O Instituto Butantan, em conjunto com a Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado da Universidade do Estado do Amazonas (FMT/UEA), promoveu o curso Acidentes por animais peçonhentos de importância médica no Brasil – agentes, fisiopatologia, diagnóstico, tratamento e vigilância dos acidentes no auditório do Museu Biológico, entre os dias 21 e 22 de setembro. Voltado para profissionais de saúde, estudantes e pesquisadores, o curso foi feito em parceria com o 59º Congresso de Medicina Tropical (MEDTROP), que ocorre em São Paulo (SP) entre os dias 22 e 25 de setembro.
O foco do curso foi compartilhar o conhecimento de diferentes grupos que trabalham com acidentes por animais peçonhentos no Butantan – desde biólogos que estudam os venenos e a fisiologia destes animais no Laboratório de Herpetologia e no Biotério de Artrópodes, até médicos que atuam no Hospital Vital Brazil (HVB), localizado dentro do Parque da Ciência Butantan.
“Temos todo um conjunto de profissionais especialistas que podem e estão dedicando seu tempo para compartilhar o conhecimento que têm com estudantes de diversas áreas e profissionais de saúde para que tenhamos uma melhor atenção aos pacientes que precisam receber o atendimento dos acidentes com animais peçonhentos”, afirmou a diretora da produção de soros do Instituto Butantan, Fan Hui Wen.
A diretora da produção de Soros do Butantan, Fan Hui Wen, detalhou como funciona a cadeia de produção dos antivenenos do Instituto
Boa parte do conhecimento compartilhado durante o evento ficou a cargo do corpo clínico do HVB, hospital que atua há 79 anos no atendimento de acidentes por animais peçonhentos, como serpentes, aranhas, escorpiões e lonomias, e na aplicação de antivenenos produzidos pelo Instituto Butantan. Além de prestar atendimento aos pacientes, o hospital orienta médicos de diferentes locais do Brasil e do exterior para avaliação de pacientes e sobre a soroterapia adequada.
“Nós temos tradição, somos referência em vários setores, seja de produção, de pesquisa, mas também de prestação de serviço. O fato de termos um atendimento 24 horas por telefone, que facilita muito para o médico que está em diferentes regiões do país a ter uma segunda opinião, ajuda o paciente a ter um atendimento abreviado, que pode determinar uma evolução muito mais favorável. A grande importância que eu vejo na disseminação deste conhecimento é realmente melhorar a atenção àqueles que mais precisam”, ressaltou Fan.
A médica Ceila Málaque falou sobre acidentes por aranhas Phoneutria e Loxosceles e por lepidopteros e lonomia
Além de ensinar a identificar picadas e sintomas, a médica Ceila Málaque assinalou a importância de compartilhar toda a expertise de quase 80 anos do trabalho feito no hospital. Isso porque as condutas que devem ser adotadas para reconhecer uma picada e o soro indicado nem sempre são conhecidas por profissionais de saúde.
“A ideia do evento foi mostrar a experiência do HVB, com todo o conhecimento acumulado, para compartilhar isso com as pessoas, com outros colegas e para eles compartilhem suas experiências também e, assim, todos nós aprendermos com essa troca. Temos estudantes que vão aprender sobre o assunto e levar para suas regiões Brasil afora”, afirmou.
A biomédica Bianca Oliveira, de Manaus, disse que o curso foi uma experiência enriquecedora
Teoria e prática
Para a biomédica Bianca Daniele Silva de Oliveira, de 26 anos, o curso foi um “evento muito produtivo”. Bianca é aluna de mestrado do programa de pós-graduação em Medicina Tropical da Universidade do Amazonas (UEA) e da Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado de Manaus (FMT/UEA).
“Foram dois dias de aprendizado nos quais vimos desde a biologia dos animais, até a parte clínica, e um pouco sobre a fisiopatologia. Tivemos ainda a experiência de conhecer o Museu Biológico, e ver na prática alguns animais que a gente costuma estudar na teoria, além de ouvir os profissionais que normalmente são nossas referências. Tudo isso foi uma experiência muito enriquecedora”, afirmou.
