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Dia do Folclore: conheça 8 animais fantásticos das lendas brasileiras

Tem serpente gigante, cervo com olhos de fogo, tamanduá com corpo de anta e pé de garrafa e até lagarto com pedra preciosa na cabeça!


Publicado em: 21/08/2023

O Brasil é mágico. Com mais de 8 mil km², ocupa quase metade do continente sul americano, reúne florestas tropicais exuberantes, rios de águas extensas e profundas, além de regiões de savanas, bosques, pântanos e campos de altitude, onde vivem mais de 116 mil tipos de animais. A riqueza de espécies é tamanha que o Brasil leva o título de país mais biodiverso do mundo – ou seja, tem a maior diversidade de seres vivos existentes no planeta, entre plantas, animais e microrganismos. 

Além de abrigar bichos únicos, como o bicho-preguiça, o boto-cor-de-rosa, a ararinha-azul, o tatu-canastra e o tuiuiú, as matas brasileiras hospedam outras criaturas fantásticas. Envoltas por um certo mistério, quase nunca ninguém as vê, mas todos já ouviram falar delas. Gigantes, superpoderosas e com características especiais, algumas metem medo e têm histórias de arrepiar, enquanto outras são nobres guardiãs da natureza, espantando os malfeitores das florestas.

Neste 22 de agosto, Dia do Folclore, o Portal do Butantan celebra alguns desses seres incríveis e misteriosos. Confira: 

 

Boiúna (Cobra-Grande)

No fundo das águas dos rios amazonenses vive uma serpente – provavelmente uma jiboia – de cor escura e proporções enormes. Quando sobe à superfície, seus olhos se iluminam como grandes tochas, desviando navegantes e pescadores mal intencionados. É personagem de diversas histórias, como a lenda do surgimento da noite. Quando só existia o dia, Boiúna colocou a noite dentro de um caroço de tucumã-do-amazonas e mandou-o de presente à filha recém-casada. Curiosos, os encarregados da entrega abriram a encomenda e libertaram a escuridão, que tomou conta de tudo. A moça, porém, conseguiu separar o dia da noite. Já outro mito conta que a Cobra-Grande nasceu do ovo de um pássaro em que dentro também tinha um cabelo, ou de uma mulher que engravidou de um fantasma. Abandonado, o bicho voou para o céu e deu origem à constelação da serpente.

 

Boto-cor-de-rosa

Nas noites quentes do Norte, essa espécie de golfinho deixa a profundeza das águas onde mora e se transforma em um homem forte, alto e bonito para encantar as mulheres ribeirinhas que frequentam os bailes da região. Pé de valsa e bom papo, veste terno branco e um chapéu que nunca sai de sua cabeça – caso contrário, o furo por onde o homem-golfinho respira acabará sendo revelado. Na região, quando uma mãe não sabe ou não quer revelar a paternidade de seu filho é comum o uso da expressão “filho do boto”. Infelizmente, o boto-cor-de-rosa – que é um bicho real e um dos símbolos da Amazônia – encontra-se sob séria ameaça. Considerado o maior golfinho de água doce do mundo, sua presença é também um indicador de boa qualidade das águas e de equilíbrio dos rios.

 

Anhangá

O cervo branco com olhos de fogo e chifres pontudos cobertos de pelo é mais um guardião das florestas brasileiras. A fim de proteger os rios, as matas e os animais, atinge os caçadores com pauladas, chifradas e coices invisíveis. Até aqueles mais destemidos, que tentaram intimidar o animal com arma de fogo, foram surpreendidos. Segundo relatos, o animal é capaz de mastigar o cano de uma espingarda como se fosse cana-de-açúcar.

 

Boitatá (Cobra de fogo)

A pequena serpente cintilante vive próxima às regiões de mares e rios. Apesar da fama de má – dizem que a criatura come os olhos de suas vítimas que, para se proteger, devem mantê-los bem fechados durante o ataque –, sua principal missão é proteger as matas brasileiras daqueles que ateiam fogo nos campos e florestas. Quando isso acontece, a criatura se transforma em uma madeira em brasa fumegante, causando uma espécie de combustão nos incendiadores.

