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Disfarçando as evidências: veja diferenças entre a coral-verdadeira e a falsa-coral e conheça algumas espécies

No Brasil, mais de 60 espécies copiam o padrão de vermelho, preto e branco da coral-verdadeira, uma das serpentes mais perigosas


Publicado em: 12/03/2025

Reportagem: Aline Tavares
Fotos: José Felipe Batista, Miguel Trefaut, Alessandher Piva, Henrique C. Costa e Fabiano Morezi

 

Mestres na arte da ilusão, as falsas-corais são cobras não peçonhentas (em sua maioria) que se aproveitam de um fenômeno evolutivo chamado mimetismo: elas possuem aparência muito semelhante à da coral-verdadeira, uma das serpentes mais perigosas do Brasil. De longe, as duas parecem iguais: corpo arredondado e listras vermelhas, pretas e brancas, que espantam os inimigos. Mas, como em um jogo dos sete erros, pequenas diferenças entregam o disfarce.

Existem mais de 60 espécies de falsas-corais no território brasileiro. De coral-verdadeira, são 41, divididas em dois gêneros: Micrurus (o mais conhecido, que predomina na Mata Atlântica) e Leptomicrurus (que habita a Amazônia e possui algumas espécies com listras amarelas).

Geralmente, o que varia entre elas são características como o formato e a cor da cabeça, a boca, a disposição e a extensão das listras e o tamanho dos olhos. No entanto, algumas espécies são tão semelhantes que diferenciá-las é quase impossível. Por isso, o recomendado pelos especialistas ao se deparar com qualquer serpente é sempre se afastar, para evitar acidentes, e buscar ajuda profissional caso o animal esteja em ambiente urbano. É possível acionar o Corpo de Bombeiros, a Defesa Civil ou o Controle de Zoonoses.

Na natureza, as falsas-corais se dão bem: sua coloração é reconhecida como um alerta pelos outros animais, que acabam mantendo distância. Afinal, o veneno da coral-verdadeira é altamente tóxico e atinge o sistema nervoso. A exceção são as aves de rapina, que conseguem predar as cobras sem serem picadas, e os gambás, comprovadamente resistentes aos venenos das serpentes.
 

Enrolar a ponta da cauda é um comportamento de defesa da coral-verdadeira, imitado por algumas de suas mímicas (Foto: José Felipe Batista)


Quietinha e mortal: conheça o poder da coral-verdadeira, uma das serpentes mais tóxicas do Brasil

Algumas espécies de falsa-coral vão além da aparência física para se disfarçar, copiando também comportamentos. Um exemplo é a Erythrolamprus aesculapii, que enrola a ponta da cauda e a expõe para cima para proteger a cabeça, uma estratégia de defesa usada pela coral-verdadeira. Além disso, assim como as corais-verdadeiras, as falsas também possuem o costume de ficar no solo e se esconder em meio à vegetação. 

Apesar da diferenciação entre coral verdadeira e falsa, se engana quem pensa que as falsas são inofensivas: existem algumas espécies que são peçonhentas e agressivas, e podem causar acidentes. A diferença é que o veneno delas é bem menos potente do que o da coral-verdadeira e não exige aplicação de soro – mas isso não significa que é seguro tentar segurá-las ou tocá-las.

Conheça algumas dessas imitadoras profissionais:

 

Foto: Miguel Trefaut

Atractus latifrons

Família: Dipsadidae

Onde habita: no Brasil, é encontrada na Floresta Amazônica e no noroeste do Cerrado. Ocorre também na Bolívia, Colômbia, Guiana Francesa, Peru e Suriname

Peçonhenta: não

 

Foto: Alessandher Piva (iNaturalist)

Erythrolamprus aesculapii 

Família: Dipsadidae

Onde habita: ocorre na maior parte dos biomas brasileiros, exceto Caatinga e Pantanal. Amplamente distribuída na América Latina, em países como Argentina, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana Francesa, Paraguai, Peru, Suriname e Venezuela

Peçonhenta: sim (envenenamento leve)

 

Foto: Henrique C. Costa (iNaturalist)
 

Simophis rhinostoma

Família: Colubridae

Onde habita: Mata Atlântica e Cerrado, no Brasil e Paraguai. Há alguns registros na Caatinga

Peçonhenta: não

 

Foto: Fabiano Morezi

Oxyrhopus guibei*

Família: Dipsadidae

Onde habita: Cerrado e Mata Atlântica, com registros isolados na Amazônia, Caatinga e Pantanal. Ocorre também na Argentina, Bolívia e Paraguai

Peçonhenta: não

*A espécie está bem adaptada a áreas urbanas, e você pode ter a oportunidade de conhecê-la de perto na atividade Mão na Cobra do Parque da Ciência

 

Essa matéria contou com a colaboração e validação do biólogo e tecnologista do Laboratório de Ecologia e Evolução do Instituto Butantan, Fabiano Morezi