O desenvolvimento de novas vacinas e medicamentos para prevenir e tratar doenças só é possível graças aos voluntários que concordam em fazer parte de estudos clínicos. Embora muitas pessoas ainda tenham dúvidas sobre o tema, diferentes pesquisas mostram que mais de 90% dos voluntários se sentem satisfeitos em participar desses testes. De acordo com um estudo americano da Universidade Howard, a maioria dos 300 voluntários questionados respondeu que participaria novamente de um ensaio clínico. As principais motivações foram aprender mais sobre a doença, ajudar outras pessoas e obter acesso a um atendimento de qualidade de profissionais da saúde.
Em outra pesquisa conduzida pelo Hospital Johns Hopkins, também dos Estados Unidos, 97% de 1.000 voluntários afirmaram que recomendariam a participação em estudos a um membro da família ou amigo, e 80% classificaram sua experiência geral em pesquisa com notas entre 8 e 10, em uma escala de 10 pontos.
A pandemia da Covid-19 reforçou a importância do voluntariado em pesquisa. De acordo com uma análise recente feita pelo Instituto de Pesquisa Infantil de Seattle e pela Universidade de Washington, foram mais de 8 mil estudos clínicos sobre a doença conduzidos em 150 países, refletindo o esforço global para controlar a crise sanitária. Sem os participantes dessas pesquisas, até hoje não teríamos vacinas nem tratamentos aprovados contra o SARS-CoV-2.
Voluntário participa de estudo de sorologia da CoronaVac em Serrana
Mas o recrutamento de novos voluntários ainda é um desafio, especialmente no Brasil. Entre os principais motivos estão a falta de incentivo e investimentos em ciência e tecnologia, a ausência de educação sobre a importância de ensaios clínicos e fake news espalhadas pelos movimentos antivacina, que afirmam que voluntários são “cobaias”. Na verdade, os participantes são protegidos por um Comitê de Ética, que visa garantir a sua segurança, e têm total liberdade para sair do estudo a qualquer momento.
Uma prova da gravidade desse problema é que quase 20% dos ensaios clínicos são encerrados por falha em obter participantes suficientes ou fecham com menos de 85% do tamanho da amostra alvo, comprometendo o valor estatístico do estudo, segundo uma pesquisa da Universidade McGill, do Canadá. Mesmo no auge da pandemia de Covid-19 em 2020, em meio às incertezas sobre a doença, houve resistência para participar de estudos. No Peru, uma análise com 3 mil pessoas mostrou que apenas 44% dos entrevistados tinham intenção de ser voluntários. A principal justificativa daqueles que não queriam participar foi medo de reações adversas (69%).
No entanto, é importante esclarecer que participantes de ensaios clínicos nunca são submetidos a riscos significativos, uma vez que cada fármaco ou imunizante que chega neste estágio passou por rigorosos testes pré-clínicos, em células e em modelos animais, que comprovam a sua segurança. Para participar, os voluntários assinam um termo de consentimento e recebem informações detalhadas sobre todos os seus direitos, os procedimentos que serão feitos no estudo, os possíveis efeitos adversos, qual o produto que será investigado e quais populações ele poderá beneficiar.
Pesquisadores investigam capacidade da vacina de induzir produção de anticorpos
Estudo do Butantan recruta voluntários
Atualmente, o estudo de fase 3 da vacina tetravalente contra a gripe, do Instituto Butantan, está em busca de participantes. Serão incluídas 977 crianças entre 3 e 8 anos, 510 adolescentes de 9 a 17 anos e 749 idosos acima de 60 anos, que serão acompanhados durante seis meses após a vacinação. O objetivo é ampliar a proteção da população contra a doença e verificar se a tetravalente pode ser ainda mais efetiva do que a atual trivalente.
Reportagem: Aline Tavares
Fotos: Marília Ruberti e Mateus Serrer/Comunicação Butantan