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Amigo de Vital Brazil e defensor da vacinação: conheça a história de Oswaldo Cruz, um dos pais da saúde pública brasileira

Ele combateu epidemias e atendeu Vital durante a peste bubônica; na véspera de seu aniversário, saiba mais sobre o sanitarista


Publicado em: 04/08/2023

Controle das epidemias de cólera, peste bubônica, febre amarela e varíola e a criação de uma cultura de vacinação no Brasil: esse é o principal legado de Oswaldo Cruz, médico sanitarista nascido em 5 de agosto de 1872, que faria aniversário neste sábado. Não por acaso, na mesma data, em 1967, foi instituído o Dia Nacional da Saúde. Junto ao seu contemporâneo Vital Brazil, fundador do Instituto Butantan, ele teve um papel fundamental na consolidação da estrutura de saúde pública brasileira, ganhando prestígio nacional e internacional.

Oswaldo nasceu em São Luís do Paraitinga, em São Paulo, e ingressou na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro com apenas 15 anos. Interessado por microbiologia, chegou a montar um pequeno laboratório no porão de sua casa. Em 1896, se especializou em bacteriologia no Instituto Pasteur, em Paris.

Médico, sanitarista, bacteriologista e epidemiologista, Oswaldo Cruz contribuiu no combate de diferentes epidemias brasileiras


Sua experiência com a saúde pública começou em 1894, quando uma epidemia de cólera atingiu os estados de São Paulo e Rio de Janeiro. Oswaldo foi convidado pelo Instituto Sanitário Federal para participar de uma comissão para investigar os casos. Foi em seu laboratório caseiro que o médico examinou as amostras dos pacientes e identificou a presença da bactéria Vibrio cholerae.

Em 1899, as histórias de Oswaldo Cruz e Vital Brazil se cruzaram, quando a peste bubônica acometeu a cidade de Santos (SP). A doença era transmitida pela picada de pulgas de ratos contaminados pela bactéria Yersinia pestis. Ao lado de Emílio Ribas, Adolpho Lutz e do próprio Vital Brazil, o sanitarista ajudou a isolar os infectados e promoveu campanhas de saneamento para conter a epidemia. Vital acabou se infectando e chegou a ser atendido e diagnosticado por Oswaldo.

Declaração do jornal O Paiz sobre o estado de saúde de Vital Brazil, em 24 de outubro de 1899, durante o surto da peste bubônica em Santos (SP)


A criação do Instituto Soroterápico Federal em 1900, que mais tarde deu origem à Fundação Oswaldo Cruz, e do Instituto Serumtherápico (atual Instituto Butantan) no ano seguinte, possibilitou a produção da vacina e do soro antipestoso, dando fim à emergência sanitária. Durante esse período, Vital e Oswaldo se tornaram amigos e passaram a trocar correspondências sobre suas pesquisas.

Os feitos de Oswaldo Cruz o levaram a assumir a Diretoria Geral de Saúde Pública em 1903, o equivalente ao atual Ministério da Saúde. No posto, ele reformou o Código Sanitário e reestruturou todos os órgãos de saúde e higiene do país. Seu trabalho lhe rendeu uma medalha de ouro no XIV Congresso Internacional de Higiene e Demografia de Berlim, em 1907.

Outro desafio da época foi a febre amarela, que entre 1850 e 1902 provocou 58 mil mortes só no estado do Rio de Janeiro, ficando conhecida como “febre do Rio de Janeiro” e “mal do Brasil”. Muitos médicos achavam que a infecção acontecia pelo contato entre pessoas infectadas, mas Oswaldo Cruz acreditava na teoria de que o vírus era transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, hipótese levantada pelo médico e pesquisador cubano Carlos Finlay em 1881. Ele implantou medidas sanitárias para eliminar focos do inseto em casas, jardins e ruas, e os casos de febre amarela despencaram.

Sanitarista ao lado do filho Bento Oswaldo Cruz e do médico bacteriologista Carlos Burle de Figueiredo, no interior de um dos laboratórios de Manguinhos, em 1910


Incentivo à vacinação

Foi graças aos esforços de Oswaldo Cruz durante o surto de varíola, em 1904, que a imunização começou a ser compreendida no Brasil como um ato coletivo em favor da saúde pública. Na época, a aplicação de multas a quem não se vacinava e a exigência de atestados de vacinação nas escolas e em viagens levaram a uma revolta popular. Mas a vacina cumpriu seu papel e, em dois anos, as mortes pela doença caíram de 3.500 para nove. 

Contudo, por pressão da população, a obrigatoriedade da imunização foi retirada, e uma nova onda de varíola em 1908 elevou o número de óbitos para 6.500. Com o descontrole da doença, as pessoas passaram a procurar a vacinação voluntariamente.

Anos depois, nas décadas de 1960 e 1970, campanhas nacionais de imunização contra a varíola também reuniram milhares de pessoas em parques, postos de saúde e praças públicas, que buscaram a proteção por conta própria. Em 1980, a doença grave que matou 300 milhões de pessoas no mundo no século XX foi considerada erradicada. 

Lançamento da campanha de combate à varíola em Natal, Rio Grande do Norte, 1970


Uma vida dedicada à ciência

Em 1909, o médico sanitarista deixou a Diretoria Geral de Saúde Pública e passou a se dedicar integralmente ao Instituto de Manguinhos, futuro Instituto Oswaldo Cruz. Como diretor da instituição, ele erradicou a febre amarela no Pará, realizou a campanha de saneamento da Amazônia e participou do combate à malária. 

Em 1913, entrou para a Academia Brasileira de Letras. Dois anos depois, deixou a direção do Instituto de Manguinhos por motivos de saúde e se mudou para Petrópolis (RJ), onde foi eleito prefeito. Morreu com apenas 44 anos, em 11 de fevereiro de 1917, por insuficiência renal.

Filho de Bento Gonçalves Cruz e Amália Taborda Bulhões Cruz, Oswaldo seguiu os passos do pai na carreira de medicina. Teve seis filhos: Elisa, Bento, Hercília, Oswaldo, Zahra e Walter, e os três homens também se tornaram médicos. Um dos filhos de Vital Brazil leva o nome de Oswaldo, como uma homenagem ao amigo.


Filhos e esposa de Oswaldo Cruz. Da esquerda para a direita: Elisa Oswaldo Cruz, Oswaldo Cruz Filho, Bento Oswaldo Cruz, Emília da Fonseca Cruz (esposa), Walter Oswaldo Cruz e Hercília Oswaldo Cruz (1910)



Fontes: Portal da Fundação Oswaldo Cruz, Biblioteca Virtual Oswaldo Cruz, Biblioteca Virtual em Saúde, Centro Cultural do Ministério da Saúde

 

Reportagem: Aline Tavares

Fotos: Acervo Casa Oswaldo Cruz