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Visão de amplo espectro, olhar para o futuro e experiência em ensaios clínicos: Esper Kallás assume a direção do Butantan

O médico infectologista é professor titular da Faculdade de Medicina da USP e diretor do Centro de Pesquisas Clínicas do HC


Publicado em: 26/01/2023

Um cientista com visão de produto de ponta a ponta, desde a pesquisa básica, passando pelo controle de qualidade até o ensaio clínico. Um infectologista que esteve na linha de frente do combate à Covid-19 durante a pandemia e na luta contra o HIV nos anos 1990. Um pesquisador que já conduziu diversos ensaios clínicos, inclusive de vacinas do Butantan. Um mineiro cosmopolita que gosta de tirar fotos, é bem humorado e, é claro, adora pão de queijo. Essas são algumas das diversas formas pelas quais é possível descrever o novo diretor técnico do Instituto Butantan, Esper Georges Kallás.

A nomeação para o cargo foi publicada na edição de 10/1 do Diário Oficial do Estado de São Paulo, e a posse ocorreu em 16/1. Com isso, o médico infectologista passa a ocupar a posição que até o final de 2022 pertencia ao médico hematologista Dimas Covas, hoje diretor-executivo da Fundação Butantan, e à frente da qual esteve também o farmacêutico e bioquímico Rui Curi.

Formado pela Faculdade de Medicina de Itajubá em 1989, Esper fez residência em infectologia no Hospital do Servidor Público Municipal de São Paulo e mestrado na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Sua dissertação, defendida em 1996, analisou os fatores de risco para a infecção por HIV na Casa de Detenção de São Paulo, o Carandiru – onde atuou lado a lado com o amigo de longa data e oncologista Drauzio Varella. Alguns anos depois, em 1999, concluiu o doutorado pela Unifesp, com cotutela na Universidade de Rochester, nos Estados Unidos, pesquisando a produção antígeno-específica de citocinas pelos linfócitos T após infecção e vacinação.

 

 

Atualmente, Esper é professor titular do Departamento de Moléstias Infecciosas e Parasitárias da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), onde é livre-docente desde 2009. Entre suas linhas de pesquisa estão vacinas, imunologia clínica e em doenças infecciosas e HIV – temas bastante alinhados à atuação do Butantan tanto em pesquisa, quanto em produção de imunobiológicos. Durante a pandemia de Covid-19, Esper atuou na linha de frente e foi um dos integrantes do Centro de Contingência do Estado de São Paulo, organização que monitorava e coordenava ações contra a propagação do SARS-CoV-2.

Outro ponto de confluência entre as trajetórias de Esper e do instituto é que ele é um dos pesquisadores do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Imunobiológicos (CeRDI) do Butantan. A pesquisadora científica Ana Maria Moro, diretora do CeRDI e do Laboratório de Biofármacos do instituto, explica que a atuação do novo diretor técnico no centro de pesquisa integra os dois objetivos do CeRDI: sua experiência nos ensaios clínicos das vacinas de influenza e seu interesse no desenvolvimento e uso de anticorpos monoclonais para o tratamento de doenças infecciosas.

Visão de ponta a ponta e preocupação com as pessoas

Ana Maria e Esper se conhecem há 20 anos. Eles atuaram juntos em um programa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) chamado Institutos do Milênio, que mais tarde se transformaria nos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs). Ambos faziam parte do grupo de pesquisa Instituto de Investigação em Imunologia e se viam nos encontros anuais, quando os cientistas apresentavam seus projetos aos colegas.

De acordo com Ana Maria, a característica mais marcante do novo diretor técnico do Butantan é sua visão integral da pesquisa e da tradução da pesquisa para o paciente. Ao mesmo tempo que ele sabe o que significa encontrar um anticorpo a partir de células do sangue, que é o início de tudo, ele também entende o desenvolvimento de um produto e o ensaio clínico. Essa perspectiva é reforçada pela experiência: além de ser investigador principal de diversos estudos clínicos por meio do Hospital das Clínicas da USP, ele lidera o Laboratório de Imunologia Clínica e Alergia (LIM 60), também vinculado à USP, que realiza testes extremamente qualificados para a indústria da saúde.

Ana Maria relata que, em uma das reuniões anuais dos Institutos do Milênio, Esper levou uma especialista que havia contratado com o objetivo de implantar um processo de garantia de qualidade em seu laboratório. A ideia era mostrar a proposta e talvez inspirar a mesma iniciativa nos colegas. “Ele é um dos primeiros cientistas em que eu vi uma preocupação com a qualidade, e isso para o Butantan é muito importante”, ressalta ela. É isso que quer dizer a visão de ponta a ponta, enfatiza a pesquisadora: desde a dificuldade do início, do básico, de encontrar o gene, passando por todo o desenvolvimento e o ensaio clínico, sempre permeado pelo processo da qualidade, até chegar ao produto final.

Divertimento em fazer ciência e olhar para o futuro

A médica neurologista Fernanda Boulos chegou ao Butantan em abril de 2022 e, em novembro, assumiu a diretoria médica. À frente dos ensaios clínicos dos novos produtos do instituto, ela trabalha lado a lado com os investigadores principais das pesquisas – e foi assim que conheceu Esper. Ele participou dos estudos de fase 3 da CoronaVac e da vacina da dengue do Butantan no Hospital das Clínicas da USP, por exemplo. Além disso, seu laboratório, o LIM 60, forneceu, entre outros serviços, estudos de avaliação de imunidade celular ao instituto. A relação profissional foi crescendo por meio de amigos e interesses em comum.

Para Fernanda, o novo diretor técnico do Butantan é tanto capaz de se aprofundar na parte celular quanto no nível clínico e do consultório, sempre avaliando o que aquela descoberta do universo laboratorial pode trazer de benefício para as pessoas. “Ele tem uma visão global. Agrega cientificamente, ajudando a dar forma para a estratégia dos produtos, e entende que tudo isso precisa vir com um benefício clínico.”

Para além dos títulos, Esper é de bem com a vida, entusiasmado e tem grande capacidade de trabalho. É engraçado, uma pessoa aberta que fala de igual para igual com todo mundo, tenta agregar em qualquer conversa e sem formalidades. “Ele procura o divertimento em fazer ciência, e tem uma visão de fazer ciência para chegar a um benefício para o paciente”, resume Ana Maria. É alguém que está ali para aprender e para compartilhar das coisas do dia a dia.

Com um perfil como esse, a expectativa para a nova gestão é positiva na comunidade do Butantan. Afinal, a direção do instituto continua nas mãos de uma pessoa que acredita na ciência, com uma carreira feita na pesquisa clínica, e que investiu sua vida nesse objetivo. “Ele vai agregar conhecimentos tanto em quais vacinas e antígenos perseguir, quanto para desenhar os estudos e obter dados de qualidade no menor tempo possível para conseguir o registro, que é o nosso objetivo”, afirma Fernanda.

Além disso, Esper é um gestor moderno, alinhado aos tempos atuais, tanto do ponto de vista de políticas de gestão quanto do ponto de vista de inclusão. A expectativa é que, além de continuar a expansão, internacionalização e qualificação do Butantan, ele contribua para a evolução do instituto em políticas igualitárias, inclusive de gênero e raciais. “Alguém que era um conselheiro que queríamos ouvir agora é uma pessoa que está aqui dentro.”