Há mais de cem anos o Instituto Butantan produz diversos tipos de soros contra toxinas de animais peçonhentos, como cobras, aranhas, escorpiões e lagartas, responsáveis por evitar sequelas motoras e neurológicas ou a morte por envenenamento. Porém, mais do que produzir, seus cientistas e pesquisadores entenderam ser necessário usá-los de forma adequada e desvendar o que acontece antes e depois do uso do soro para o sucesso do tratamento.
Por isso, em 1945 foi criado dentro do Instituto Butantan o Hospital Vital Brazil (HVB), que começou a aplicar os soros em vítimas de acidentes, se tornando uma referência neste tipo de atendimento. Atualmente, o Butantan é o maior produtor de soro antiofídico do Brasil, com mais de 275 mil ampolas entregues por ano ao Sistema Único de Saúde (SUS).
“Entendemos que não basta somente entregar o soro na unidade de saúde se não tiver quem possa aplicar da maneira correta, receber um ensinamento nesse sentido, sabendo o que acontece depois”, afirma a infectologista Fan Wen Hui, gerente de produção de soros do Instituto Butantan, que fez carreira no hospital.
E este conhecimento envolve um trabalho de investigação, primeiro dos sintomas e também do local e circunstâncias onde o acidente ocorreu, que podem indicar a predominância de uma certa espécie, facilitando a aplicação do soro correto.
“Com todas essas informações, e uma boa anamnese [entrevista sobre queixas e sintomas], o médico direciona o raciocínio para uma possibilidade terapêutica mesmo se o animal não estiver junto com o paciente e assim ele é capaz de chegar a um diagnóstico provável. É importante saber quando há e quando não há indicação de uso do antiveneno”, explica Fan.
Sintomas mais comuns
Apesar dos acidentes com animais peçonhentos serem mais comuns em áreas rurais, não é raro acontecer também em ambientes urbanos, principalmente com aranhas e escorpiões, que se proliferam nestes locais devido ao desequilíbrio ecológico.
Dos acidentes com serpentes, a maioria das ocorrências do Brasil são com jararacas e cascavéis. E, na região Amazônica, também são comuns os acidentes com a surucucu-pico-de-jaca. Veja abaixo os sintomas mais comuns em cada tipo de picada, marcadores importantes para o diagnóstico médico.
Acidente causado por jararaca: conhecido também como acidente botrópico, ele causa dor e inchaço no local da picada, manchas arroxeadas e sangramento no ferimento causado pela picada, sangramento gengival, na pele e urina. As complicações mais importantes são infecção e necrose na região da picada e insuficiência renal.
Acidente causado por surucucu-pico-de-jaca: conhecido também como acidente laquético, quadro semelhante ao acidente botrópico, é acompanhado de vômitos, diarreia, diminuição dos batimentos cardíacos e queda da pressão arterial.
Acidente causado por cascavel: conhecido também como acidente crotálico, se caracteriza pela sensação de formigamento no local, sem lesão evidente, dificuldade de manter os olhos abertos, com aspecto sonolento, visão turva ou dupla, dores musculares generalizadas e urina escura.
Acidente causado por coral verdadeira: ou acidente elapídico, é quando no local da picada não se observa alteração importante; as manifestações do envenenamento caracterizam-se por visão borrada ou dupla, pálpebras caídas e sonolência.
Acidentes causados por serpentes não peçonhentas: elas também podem causar acidentes, apesar de nem sempre as serpentes peçonhentas conseguirem inocular veneno por ocasião do acidente.
Saiba mais sobre os soros
O Butantan produz os soros antibotrópico (contra o envenenamento de jararaca, jararacuçu, urutu, surucucu, comboia); antibotrópico e antilaquético (contra o veneno da jararaca, jararacuçu, urutu, surucucu, comboia e surucucu-pico-de-jaca); anticrotálico (contra o envenenamento de cascavel); antibotrópico e anticrotálico (contra o envenenamento por jararaca, jararacuçu, urutu, comboia, e cascavel), antielapídico (contra picada de coral verdadeira); antiescorpiônico; antiaracnídico (contra o envenenamento da aranha-marrom, aranha-armadeira e escorpião) e antilonômico (contra o envenenamento da lagarta Lonomia), entre outros.
Os soros do Butantan são frações de imunoglobulinas purificadas e específicas, com apresentação na forma líquida, em frascos-ampola de 5, 10 ou 20 mililitros (dependendo do tipo de soro) e que devem ser conservados em geladeira até o seu uso. Se conservados adequadamente, têm validade de 36 meses.
Sua produção envolve a imunização de cavalos com antígenos produzidos a partir de venenos, toxinas ou vírus, a obtenção de diferentes tipos de plasma, que são submetidos a processamento industrial de purificação e formulação, resultando em produtos de alta qualidade, segurança e eficácia.
Hospital Vital Brazil
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