, a contribuição para a formação de cidadãos capazes de transformar a sociedade. O pesquisador agradeceu às equipes dos dez laboratórios do Butantan que abriram espaço em suas bancadas para recepcionar os alunos, em especial aos 12 pesquisadores-orientadores que guiaram os selecionados ao longo de uma intensa jornada de aprendizagem.
As alunas Eduarda de Oliveira e Ana Beatriz representaram os 18 formandos do projeto
Vida de cientista
As estudantes Ana Beatriz Souza de Lima e Eduarda de Oliveira Marroco, que atuaram nos Laboratórios de Coleções Zoológicas e de Farmacologia, respectivamente, representaram o corpo estudantil e discursaram aos presentes. Ambas expressaram gratidão aos pesquisadores, alunos e técnicos que trabalham nos laboratórios do Butantan e ressaltaram o impacto do programa em suas jornadas pessoais, acadêmicas e profissionais.
“Aqui, entendi o processo por trás de descobertas noticiadas na televisão e pude aprender técnicas e métodos essenciais a todo tipo de estudo em um laboratório”, afirmou Eduarda que, sob a orientação da pesquisadora Cristina Maria Fernandes, desenvolveu um projeto sobre como os venenos animais e suas toxinas isoladas causam inflamação.
Desde criança fascinada por insetos – especialmente abelhas –, Ana Beatriz não pensou duas vezes na hora de escolher o Laboratório de Coleções Zoológicas para desenvolver sua pesquisa. Lá, lapidou seu poder de concentração e organização na catalogação e curadoria entomológica do setor. “Educação realmente muda vidas e trabalhar com biologia animal sempre foi meu sonho. Viva os insetos!”, disse.
A pesquisadora Vanessa Zambelli foi uma das principais idealizadoras do Programa Cientista Mirim
Entre junho e dezembro de 2023, os 18 cientistas mirim dedicaram seis horas semanais de suas rotinas para o desenvolvimento dos projetos. As conclusões das investigações foram divulgadas na 22ª Reunião Anual Científica do Instituto Butantan, realizada no início de dezembro. Depois de três anos de pausa por conta das restrições impostas pela pandemia de Covid-19, o evento deste ano teve um sabor especial, além de uma sessão dedicada às apresentações dos estudantes. Durante sua fala de agradecimento, a coordenadora do programa, Vanessa Zambelli, fez questão de citar o nome de cada um dos participantes e os principais achados de suas pesquisas.
Dentre os trabalhos, destaque para as alunas Ana Júlia Brito e Anne Caroline Viertel, que se aprofundaram nas dificuldades relacionadas ao tratamento de dor crônica no Laboratório de Dor e Sinalização e foram semifinalistas da Feira Brasileira de Ciência e Engenharia (FEBRACE). Além disso, Júlia Eduarda de Souza e Luna Hissataka redefiniram a classificação de uma bactéria com a ajuda dos profissionais do Laboratório de Bacteriologia. “Quem diria que cientistas mirins mudariam um conhecimento científico que já estava bem estabelecido?”, questionou Vanessa, com orgulho de seus pupilos.
A cientista mirim Giovanna Viselli na companhia de seus pais e professores
Apoio é essencial
A pesquisadora também recordou sua fala no evento de abertura do programa educacional. Em junho, Vanessa fez um pedido aos familiares e professores dos selecionados, convidando-os a serem parceiros de seus filhos e alunos na jornada que se iniciava. A plateia cheia, os olhares orgulhosos e os abraços apertados ao final da solenidade demonstraram que, de fato, o convite foi aceito. “Eu sei que não foi fácil, por isso meu muito obrigada a vocês.”
Responsáveis pela carta motivacional (um dos critérios de seleção) da cientista mirim Giovanna Viselli, os professores Lucas Iligue e Renata Cândido, do Colégio Ser, de Jundiaí (SP), destacaram a importância da iniciativa encabeçada pelo Butantan. “Como professor de biologia, sinto que a ciência, apesar de muito importante para a sociedade, ainda esbarra em obstáculos de abstração, de falta de material para se trabalhar nas escolas. E nós precisamos de cidadãos que a defendam”, observou Lucas. Para Renata, professora de redação, esse contato mais íntimo com a ciência é, também, uma possibilidade de ampliar o repertório dos estudantes em diversas áreas, como filosófica e acadêmica, e um forte combate ao desconhecimento.
Cientistas mirins exibem orgulhosos os certificados de conclusão de curso
Finalizando o segundo ano do ensino médio e prestes a iniciar mais um período decisivo de sua vida, Giovanna, que sob a supervisão dos especialistas do Centro de Excelência para Descoberta de Novos Alvos Moleculares (CENTD) investigou como o veneno de animais pode ser utilizado no desenvolvimento de novas terapias, definiu o curso como intenso e gratificante, afirmando que levará os aprendizados da experiência para toda sua vida, independentemente da área que seguir.
Ao seu lado, também estavam os pais Marcos e Marcília Viselli. “Tenho que agradecer ao Instituto por ter proporcionado aos alunos do Ensino Médio um programa como esse. Foi fantástico vê-la ensaiando para a apresentação do pôster e enriquecedor para todos nós”, disse a mãe, ao parabenizar a filha pela conquista.
A pesquisadora do Laboratório de Herpetologia Anita Mitico com a orientanda Letícia Albuquerque
Perspectivas para a segunda edição
O sucesso alcançado pela primeira turma do Cientista Mirim reforça a importância e a seriedade com a qual o processo seletivo foi conduzido. “Reunimos esse grupo de estudantes que é, realmente, diferenciado, e cumprimos nosso objetivo de motivar e inspirar jovens talentos”, afirma Vanessa.
Para o próximo ano, a expectativa é ampliar a atuação do projeto. Ainda de acordo com a pesquisadora, o principal passo será recrutar mais pesquisadores-orientadores dentro do Butantan e, assim, aumentar o número de alunos atendidos pelo programa. Por enquanto, ainda não há datas definidas para o início das inscrições no Cientista Mirim 2024.
Reportagem: Natasha Pinelli
Fotos: André Ricoy/Comunicação Butantan