Para o enfermeiro Handerson Pereira, do Amazonas, o aprendizado será útil para sua atuação na região
Para o enfermeiro Handerson da Silva Pereira, de 30 anos, que trabalha no hospital da Fundação de Medicina Tropical de Manaus, o curso foi muito importante, sobretudo, para quem vive em locais onde há muitos atendimentos por envenenamento.
“Existem muitos acidentes na nossa região, porém sabemos que poucos profissionais sabem fazer o manuseio correto e prestar a assistência adequada. Isso acaba impactando no quadro clínico do paciente.
Então acho bem importante o curso abordar esses pontos porque acaba preparando o profissional”, afirmou.
Wuelton Monteiro, diretor de Ensino e Pesquisa da FMT/UEA: curso é fundamental para demonstrar a importância da pesquisa sobre animais peçonhentos
Para o diretor de Ensino e Pesquisa da FMT/UEA, Wuelton Monteiro, o curso é fundamental também para demonstrar que há uma prolífica pesquisa científica a respeito destes acidentes e de seu tratamento.
“É importante levar conhecimento sobre esses temas para os profissionais, para os alunos e eventualmente para outros pesquisadores que se interessaram em assistir às palestras e realizar esse percurso. E, acima de tudo, levantar temas que ainda são importantes de serem pesquisados, e gerar evidências para o tratamento dos pacientes que forem vítimas dos acidentes por animais peçonhentos.”
Programação
No sábado (21), os participantes abordaram a biologia das serpentes peçonhentas de interesse médico na palestra "Principais Serpentes causadoras de acidentes no Brasil", conduzida pelo pesquisador do Laboratório de Herpetologia, Sávio Sant Anna, e pelo pesquisador da Fundação de Medicina Tropical de Manaus Pedro Ferreira Bisneto.
A pesquisadora científica do Biotério de Artrópodes e do Núcleo de Produção de Soros do Instituto Butantan Denise Candido fez a palestra "Escorpiões de Interesse em Saúde", e o tecnologista de produção Alexandre Veloso Ribeiro ministrou a palestra "Aranhas de Interesse em Saúde e Lonomia". O primeiro dia do curso terminou com uma visita guiada ao Museu Biológico do Butantan.
A pesquisadora científica do Butantan Ana Moura ministrou a aula “Fisiopatologia dos envenenados por serpentes”
No domingo (22), a pesquisadora científica do Butantan Ana Moura fez a palestra “Fisiopatologia dos envenenados por serpentes”.
Christina Gallafrio Novaes: a infectologista abordou os aspectos dos acidentes ofídicos
Na sequência, a médica infectologista do HVB Christina Gallafrio Novaes abordou “Aspectos dos Acidentes ofídicos”; a médica do HVB e do Hospital Emílio Ribas Celia Málaque discorreu sobre os “Aspectos gerais do tratamento dos acidentes ofídicos”; e a médica do Hospital de Medicina Tropical de Manaus Jacqueline Sachett ministrou a aula “Tratamento de feridas e prevenção de sequelas locais”.
Roberta de Oliveira Piorelli: a médica do HVB falou sobre acidentes escorpiônicos
A médica do HVB Roberta de Oliveira Piorelli falou sobre “Acidentes escorpiônicos” e Ceila Málaque sobre “Acidentes por aranhas Phoneutria e Loxosceles” e “Acidentes por Lepidopteros/Lonomia”.
O segundo dia também foi dedicado a abordar a produção dos antivenenos do Instituto Butantan e as notificações do uso do soro feitas pela Farmacovigilância do Butantan.
A diretora da produção de Soros do Butantan, Fan Hui Wen, detalhou como funciona a cadeia de produção dos antivenenos do Instituto na aula “Antivenenos: notas sobre a produção”, e a gerente de Farmacovigilância, Beatriz Luchesi, na aula sobre “Farmacovigilância dos antivenenos”.
Flávio Dourado: o consultor técnico do Programa Nacional de Controle de Acidentes por Animais Peçonhentos do Ministério da Saúde abordou notificação e vigilância dos acidentes no Brasil
Entre as últimas atividades, o consultor técnico do Programa Nacional de Controle de Acidentes por Animais Peçonhentos do Ministério da Saúde, Flávio Dourado, traçou um panorama geral brasileiro na aula “Notificação e Vigilância dos Acidentes por animais peçonhentos”.
Reportagem: Camila Neumam
Fotos: José Felipe Batista