O projeto da vacina da dengue do Instituto Butantan, liderado pela pesquisadora Neuza Frazatti, venceu em primeiro lugar a edição 2023 do Prêmio Peter Murányi. O imunizante, que vem sendo desenvolvido desde 2010 para proteger a população contra os quatro tipos do vírus da dengue, está na reta final de ensaios clínicos e já mostrou uma eficácia de quase 80%. A premiação reconhece trabalhos inovadores e com aplicação prática que promovam a melhoria da qualidade de vida das pessoas. Neste ano, foram 138 estudos inscritos por 70 instituições brasileiras.
Neuza é gerente de projetos do Laboratório Piloto de Vacinas Virais e participa do estudo desde o início. O desenvolvimento da vacina da dengue foi possível graças a uma tecnologia implementada por ela no Butantan no início dos anos 2000: a produção de vacinas e antígenos virais em células Vero. O primeiro produto feito nessa plataforma foi a vacina contra a raiva em meio livre de soro, que também lhe rendeu o Prêmio Péter Murányi em 2010.
“Desenvolver uma vacina contra a dengue, que precisa ser eficaz contra os quatro sorotipos do vírus, é um grande desafio que farmacêuticas do mundo inteiro estavam enfrentando. E nós conseguimos. Isso mostra a competência dos cientistas brasileiros”, destaca Neuza.
A pesquisadora afirma que está ansiosa para ver o imunizante nos postos de saúde. “Minha família mora em uma região altamente endêmica de dengue – e, por questões éticas, eles não podem participar do ensaio clínico. É muito angustiante ver tantas pessoas sendo hospitalizadas com a doença, mas em breve acredito que teremos a vacina disponível.”
Diferente dos outros imunizantes do mercado, disponíveis somente na rede privada, o produto do Butantan pode ser aplicado com segurança tanto em quem já teve dengue, como em quem nunca teve contato com o vírus. O estudo recebeu apoio da Fundação Butantan, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).
Tamanha a sua importância, a vacina da dengue foi a primeira tecnologia brasileira a ser transferida para uma multinacional, a farmacêutica MSD, a partir de um acordo de licenciamento firmado em 2018. Se aprovado, o imunizante será distribuído pelo Butantan ao Ministério da Saúde e, futuramente, exportado para ajudar a combater a doença em outros países.