O que podemos esperar para 2050 em termos de saúde pública? Essa foi a pergunta central que marcou o primeiro dia de discussões da 25ª Assembleia Geral Anual da Rede de Produtores de Vacinas de Países em Desenvolvimento (DCVMN, na sigla em inglês), promovido nesta quarta (16) pelo Instituto Butantan e pela Bio-Manguinhos/Fiocruz. Em andamento até sexta, o evento conta com representantes de mais de 40 instituições de 15 países em desenvolvimento, que compartilham a missão de promover um futuro sustentável e com acesso equitativo à saúde e à prevenção de doenças.
Para o diretor do Instituto Butantan, Esper Kallás, que comandou o fórum Estratégias do DCVMN para 2050, os principais desafios a serem enfrentados que podem impactar a saúde pública são a limitação de recursos, conflitos geopolíticos, mudanças climáticas e interferências no meio ambiente.
O diretor do Instituto Butantan, Esper Kallás, coordenou a mesa
“Temos conflitos ao redor do mundo que podem gerar novas emergências sanitárias, a exemplo do atual surto de poliomielite em Gaza, e o alocamento desigual de recursos afeta nossas capacidades de responder a esses problemas. Enquanto isso, o aquecimento global e alterações ambientais nos colocam em maior contato com patógenos e geram maior risco de transmissão de doenças de animais para humanos – o chamado spillover”, disse.
O diretor do Instituto Pasteur de Dakar (Senegal), Amadou Alpha Sall, defendeu que os esforços das instituições de pesquisa devem ir ainda além das vacinas. “A probabilidade de surgirem novas doenças é real, e as mudanças climáticas têm um forte impacto nisso, em especial em infecções transmitidas por vetores. Vacinas são essenciais, mas não são a única solução. É preciso fortalecer a confiança nas vacinas, para que elas realmente cumpram seu papel, e focar também no desenvolvimento de terapias avançadas”, afirmou.
Amadou Alpha Sall é diretor do Instituto Pasteur de Dakar, no Senegal
Outro ponto levantado durante a discussão foi a preocupação com o meio ambiente. Para Maurício Zuma, diretor da Bio-Manguinhos/Fiocruz, a sustentabilidade deve ser uma das prioridades. “O desequilíbrio ambiental gera um risco aumentado para o surgimento de novas pandemias, o que aumenta a demanda de novas tecnologias para desenvolvimento acelerado de vacinas. Precisamos investir continuamente na modernização e nos atentar para uma produção sustentável”, disse.
De acordo com o CEO da farmacêutica chinesa CanSino Biologics, Xuefeng Yu, o desenvolvimento de novas tecnologias com maior custo-benefício também deve entrar em pauta para os próximos 25 anos. “Nós desenvolvemos a primeira vacina intranasal contra a Covid-19 durante a pandemia e chegamos a imunizar 10 milhões de pessoas. Com o DCVMN, temos a oportunidade de compartilhar conhecimentos e transferir tecnologias para torná-las mais acessíveis”, declarou.
Xuefeng também destacou a necessidade de fornecer treinamentos locais entre os países em desenvolvimento e regiões menos favorecidas. “Precisamos adentrar as operações para realmente compartilhar nossos conhecimentos e capacitar novos produtores.”
O CEO da CanSino Biologics, Xuefeng Yu, falou sobre o desenvolvimento de vacinas intranasais
Já o CEO da farmacêutica argentina Sinergium Biotech, Alejandro Gil, acredita que é preciso expandir o diálogo com as agências reguladoras e autoridades de saúde dos países em desenvolvimento. “Temos que compartilhar nossas capacidades, nossos mercados, e trabalhar juntos para acelerar o desenvolvimento e tornar as vacinas mais acessíveis.”
A reunião, que ocorre pela primeira vez em São Paulo, trará nos próximos dois dias discussões sobre desenvolvimento clínico, inovação, envolvimento do setor privado, novas tecnologias, hesitação vacinal, impactos da inteligência artificial e vacinas prioritárias, como poliomielite, tuberculose, dengue, malária e meningite.
O CEO do DCVMN, Rajinder Suri, encerrou o primeiro dia da assembleia
25 anos de evolução
Na sessão final do primeiro dia, o CEO do DCVMN, Rajinder Suri, fez uma apresentação sobre os avanços da organização nos últimos 25 anos e as expectativas para o futuro. “Nós começamos em 2000 com 10 fabricantes e hoje já somos 48, divididos em 15 países. Uma de nossas maiores conquistas foi produzir 13,6 bilhões de doses de vacinas contra Covid-19, o que representou 60% de toda a produção global.”
Ao longo do tempo, o DCVMN ampliou sua visibilidade e reconhecimento, criou novas oportunidades para os membros e diversificou colaborações e financiamentos. Conquistando mais espaço no cenário internacional, a organização participou de diferentes reuniões globais da Organização Mundial da Saúde (OMS), GAVI Alliance, Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), entre outros.
Juntos, os fabricantes de vacinas da rede produzem mais de 400 imunizantes, sendo que 80 fazem parte da lista de imunizantes pré-qualificados da OMS, como a Influenza trivalente do Instituto Butantan. Esses produtos atendem às populações de 170 países de baixa e média renda no mundo.
Reportagem: Aline Tavares
Fotos: Renato Rodrigues/Comunicação Butantan