O aposentado Antônio Santos*, de 79 anos, foi picado por uma cascavel em sua chácara em Bragança Paulista (SP) e precisou ser internado em um hospital particular devido às manifestações neurológicas. Já o adolescente Ricardo Ferreira*, de 16 anos, foi inoculado pelo veneno de uma jararaca em um terreno no Grajaú, na zona leste da capital paulista. Ambos receberam o soro antiofídico específico da serpente para evitar sequelas ou um desfecho trágico no Hospital Vital Brazil (HVB), que é referência no atendimento a pacientes picados por animais peçonhentos como serpentes, aranhas, escorpiões e lagartas.
O HVB, localizado dentro do Parque da Ciência, do Instituto Butantan, possui um arquivo médico com mais de 100.000 pacientes em seus quase 77 anos de atuação, e mantém um serviço de pronto-atendimento, além de dez leitos para observação ou internação.
Seus profissionais são treinados para detectar qual animal causou o acidente e qual o soro mais adequado para o paciente, seja pela análise dos sintomas ou de fotos do animal.
“De acordo com a presença dos sintomas apresentados pelo paciente, é feito o diagnóstico de um acidente por serpente peçonhenta ou não., explica o médico cirurgião Jefferson C. Murad, plantonista do HVB.
O hospital tem estoque de soros antibotrópico e antilaquético (contra picada de jaracaca e surucucu-pico-de-jaca); soro anticrotálico (contra picada de cascavel); soro antilapídico (contra picada de coral verdadeira); soro antiescorpiônico; soro antiaracnídico e soro antilonômico (contra lagartas), entre outros, produzidos pelo próprio Instituto Butantan.
Tecnologia a favor do diagnóstico
Ter este conhecimento é fundamental para não administrar o soro errado no paciente e para adotar uma conduta correta, já que picadas de cascavel, jararaca, coral, aranha e escorpião precisam de antivenenos e tratamentos específicos, afirma a infectologista Fan Wen Hui, gerente de produção de soros do Instituto Butantan, que fez carreira no hospital.
“Um acidente ofídico já causa inchaço, então será que um corticoide poderá fazer um efeito complementar ao soro? Será que o uso de alguma medicação ajuda ou piora? Essas perguntas têm que ser feitas no dia a dia, pois vão além da aplicação do soro e do tratamento”, pondera.
Uma das maneiras de facilitar o diagnóstico é reconhecer o animal por fotos. A equipe do HVB recebe as imagens por WhatsApp e as envia para um grupo de biólogos do Butantan, que descrevem a espécie. Com essa informação, fica mais fácil escolher o soro e o tratamento adequado, afirma o médico.
“Recebemos das unidades de saúde fotos de cobras, aranhas, taturanas e de animais que as pessoas conseguem registrar, mas não sabem se são perigosos. Se percebermos que é venenoso, indicamos aos profissionais que usem o soro antiofídico da unidade de saúde mais próxima ou encaminhe o paciente para o Hospital Vital Brazil. Se não for peçonhento, também indicamos a conduta”, disse.
Tratamento
O aposentado estava internado na Unidade de Terapia Intensiva de um hospital privado de Santo André quando foi encaminhado para o HVB, onde recebeu o soro antiofídico anticrotálico (indicado para veneno de cascavel). Antes da transferência, o paciente foi avaliado via teleconsulta pelos profissionais de ambos os hospitais, que optaram pela transferência ao HVB para que o homem fosse submetido à soroterapia.
Já o adolescente Ricardo* veio diretamente ao Vital Brazil acompanhado de um primo e foi prontamente internado.
“Geralmente, reconhecemos os tipos de serpentes que picaram os pacientes por meio da avaliação clínica dos sintomas. O paciente idoso apresentou alterações neurológicas, fraqueza muscular, urina escura e alterações laboratoriais compatíveis com acidente crotálico [com cascavel]. O mais jovem apresentou dor e inchaço no local da picada e sangramento, indícios de acidente botrópico [com jararaca]”, disse o cirurgião.
Após a soroterapia, os pacientes permanecem em observação até os sintomas mais preocupantes desapareçam, quando então recebem alta.
Hospital Vital Brazil
Telefones: (11) 2627-9529 / 2627-9530
Endereço: Av. Vital Brasil, 1500, ao lado do heliponto