Assim como as serpentes, você já deve ter ouvido falar que é melhor não mexer com sapos, pois eles são venenosos e podem atacar. Em parte, é verdade: os sapos realmente têm veneno. A diferença é que eles não atacam ou injetam peçonha no inimigo, como as cobras fazem para se alimentar, por exemplo. Na verdade, o veneno do sapo fica localizado em glândulas na superfície da sua pele e é liberado somente quando ele sofre alguma agressão – como quando algum animal o ataca.
“O sapo tem o que chamamos de defesa passiva: ele não ataca e não reage quando é atacado. Ele apenas infla os pulmões para expor as glândulas, e o veneno só é liberado quando o predador morde ou aperta essas glândulas”, explica o diretor do Laboratório de Biologia Estrutural do Butantan, Carlos Jared. Isso acontece porque, ao longo de sua história de mais de 350 milhões de anos na Terra, alguns grupos de anfíbios se desenvolveram por pressão dos predadores e suas glândulas microscópicas na pele passaram a ser macroscópicas.
O veneno do sapo pode conter centenas de substâncias, divididas em quatro grupos principais: alcaloides, esteroides, aminas biogênicas e peptídeos. A maioria dessas substâncias ainda é desconhecida pela ciência e foi muito menos estudada do que a peçonha das cobras. O que se sabe é que alguns compostos são psicoativos e, ao entrarem em contato com a mucosa da boca, olhos ou nariz, podem causar alucinações e convulsões nos predadores, além de problemas respiratórios e cardíacos.
“Se um cachorro morde um sapo, por exemplo, e você rapidamente lava a boca do animal, você tira o veneno. No caso da cobra, é diferente, pois ela injeta a peçonha diretamente no sangue”, diz o pesquisador. O veneno, no entanto, pode corroer a mucosa lentamente e também entrar na corrente sanguínea, podendo ser fatal. Em casos de envenenamento humano, quando normalmente não há ingestão do veneno, basta lavar o local que teve contato com a substância. A recomendação é procurar atendimento médico se houver ingestão.
Primeiro anfíbio peçonhento
Como os anfíbios possuem glândulas venenosas somente na superfície da pele e se defendem passivamente, eles são considerados venenosos, não peçonhentos. As serpentes são peçonhentas, pois produzem o veneno em glândulas internas e o injetam na vítima. No entanto, um estudo recente do grupo do pesquisador Carlos Jared mudou a perspectiva sobre os anfíbios e ganhou relevância na mídia internacional. A pesquisa apontou que as cecílias, anfíbios fisicamente semelhantes às cobras, podem ser consideradas peçonhentas e venenosas ao mesmo tempo: secretam peçonha através de glândulas dentais e veneno por meio das glândulas da pele. Os cientistas levantaram a hipótese de que as glândulas de peçonha das serpentes, que começaram a surgir há cerca de 100 milhões de anos, no período Cretáceo, na verdade já estavam presentes nas cecílias 150 milhões de anos antes. Essa foi considerada uma das principais descobertas recentes da ciência em relação aos anfíbios e teve grande repercussão, sendo publicada inclusive no jornal norte-americano The New York Times.