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Onde a magia acontece: conheça fatos incríveis sobre a terra quase inóspita (e ameaçada) do Papai Noel, o Polo Norte

No endereço em que vive o Bom Velhinho ocorrem eventos maravilhosos, como a aurora boreal e o sol da meia-noite; região é essencial para a manutenção do clima do planeta


Publicado em: 22/12/2023

Daqui a alguns dias, o simpático Papai Noel dará início a mais uma jornada natalina. Com a ajuda de seus elfos e renas, ele visitará milhares de crianças ao redor do mundo que esperam ansiosas por sua passagem.

Aliás, a maneira como o Bom Velhinho realiza essa missão quase impossível não intriga apenas os pequenos, mas também muitos adultos. Até um grupo de físicos de uma renomada universidade da Inglaterra se dedicou a resolver esse enigma. Depois de muitos e muitos cálculos, os cientistas chegaram à conclusão que para o Papai Noel visitar nada menos do que 240 milhões de casas ao redor do mundo em cerca de 36 horas – considerando os diferentes fusos horários mundiais e um adicional de 24 horas para concluir a tarefa –, seu trenó precisa viajar a incríveis 5,4 milhões de km/h, ou 0,5% da velocidade da luz!

Apesar de ninguém saber exatamente qual o seu possível endereço (Finlândia, Canadá, Alasca e Groenlândia são alguns dos locais que disputam o badalado endereço), é lá pelas bandas do Polo Norte que ele começa a sua jornada e faz muita magia acontecer.

Como o próprio nome sugere, o Polo Norte é o ponto mais ao norte do planeta e um dos dois eixos de rotação do globo – o outro fica no Polo Sul, também conhecido como Antártica. Se você pudesse ver a Terra “de cima”, pensando na maneira como ela costuma ser representada, esse ponto ficaria bem ao centro da grande “bola azul”. Lá, todas as direções levam ao sul e não existe terra firme. 

 

 

Cercado pelas águas do Oceano Ártico, o Polo Norte abrange principalmente gelo marinho, resultado do congelamento das águas durante o inverno, e calotas polares – grandes massas de gelo formadas por camadas de neve que têm se acumulado por milhares e milhares de anos. 

Existe também o Círculo Polar Ártico, que é uma linha imaginária, assim como a Linha do Equador e os Trópicos de Câncer e Capricórnio. A área entre essa linha e o Polo Norte engloba partes de oito territórios diferentes (Canadá, Estados Unidos, Finlândia, Islândia, Noruega, Dinamarca, Rússia e Suécia), reunindo cerca de 4 milhões de habitantes – entre eles, reza a lenda, o simpático Papai Noel. 

Não se sabe se é pela possível presença desse ilustre morador ou pelas temperaturas pra lá de congelantes, mas fato é que eventos incríveis acontecem na região do Ártico! Em determinadas épocas do ano, por exemplo, o sol não se põe ou nem mesmo dá as caras. Além disso, lá acontece a maravilhosa aurora boreal, fenômeno em que luzes verdes, rosas e roxas dançam no céu escuro das noites polares. 

Verdade seja dita: para além da magia, a ciência é a melhor ferramenta para nos ajudar a compreender o que está por trás desses eventos tão magníficos. Vamos entender alguns deles?

 

Geladeira do mundo

Tanto o Polo Norte como o Sul possuem a importante função de amenizar as temperaturas do planeta, uma vez que são cobertas de gelo por conta da baixa incidência solar que recebem ao longo de todo o ano. Infelizmente, a região do Ártico tem sido uma das mais atingidas pelo aquecimento global. Esquentando quatro vezes mais que o restante do planeta, boa parte do gelo marinho ali localizado pode derreter e impactar diretamente o resfriamento da Terra.

Além disso, o aumento da temperatura local contribui para o derretimento da chamada “permafrost”: espécie de “solo congelado”, localizado logo abaixo da superfície. Formado há milhares de anos durante as eras glaciais, essa camada de gelo acumula enormes quantidades de metano e carbono que, uma vez liberados, podem acelerar ainda mais os efeitos provocados pelas mudanças climáticas.

 

Mais quentinho que o Polo Sul

Na maior parte do tempo, os dois extremos do planeta experimentam temperaturas negativas. Durante o inverno, a média é de -40° C no Polo Norte, enquanto o Sul registra nada agradáveis -60° C. Com a chegada do verão, talvez o Bom Velhinho até se arrisque a vestir uma bermuda ou calçar um chinelo de dedo para curtir seu merecido descanso, pois as temperaturas no Norte podem subir para incríveis 0 °C. Já no Polo Sul os termômetros continuam abaixo de zero mesmo durante a temporada de “calor”, quando a média é de -28 °C.

