Nesta segunda-feira (31), foram apresentados os primeiros resultados do Projeto S, estudo clínico realizado pelo Instituto Butantan na cidade de Serrana, interior de São Paulo. Ao vacinar toda a população adulta do município entre 17 de fevereiro e 11 de abril, o projeto avalia a efetividade da CoronaVac no controle da pandemia da Covid-19. "Serrana se transformou em um laboratório epidemiológico, um exemplo para o mundo", disse o presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas, em coletiva de imprensa.
Após a imunização com a vacina do Butantan em parceria com a biofarmacêutica chinesa Sinovac, os óbitos na cidade em decorrência do novo coronavírus caíram em 95%, os casos sintomáticos em 80% e as internações, 86%. Os benefícios da vacinação da população em Serrana foram tanto diretos quanto indiretos: não só a população adulta que recebeu o imunizante foi protegida, como também os jovens e crianças abaixo de 18 anos e idosos com comorbidades, por exemplo, que não participaram do estudo clínico.
De acordo com o diretor de ensaios clínicos do Instituto Butantan, Ricardo Palacios, a infecção não foi "empurrada" para os grupos não vacinados, mas foi criada uma barreira de proteção. "O efeito da imunização foi tão forte que protegeu até os não vacinados, mesmo entre as pessoas mais idosas. Houve uma sincronização da epidemia entre os grupos de vacinados e não vacinados, um marcador do efeito indireto", explicou o diretor do estudo. "Quem recebe a vacina também protege o próximo", ressaltou.
"Para falar em particular dos mais idosos, que nos preocupam enormemente, também houve a diminuição do número de casos sintomáticos nas pessoas mais velhas que por algum motivo não puderam se vacinar, acompanhando a curva de redução de casos nos idosos que se vacinaram. Nos maiores de 80 anos, essa redução é ainda mais importante", esclarece Palacios. "O efeito em hospitalizações e mortes das pessoas mais idosas não deixa nenhuma dúvida sobre a importância da vacinação nessas faixas etárias."
Dimas Covas ainda frisou, na coletiva, que os dados obtidos não indicam a necessidade de revacinação dos idosos. "Esta é uma das melhores vacinas disponíveis no mundo, e que agora tem demonstrado o seu papel na epidemia. Mais importante que a eficácia da vacina é sua eficiência. Esse é o dado que atesta o efeito da vacina no mundo real", explica Dimas Covas.
Variantes do novo coronavírus
Outro ponto importante observado pela pesquisa clínica é que a vacinação de toda a população, realizada em quatro etapas, não estimulou o surgimento de novas variantes do vírus. Em vez disso, ajudou a controlar as cepas circulantes. A variante brasileira P1 é, atualmente, a maior em circulação no Brasil e também em Serrana, o que demonstrou a efetividade da vacina do Butantan também contra esta cepa.
Segurança da CoronaVac
Segundo o investigador principal do Projeto S e diretor do Hospital Estadual de Serrana, Marcos Borges, a pesquisa reforçou a segurança que a CoronaVac já havia demonstrado nos ensaios clínicos de fase 3: "Após a segunda dose, tivemos apenas 0,2% de relatos de voluntários sobre reações adversas, e nenhum evento grave relacionado à vacinação".
Incidência do vírus antes da imunização
Na etapa anterior à vacinação, foi realizado um exame de sorologia nos voluntários para verificar a parcela da população que já havia entrado em contato com o vírus Sars-CoV-2. O resultado mostrou uma taxa de 25,7%, o que indicava uma alta incidência do vírus na cidade antes da realização do estudo clínico.
Entenda o que é o Projeto S
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