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CoronaVac é nossa principal arma para a vacinação de crianças e adolescentes em todo o Brasil, afirma imunologista

Para o pesquisador da USP Gustavo Cabral, esse público já poderia – e deveria – ter sido imunizado antes do ano letivo


Publicado em: 18/03/2022

Na última semana, o Instituto Butantan solicitou à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a aprovação da CoronaVac para crianças a partir dos três anos. Os motivos para ampliar o uso da vacina – que foi autorizada para a faixa etária dos seis aos 17 anos em 20/1 – estão em amplos estudos científicos da China e do Chile que comprovam a sua segurança e eficácia para o público pediátrico. No entanto, enquanto a vacinação infantil avança no estado de São Paulo, com mais de 70% das crianças imunizadas com pelo menos uma dose, ela ainda permanece lenta no resto do país. Até o início de fevereiro, apenas 15% das crianças brasileiras receberam a primeira dose, segundo informações do Ministério da Saúde.

Para o imunologista Gustavo Cabral, do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), foi um erro não ter vacinado a população infantil o mais rápido possível com a vacina que já estava disponível no país, a CoronaVac. “Se a CoronaVac tivesse sido aplicada em massa nas crianças, elas teriam começado o ano letivo com pelo menos uma dose e, durante as aulas, receberiam a segunda, já que o intervalo da vacina é muito rápido. Assim, estariam mais protegidas”, afirma.

O pesquisador lembra que a CoronaVac pode ser facilmente distribuída e armazenada, já que sua temperatura de conservação é entre 2°C e 8°C, média que os freezers disponíveis em todo o Brasil já utilizam para outras vacinas. Além disso, é produzida com a mesma tecnologia de outros imunizantes amplamente usados no mundo, a de vírus inativado, que são aplicados com segurança em crianças há mais de 60 anos.

Na China, por exemplo, primeiro país a aprovar a CoronaVac em crianças, mais de 200 milhões de doses já foram aplicadas nesse público. O acompanhamento dos efeitos adversos com mais de 120 milhões de crianças acima de três anos tem mostrado que a vacina é segura e eficaz, com efeitos adversos raros e leves.

O imunizante também é usado em outros seis países para crianças acima de três anos, como Chile, Colômbia, Tailândia, Camboja e Equador, e no território autônomo de Hong Kong. Já na Malásia, República Dominicana e Paraguai, a vacina é aplicada a partir dos cinco anos.

Segundo Gustavo, todas essas evidências científicas e características da vacina mostram que a CoronaVac é uma arma importante para proteger crianças contra a Covid-19 e que não pode ser desconsiderada. “Nós temos uma vacina disponível que podemos distribuir rapidamente, vinculada a um instituto de pesquisa brasileiro com relevância internacional. O que precisa ficar claro é que temos que vacinar as nossas crianças o mais rápido possível”, ressalta.

 

Covid-19 pode ter consequências graves e causar a morte de crianças

A vacinação é a forma mais segura para frear o coronavírus e garantir a proteção das crianças. As hospitalizações por Covid-19 na população infantil triplicaram em janeiro deste ano em relação ao mesmo período de 2021, segundo boletins epidemiológicos do Ministério da Saúde. Desde o início da pandemia, mais de 1.400 crianças de zero a 11 anos morreram com a doença. A infecção pelo SARS-CoV-2 também pode causar a Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (SIM-P), uma inflamação grave que pode levar à morte.

A Covid-19 longa é outro problema que também atinge essa população. Um estudo recente feito por pesquisadores dos Estados Unidos, México e Suécia mostrou que mais de 25% das crianças infectadas são acometidas pela condição. Isto é, continuam manifestando sintomas como ansiedade, depressão, fadiga, distúrbios do sono e problemas respiratórios e cognitivos após mais de um mês da infecção.