Se você costuma zapear pelas redes sociais, certamente se divertiu assistindo a uma marmota gritando nomes ou frases improváveis. Também deve ter se maravilhado com a foto de um esquilo cheirando profundamente uma flor amarela, como se apreciasse sua fragrância.
O vídeo manipulado à exaustão continua rendendo memes hilários, como um eterno Dia da Marmota. Já a foto do esquilo e a flor, de tão bela parece falsa, mas a cena é verdadeira e foi capturada pelo fotógrafo holandês Dick van Duijn em Viena, na Áustria.
Para além dos memes, você já deve ter se questionado se as marmotas de fato gritam e se os esquilos poderiam ser grandes perfumistas. Apesar de serem animais que parecem completamente diferentes, marmotas e esquilos são roedores da família Sciuridae, que abrange desde os esquilos arborícolas, aos que vivem no solo, e os esquilos-voadores, emum total de quase 300 espécies. As marmotas fazem parte do grupo de esquilos que vivem no solo, e dividem-se em ao menos 15 espécies diferentes, com maior ocorrência em regiões frias e de altitude.
Vocalização
As marmotas ocorrem na América do Norte, chegando até o Alasca, e também nos países da Europa e Ásia. Um exemplar de marmota (Marmota caligata) filmada “aos berros” na montanha Blackcomb, no Canadá, viralizou em 2015 e desde então ressurge nas mais variadas dublagens na internet. O meme que nunca morreu deixa no ar uma questão: afinal, as marmotas realmente gritam?
“Marmotas são roedores sociais que utilizam a vocalização para se comunicar umas com as outras, o que não é exatamente um grito, mas um assobio. Normalmente essas vocalizações altas são um sinal de alerta indicando aos outros do grupo que há um predador”, explica a zoóloga Erika Hingst-Zaher, diretora do Museu Biológico do Instituto Butantan.
Os principais predadores de marmotas e esquilos são os coiotes, raposas, texugos e aves de rapina, como as águias. Ao vê-los rondando os seus, as marmotas rapidamente erguem todo o corpo e começam a vocalizar o mais alto que podem. “O corpo ereto é uma estratégia para projetar o som para mais longe”, afirma a zoóloga.
A imponência do pequeno animal junto aos sons superagudos renderam montagens de toda sorte nas redes. Quando as marmotas ouvem o sinal de alerta, elas se escondem embaixo da terra, no sistema de tocas onde moram famílias inteiras deste roedor.
“Em algumas regiões onde são mais comuns, as marmotas receberam o apelido de whistlepig, que poderia ser traduzido como ‘porco assobiador’”, conta Erika.
Outra curiosidade que envolve as marmotas é que elas hibernam por longos períodos no ano, fenômeno que envolve várias adaptações fisiológicas. Por isso, ver uma marmota a plenos pulmões pode ser algo um tanto raro mesmo em países de ocorrência.
“As espécies de marmota são, em sua grande maioria, alpinas, ou seja, vivem em ambientes onde cerca de 9 meses do ano são muito frios e com neve. Elas passam então apenas três meses ativas, fora da hibernação, e durante este tempo precisam se alimentar, se reproduzir e se preparar para o inverno, acumulando gordura”, detalha Erika.
Apesar dos dentes protusos, quando elas despertam, não atacam outros animais. Vegetarianas, as marmotas se alimentam de plantas, incluindo frutos e flores.
Mas e os esquilos?
Assim como as marmotas, os esquilos ocorrem no hemisfério norte, tanto que a foto do bichinho cheirando a flor foi feita na Áustria em 2019. Apesar disso, a imagem ressurge com frequência na internet, seja nas redes do próprio fotógrafo, ou em textos motivacionais.
Mas diferente do que acontece com as marmotas, há ocorrência de esquilos no continente sul-americano, inclusive no Brasil, embora haja poucos estudos sobre estes animais por aqui. Um grupo de pesquisadores do Museu Paraense Emílio Goeldi, ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, detectou em 2020 pelo menos 11 diferentes espécies de esquilos na América do Sul – dois com ocorrência em Belém (PA).
Assim como as marmotas, esquilos, no geral, também se alimentam de frutas e flores, o que justifica a aproximação do fotogênico roedor à flor amarela. Mas não se engane: o bichano não estaria ali apenas apreciando o odor da flor.
“O esquilo não se movimentou para sentir o ‘perfume’. Ele possivelmente iria comer a flor depois de cheirá-la”, afirma Erika.
Ameaça de extinção
Apesar da aparência um tanto fofinha das marmotas e dos esquilos, eles não devem ser opções de animais de estimação. Primeiro porque podem reagir ferozmente ao contato humano. “A mordida de marmotas e esquilos faz um pequeno estrago em quem é ferido”, pondera Erika.
Além disso, a manutenção deles na natureza é de grande importância para os biomas onde vivem. “Muitas das espécies estão ameaçadas de extinção, especialmente por causa da emergência climática. Nossa responsabilidade para com elas e para com todos os demais animais silvestres é lutar por sua conservação, o que também se aplica às marmotas e esquilos”, afirma a zoóloga.
Reportagem: Camila Neumam