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Por que as cobras são coloridas? Variedade de cores ajuda serpentes a buscar presas e sobreviver na natureza

As serpentes têm a habilidade de se camuflar em ambientes favoráveis a elas para caçar e se proteger de predadores


Publicado em: 24/03/2022

No mundo das serpentes, é normal vermos uma grande diversidade de cores entre as diferentes espécies: a cobra coral possui anéis pretos, vermelhos e brancos ou amarelados; a caninana é amarela com grandes manchas pretas; já a cascavel é marrom, com losangos em marrom mais escuro ao longo de seu corpo. Essas cores ajudam as cobras a se camuflar para se proteger e caçar as presas que se transformarão em alimento. Além disso, indicam quais são os comportamentos daquela espécie, ou seja, como e onde elas vivem e sobrevivem melhor.

“Uma serpente verde indica que a espécie tem hábitos arborícolas, pois elas se camuflam nas folhas de um arbusto. Uma serpente com cor de galho e fina se camufla nos galhos das árvores”, explica o diretor do Centro de Desenvolvimento Cultural e diretor do Museu Biológico do Butantan, Giuseppe Puorto.

 

Algumas cores também dão informação de advertência. Mas o que isso quer dizer? Significa que se a cobra tem alguma coloração vermelha, preta, amarela ou branca, possivelmente ela é perigosa. “Possivelmente”, porque nem todas são. Giuseppe explica que algumas cobras imitam esse padrão de cores para poderem se proteger de seus predadores. “Algumas espécies ficam de barriga pra cima quando se sentem ameaçadas e, quando viram, apresentam uma cor avermelhada, amarelada ou preta. Cor de advertência”, conta o diretor. E isso também é benéfico para os predadores: ao ver a cor, eles decidem se atacam ou não, sabendo que se trata de um animal que pode ser perigoso. “Serve de aprendizado”, completa.

 

Isso tudo ocorre em consequência de uma evolução que acontece ao longo de muitos e muitos e muitos séculos. Neste processo, as cobras vão se utilizando de mecanismos para se defender, como manter diferentes posturas corporais – por exemplo, achatar a região da cabeça, escancarar a boca, fazer movimentos erráticos, entre outros.

A caça também é um aspecto influenciado pela cor. As cobras atacam suas presas de diferentes formas. Uma delas se chama “caça de espreita”, que acontece quando a serpente fica imóvel em um ponto no substrato, e dá o bote quando a presa passa. Outra forma é debaixo da água, como faz a sucuri, que consegue ficar “invisível” nos riachos da Amazônia (seu habitat natural) porque sua pele verde com bolinhas pretas se confunde com o fundo do rio. “Cada grupo tem uma estratégia para caçar seus tipos de alimentos e muitas vezes ela está associada ao seu tipo de defesa”, conta Giuseppe.

 

Então a cobra se adapta ao ambiente igual ao camaleão?

Não! As cobras não têm essa característica. As cores que as serpentes apresentam hoje são resultado de um processo evolutivo de milhares de anos. Ao longo do tempo, mutações vão ocorrendo no corpo do bicho e isso pode ser benéfico – assim, sobrevivem as espécies que estão melhor adaptadas ao ambiente. “As coisas não são pensadas. Tudo na natureza acontece por acaso. E quando algumas alterações são feitas e não prejudicam o animal, isso se mantêm”, explica Giuseppe. “Isso não ocorre em um, dois, dez anos. É um processo de milhares de anos”, finaliza.

O que a cobra pode realmente fazer é mudar de cor na fase adulta. A periquitambóia, que vive na Amazônia, tem uma característica muito interessante de proteção. Quando adulta, ela vive nas árvores e possui a coloração verde vivo. Mas quando ainda é filhote ela apresenta cores de advertência, alaranjado, amarelado. A cor vai mudando aos poucos, ao longo das trocas de pele, até estar totalmente verde.

 

É possível a mesma espécie ter variação de cores?

Sim! A jararacuçu é um exemplo disso. A fêmea da espécie tem um corpo maior e apresenta uma coloração mais amarela com um pouco de preto. Já o macho é menor, tem pouca cor amarela e uma mescla de cores maiores. 

 

Cores fora do padrão

Hoje em dia, existem cobras com cores jamais vistas na natureza. Isso acontece quando pessoas que adotam cobras como animais de estimação fazem um cruzamento controlado dando origem a exemplares totalmente fora do padrão. Essas cobras, por serem únicas, ganham valor de mercado. Seu destino é, em boa parte das vezes, o tráfico ilegal de animais.