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Vacina da chikungunya mantém proteção em 99,1% dos vacinados seis meses após aplicação

Dados da fase 3 conduzida pelo Instituto Butantan em adolescentes de 12 a 17 anos mostram que a resposta imune e a segurança são duradouras


Publicado em: 15/05/2024

Novos dados do ensaio clínico de fase 3 da vacina contra a chikungunya, desenvolvida pelo Instituto Butantan e pela empresa de biotecnologia franco-austríaca Valneva, confirmam a segurança e a imunogenicidade do imunizante seis meses após a vacinação, independentemente da exposição prévia ao vírus. O estudo, conduzido pelo Butantan em adolescentes brasileiros de 12 a 17 anos, indica que uma única dose mantém a resposta imune em 99,1% dos voluntários após 180 dias.

O imunizante também se manteve seguro, de acordo com avaliações realizadas por um Comitê Independente de Monitoramento de Dados de Segurança. A maioria dos eventos adversos foi leve ou moderado e se resolveu em até três dias após a vacinação. Os efeitos mais comuns foram dor e sensibilidade no local da injeção, dor de cabeça, dor no corpo, febre e fadiga.

No primeiro mês de acompanhamento, a vacina havia demonstrado uma resposta imune robusta em 98,8% dos voluntários sem contato prévio com o vírus. Naqueles que tinham histórico de infecção prévia, a positividade de anticorpos foi de 100%.


No final de 2023, o Butantan submeteu à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) o pedido de registro definitivo para uso do imunizante no Brasil. Nos Estados Unidos, a vacina foi aprovada em novembro para adultos pela Food and Drug Administration (FDA), tornando-se o primeiro imunizante autorizado para uso no mundo contra chikungunya.

O estudo clínico brasileiro incluiu 750 jovens de 12 a 17 anos que residem em áreas endêmicas nas cidades de São Paulo (SP), São José do Rio Preto (SP), Salvador (BA), Fortaleza (CE), Belo Horizonte (MG), Laranjeiras (SE), Recife (PE), Manaus (AM), Campo Grande (MS) e Boa Vista (RR). Entre os voluntários, 500 receberam uma dose única da vacina e 250 receberam placebo.

Todos os voluntários serão acompanhados até cada um completar um ano de participação no estudo. A próxima avaliação da resposta imune será feita aos 12 meses após a administração da vacina.

Histórico do desenvolvimento

A candidata a vacina de vírus atenuado da chikungunya é resultado de um acordo de transferência de tecnologia firmado entre Butantan e Valneva em 2020. Caso a Anvisa autorize o uso do imunizante no Brasil, ele poderá futuramente ser disponibilizado à população por meio do Sistema Único de Saúde (SUS).

O ensaio clínico de fase 3 realizado anteriormente nos Estados Unidos demonstrou que a vacina possui bom perfil de segurança e alta imunogenicidade. Entre os 4 mil voluntários adultos e idosos de 18 a 65 anos, 98,9% produziram anticorpos, com níveis que se mantiveram robustos por pelo menos seis meses de acompanhamento. O imunizante foi bem tolerado e as reações mais relatadas foram dor de cabeça, fadiga, dor muscular e dor no local da injeção. Os resultados foram publicados na revista científica The Lancet. 


Chikungunya pode gerar dores crônicas

A chikungunya é uma doença viral transmitida pelos mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus. O vírus acessa a corrente sanguínea e se multiplica afetando a membrana das articulações. Alguns casos podem ser assintomáticos, mas outros podem causar febre acima de 38,5° e dores intensas nas articulações de pés e mãos, além de dor de cabeça, dor muscular e manchas vermelhas na pele. 

Como não há tratamento específico, a infecção é combatida com analgésicos e remédios para febre, e a prevenção é feita por meio do controle dos vetores. O principal impacto de saúde pública são as sequelas deixadas pela doença – as fortes dores articulares podem se tornar crônicas e durar anos.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o vírus chikungunya já foi identificado em 110 países na Ásia, África, Europa e nas Américas. No Brasil, os casos aumentaram mais de 100% entre 2021 e 2022. No último ano, foram confirmados 127 mil casos no país, com 122 óbitos, de acordo com o Ministério da Saúde. Na última década, cerca de 3,7 milhões de casos da doença foram detectados apenas nas Américas.

 

Reportagem: Aline Tavares

Fotos: Renato Rodrigues/Comunicação Butantan