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Deltacron surgiu da recombinação das cepas durante uma dupla infecção, explica pesquisadora do Butantan

Foram identificadas 109 amostras da nova variante em todo o mundo; um caso no Brasil ainda está em investigação


Publicado em: 24/03/2022

A nova variante popularmente chamada de deltacron do vírus SARS-CoV-2, que combina o material genético das duas cepas, foi reconhecida pela Organização Mundial da Saúde em 9/3 e suas características epidemiológicas ainda estão sendo analisadas. Até então, não houve confirmação da presença da cepa no Brasil, mas um caso suspeito no estado do Pará está sendo investigado; outro possível caso no Amapá já foi descartado pelo Ministério da Saúde.

Segundo a pesquisadora do Instituto Butantan Maria Carolina Sabbaga, uma das coordenadoras da Rede de Alerta das Variantes e vice-diretora do Centro de Desenvolvimento Científico (CDC), a deltacron se originou quando as duas variantes infectaram uma mesma pessoa e passaram por um processo chamado de recombinação. Quando o vírus infecta uma célula, ele precisa fazer várias cópias de seu material genético (no caso do SARS-CoV-2, o RNA) para gerar novas partículas virais. Essas cópias são feitas pela enzima RNA polimerase, que sintetiza o novo RNA usando o existente como molde. Quando RNAs de diferentes cepas estão presentes na mesma célula, a enzima pode errar e gerar um novo RNA copiando parte do molde de uma variante e parte do molde de outra.

Assim, forma-se a nova cepa, que neste caso tem características tanto da delta como da ômicron. “É como se você tivesse dois cadernos juntos, lado a lado, e você estivesse copiando apenas um deles. Você pode começar copiando um e, sem perceber, copiar partes do outro caderno”, explica a cientista.

Até o momento, a deltacron foi identificada em 73 amostras na França, Bélgica, Alemanha, Dinamarca e Holanda, segundo informações da plataforma GISAID, onde cientistas do mundo compartilham sequências do SARS-CoV-2 e do vírus influenza. “Outras investigações são necessárias para determinar se estes recombinantes derivam de um único ancestral comum ou podem resultar de vários eventos semelhantes de recombinação”, informou a GISAID em comunicado oficial.

Também foram relatados dois caso