Assim como acontece com as mamães humanas e seus bebês recém-nascidos, o período de gestação e os primeiros dias de maternidade em outras espécies do reino animal também são repletos de complexidades e particularidades.
Para celebrar a chegada do Dia das Mães, especialistas* do Butantan compartilham curiosidades sobre a maternidade de algumas espécies que são símbolos do instituto. Confira:
Aonde você for: depois que nascem, os pequenos escorpiões são carregados nas costas da mamãe
Escorpiões: autossuficientes e protetoras – por apenas 15 dias
Capazes de engravidar “sozinhas”, as fêmeas do escorpião-amarelo (Tityus serrulatus) dispensam a participação de um macho – que, inclusive, são raros na espécie – no processo de reprodução. Conhecido como partenogênese, o fenômeno permite que o óvulo da fêmea se desenvolva sem ser fecundado, garantindo a propagação da espécie. Em muitos escorpiões, a gravidez dura cerca de três meses e, diferentemente do que muita gente imagina, as mamães já dão à luz a pequenos bichinhos devidamente formados.
O parto tem suas particularidades: quando chega a hora, a fêmea se apoia nas pernas de trás para levantar o corpo e formar uma espécie de “cesto” com as pernas dianteiras. Os filhotes nascem por meio de um “buraquinho” chamado opérculo genital, localizado na parte de baixo do corpo (ventral) e próximo a parte da frente (ou dianteira) do abdômen, sendo amparados por esse “colo improvisado”. Em seguida, eles sobem para as costas da mãe, onde vão passar cerca de 15 dias. Nesse período – em que nem a mãe, nem os filhos se alimentam – os recém-nascidos trocam de pele e se fortalecem. Depois, a família se dispersa e cada bicho segue a sua vida de maneira independente.
A supervenenosa aranha-armadeira pode colocar até mil ovos de uma vez
Aranhas: enxoval e amamentação
Assim como as mamães que tricotam sapatinhos e touquinhas para compor o enxoval de seus bebês, as aranhas tecem com seu fio uma espécie de “saco” ou “manto protetor” para envolver seus ovos. Conhecidos como ootecas, esses aglomerados podem reunir mais de mil ovinhos, como no caso da aranha-armadeira, do gênero Phoneutria – que engloba as espécies de aranha que assumem uma posição de “defesa” quando se sentem ameaçadas.
Já uma outra espécie de aranha saltadora conhecida popularmente como formiga-negra (Toxeus magnus), destaca-se por “amamentar” seus filhotes nas primeiras semanas de vida. Cientistas chineses observaram que, após o nascimento, essas mamães aranhas depositam no ninho gotículas de um líquido rico em proteínas, muito parecido com o leite de vaca, que logo depois são sugados por seus bebês.
Abraço de cobra: píton do Museu Biológico do Butantan "esquenta" seus ovos
Serpentes: a píton que se transforma em ninho
Entre as chamadas serpentes ovíparas – ou seja, aquelas que botam ovos – é comum que as mamães façam a postura e abandonem o local, sem aguardar a saída dos filhotes. Mas entre as pítons esse hábito é diferente: elas se enrolam ao redor dos ovos e formam uma espécie de ninho, mantendo-os bem quentinhos até o momento da eclosão.
Mesmo após o nascimento, os cuidados continuam. Para evitar a exposição dos recém-nascidos a potenciais predadores, de tempos em tempos a cobra-mãe se desloca da toca para um lugar quente a fim de aquecer sua pele. Depois, ela retorna para encontrar seus filhos e regular a temperatura dos pequeninos, em um processo que pode durar até duas semanas. Passado esse período, as pequenas pítons já possuem maturidade para explorar o ambiente onde vivem sozinhas e com segurança.
Filhotes de macacos-rhesus do Macacário do Butantan bem agarradinhos à sua matriarca
Macacas-rhesus: hora dourada e rede de apoio
A gestação de uma macaquinha rhesus (Macaca mulatta) costuma durar 175 dias. Como observado entre algumas mulheres, as fêmeas da espécie podem apresentar aumento de apetite e até irritabilidade durante o período. Após o parto, a mais nova mamãe limpa bem seu filhotinho, posicionando-o sobre sua barriga e encaixando-o perfeitamente para a amamentação, em uma ação que lembra a tão recomendada “hora dourada” – ou a primeira hora da mãe com o seu recém-nascido, quando o bebê é colocado em contato com a mulher imediatamente depois do parto.
Além disso, as outras fêmeas do grupo costumam estruturar uma “rede de apoio” para ajudar a nova mamãe nos cuidados com o filhote. O vínculo com a mãe permanece forte durante o primeiro ano de vida do bebê. Nesse período, o macaquinho fica – literalmente – bem agarradinho à sua progenitora.
* Com informações de Giuseppe Puorto, diretor do Centro de Desenvolvimento Cultural do Butantan; Thiago Mathias Chiariello, coordenador de Produção de Venenos e Antivenenos; e Glaucie Jussilane Alves, médica veterinária e responsável técnica pelo Macacário do Butantan.
Reportagem: Natasha Pinelli
Fotos: Giuseppe Puorto, Marília Ruberti, Rafael Simões/Comunicação Butantan e Shutterstock