 

Capelobo

Há centenas de anos esse monstro do folclore brasileiro amedronta a população do Pará e do Maranhão. Sua forma varia bastante: pode ter focinho de tamanduá-bandeira, anta ou cachorro; corpo de homem ou de anta, sempre coberto por muitos pelos; e apenas um pé com forma de fundo de garrafa. Ao avistar sua vítima, inicia a gritaria e corre em sua direção para abraçá-la. Em seguida, ataca. Diz a crença popular que a única maneira de derrotar a criatura é atingindo-a bem no meio de seu umbigo.

 

Teiniaguá

O lagarto encantado carrega um brilhante rubi na cabeça e oferece tesouros infinitos àquele que consegue capturá-lo. Já durante a noite, transforma-se em uma linda princesa árabe, que guarda em uma urna o ouro trazido ao Brasil por muçulmanos vindos da Península Ibérica. Segundo a lenda do Rio Grande do Sul, um sacristão da região avistou a criatura saindo de um lago na sua forma humana e a capturou. Enamorado, passou a dedicar todos seus esforços para cuidar do ser mágico, esquecendo-se de Deus e dos homens. Diante da heresia, foi preso e condenado. Porém, para a surpresa de todos, a própria Teiniaguá libertou seu amo e o levou à Serra do Jarau, onde os dois vivem até hoje, mantendo seus tesouros escondidos em uma caverna.

 

Pai do Mato

Se você estiver em uma floresta perto de Rondônia ou de Pernambuco e ouvir uma gargalhada estridente e estonteante, dê no pé! Afinal, são grandes as chances de encontrar pelo caminho essa criatura gigante, com corpo de árvore, cara de gente, orelha de cavalo e patas de cabrito. Cabelo despenteado, barbicha engraçada e unhas com mais de dez metros de comprimento completam o visual do monstro que, além de tudo, faz xixi azul. Caso precise enfrentá-lo, a dica é mirar bem no meio do umbigo, seu ponto fraco.

Cavalo-marinho dourado

Esse animal encantado vive nas águas dos mares e rios brasileiros, possui cauda e crina de fios de ouro puro e estampa uma estrela dourada e brilhante em sua testa. De tempos em tempos, a criatura sobe à superfície. Reza a lenda que quem encontrar o cavalo-marinho dourado se tornará instantaneamente rico – mas, até hoje, não há notícia de ninguém que tenha conseguido tirar um único fiozinho de ouro de um cavalo-marinho.

 

Saiba mais sobre o Dia do Folclore

De origem inglesa, a palavra folclore surgiu no século 19 e propõe a união de dois termos: “folk” (povo, na tradução) e “lore” (conhecimento), significando “conhecimento do povo”. Instituído no ano de 1965, o Dia do Folclore brasileiro tem como objetivo resgatar e valorizar diferentes aspectos da cultura tradicional, como músicas, cantigas, brincadeiras, histórias e personagens. Combinando elementos indígenas, africanos e europeus, assim como realidade e fantasia, essas lendas e mitos populares alertavam sobre possíveis perigos e ajudavam a explicar fenômenos e acontecimentos até então inexplicáveis.

 

Referências:

As 100 Melhores Lendas do Folclore Brasileiro. A. S. Franchini, Editora ‏L&PM

Dicionário do Folclore Brasileiro. Luís da Câmara Cascudo, Editora Ediouro

Lendas Brasileiras para Jovens. Luís da Câmara Cascudo, Editora Global

Lendas e Mitos do Brasil. Maria José de Castro Alves e Maria Antonieta Pereira, Editora A Tela e o Texto - UFMG

 

Reportagem: Natasha Pinelli

Imagens: Daniel das Neves/Comunicação Butantan