Em carta ao editor publicada no Journal of Medical Virology, pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) relataram que quase todas as mutações encontradas na variante ômicron do SARS-CoV-2, exceto uma, já haviam sido identificadas anteriormente em outras cepas. Segundo os cientistas, isso explica por que as vacinas têm sido eficazes contra a nova variante – que, apesar de ser mais transmissível, causou menos casos graves e mortes.
De acordo com o estudo, coordenado por Ricardo Durães-Carvalho, pesquisador da Escola Paulista de Medicina da Unifesp, o SARS-CoV-2 “tem apresentado substituições biologicamente relevantes de aminoácidos na proteína Spike, como resultado de uma evolução convergente e direcional, o que significa que vários locais específicos compartilham as mesmas mutações”.
Com exceção da substituição do gene S371L, todas as mutações da ômicron observadas no motivo receptor-obrigatório (RBM) e no domínio receptor-obrigatório (RBD) da proteína Spike já haviam sido descritas na literatura.
Uma pesquisa anterior liderada pelo cientista e publicada na plataforma de preprints medRxiv em outubro de 2021, antes da ômicron ser descoberta, também identificou mutações idênticas em diferentes cepas do SARS-CoV-2. Foram analisados mais de 200 mil genomas do vírus e de outros coronavírus humanos.
Impacto da vacinação
Considerando as múltiplas mutações das variantes do SARS-CoV-2, e supondo que variantes ainda não identificadas possam estar circulando no mundo, os cientistas apontam que seria esperado um alto número de infecções graves de diferentes cepas do vírus. No entanto, a imunização previne esse cenário.
“Regiões com alta cobertura vacinal e com aplicação de doses de reforço apresentam menos infecções graves, hospitalizações e mortes relacionadas a diferentes cepas. É altamente provável que os imunizantes disponíveis sejam eficazes contra a ômicron, que apresenta as mesmas mutações, assim como contra outras que possam surgir, o que aumenta a urgência dos programas de vacinação”, afirmam os pesquisadores na carta.
Estudos recentes mostraram que a CoronaVac apresenta alta capacidade de neutralização contra a variante ômicron. (Saiba mais)
Recombinação
Para compreender a evolução da variante ômicron, os cientistas analisaram 146 sequências completas do genoma do vírus obtidas de Hong Kong, Botsuana, África do Sul, Canadá, Austrália, Itália, Bélgica, Israel, Áustria, Inglaterra e Alemanha, disponibilizadas no banco de dados do Global Initiative on Sharing Avian Influenza Data-EpiCoV. Também foram analisadas sequências das variantes alpha (1.719), beta (5.870), gama (5) e delta (10.133).
Os resultados mostraram que, além da evolução convergente e mutações compartilhadas observadas anteriormente, houve recombinação quando as variantes beta, delta e ômicron foram alinhadas, indicando que a cocirculação de variantes pode aumentar a ocorrência desses eventos (troca de material genético entre as cepas). Isso acontece quando dois vírus infectam a mesma célula e pode levar ao surgimento de novas variantes.