Essa diferença entre um polo e outro ocorre, principalmente, por conta de dois fatores. Primeiro porque o Polo Norte é um oceano repleto de gelo flutuante, e as partes de água que não estão cobertas de gelo tendem a ficar mais aquecidas. Além disso, o Ártico localiza-se no nível do mar, enquanto o Polo Sul, ou Antártica, fica a uma altitude de 2.300 metros. Em resumo, quanto mais distante do nível do mar, mais frio fica.

 

Sol da meia-noite ou escuridão total

De abril a setembro, o sol não se põe no Polo Norte. Isso acontece porque a Terra gira “inclinada” em torno do astro-rei. Por conta disso, quando acontece o solstício de verão no hemisfério norte, os raios solares batem sem interrupção na região – taí mais um ótimo motivo para o Papai Noel aproveitar o verão polar para ficar de pernas para o ar. Já quando o inverno chega, o contrário acontece e o Polo Norte vive dias de total escuridão entre outubro e março. 

Outra curiosidade é o fuso horário da região. Lá, os cientistas podem utilizar como referência qualquer uma das 24 zonas de fuso. Afinal, é nos polos onde se encontram todas as linhas de longitude – aquelas verticais, que “cortam” o mapa-múndi de norte a sul, definindo o horário oficial de cada região. Geralmente, os grandes navios exploradores adotam como padrão o horário de sua nação de origem ou o chamado Greenwich Mean Time (GMT), considerada a primeira faixa de fuso horário, que é o mesmo adotado na cidade de Londres, na Inglaterra.

 

Uma luz no fim do mundo

Durante as chamadas “noites polares”, também é possível observar um dos fenômenos mais deslumbrantes da natureza: as auroras, rastros de luzes coloridas que cortam o céu escuro. Quando acontece ao norte do planeta, o evento é chamado de boreal, enquanto ao sul é batizado de austral.

De forma simplificada, as auroras acontecem por conta da interação do campo magnético da Terra, um tipo de “escudo” que protege o planeta de partículas praticamente invisíveis, com os chamados ventos solares, espécie de “lufadas” que vêm do Sol carregadas de partículas elétricas.

Como o campo magnético do planeta é mais forte nos polos, essas partículas são atraídas e entram na atmosfera da Terra. Ao interagir com moléculas de oxigênio, luzes verdes e vermelhas são liberadas, enquanto o nitrogênio produz maravilhosas luzes azuis e roxas.

 

O urso

Assim como a região que leva seu nome, a palavra “Ártico” também desperta bastante curiosidade. Originária do grego “artkos”, que significa “próxima ao urso”, a definição faz referência à famosa constelação da Ursa Menor, visível apenas no céu do hemisfério norte e onde se localiza a Polaris, a estrela mais próxima do polo norte celeste. Já a palavra “Antártica” vem de “antarktikos”, e sua tradução é “oposta ao urso”.

 

Brasil no Ártico

Com o objetivo de investigar a biodiversidade desse ponto remoto do planeta e gerar mais dados sobre a região, o Brasil realizou sua primeira expedição de pesquisa ao Ártico em julho de 2023. 

A missão foi liderada por pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB) e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que coletaram plantas, fungos, microrganismos e outras amostras biológicas para compreensão de uma possível relação entre espécies que ocorrem tanto nos Polos Norte e Sul, mas que não acontecem em regiões intermediárias do planeta.

Cerca de 7% do território brasileiro localiza-se no hemisfério norte do planeta, estando esse trecho mais próximo do Ártico do que da Antártica.

 

Referências:

AGÊNCIA BRASIL. Brasil segue em sua primeira expedição de pesquisa ao Ártico

ARCTIC COUNCIL. Arctic People

MOSAIC EXPEDITION. Education

NATIONAL AERONAUTICS AND SPACE ADMINISTRATION (NASA). How auroras form

NATIONAL ENVIRONMENTAL SATELLITE, DATA, AND INFORMATION SERVICE. Five things you didn’t know about the North Pole

NASA CLIMATE KIDS. Coldest pole competition

NASA SCIENCE. What is an aurora

OCEAN CONSERVANCY. Where did our ocean names come from?

SCIENTIFIC AMERICAN. Time has no meaning in the North Pole

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS. Quer ver o sol da meia-noite?

UNIVERSITY OF LEICESTER. Calculations reveal Santa travels at 0.5% the speed of light

YALE SCHOOL OF THE ENVIRONMENT. How thawing permafrost is beginning to transform the Arctic

 

Reportagem: Natasha Pinelli

Ilustrações: Lorena Weinketz/Comunicação Butantan