Esquilo e gambá se fingem de mortos? Entenda a tanatose, comportamento animal que viralizou nas redes sociais
Esquilo deitado com vassoura no pescoço foi flagrado em Taiwan; no Brasil, gambá se fingiu de morto durante resgate
Publicado em:
14/12/2023
Você já deve ter visto pela internet o vídeo de um esquilo-voador muito simpático – e dramático – se fingindo de morto, estatelado no chão com uma vassoura sobre seu pescoço. Será que isso é real? Os bichos realmente fazem isso? Curiosamente, a resposta é sim!
As imagens do esquilo que circularam nos últimos meses representam um caso de tanatose, comportamento que os animais usam para se defender de predadores. A palavra vem do grego “thánatos”, que significa morte, e “ose”, que se refere a estado ou condição. Inclusive, na mitologia grega, Tânatos é o deus da morte.
Mas não existe nada de mito nesse hábito: ele é totalmente natural, involuntário, e faz parte da genética do animal. Alguns bichos, quando se sentem ameaçados, deitam no chão com o corpo “mole”, olhos abertos e, às vezes, até colocam a língua para fora, ficando completamente imóveis. A atuação é digna de Oscar.
O animal do vídeo em questão é um esquilo-voador de estimação chamado Bobo, que vive com uma moradora de Taiwan, na Ásia. Ela gravou o pet e divulgou em seu canal do YouTube, onde publica vídeos da rotina com o companheiro roedor. O flagra do animal simulando a própria morte fez sucesso e virou notícia em vários veículos, como ojornal britânico The Independent.
Em maio deste ano, um saruê (conhecido como gambá brasileiro) também foi filmado fingindo que estava morto em Jaraguá do Sul, Santa Catarina, após ser resgatado pelo biólogo Christian Raboch, da Fundação Jaraguaense de Meio Ambiente (Fujama). Outra famosa estratégia do gambá, antes da tanatose, é liberar um líquido com cheiro muito forte – é tão fedido que ninguém vai querer chegar perto.
E a tanatose não é um comportamento exclusivo de esquilos e gambás: essa característica foi desenvolvida ao longo da evolução e se estende por diferentes espécies de mamíferos, répteis, anfíbios, insetos e até aves, de acordo com o biólogo e pesquisador Carlos Jared, diretor do Laboratório de Biologia Estrutural do Butantan.
“No Brasil, além do saruê, temos várias espécies de pererecas, rãs e sapos que costumam simular a própria morte. Nos Estados Unidos, há até mesmo cobras com o comportamento, como a hognose snake [cobra ‘nariz-de-porco’, em tradução livre], que vira de barriga para baixo e abre a boca”, conta Carlos.
A hognose snake, dos EUA, é mais uma especialista em se fingir de morta
Normalmente, esse mecanismo de defesa acontece quando os animais já foram detectados pelo predador ou quando já houve algum contato físico. Ao entrarem no estado de tanatose, os bichos podem ficar imóveis durante alguns minutos até algumas horas. A estratégia ajuda a evitar que eles sejam atacados.
“Comportamentos adaptativos como a tanatose demonstram, acima de tudo, a riqueza da nossa biodiversidade, e como é importante investir em educação ambiental para preservá-la”, destaca o pesquisador do Butantan.
A perereca Phyllomedusa burmeisteri habita o Sudeste do Brasil; em tanatose, ela solta um cheiro parecido com o da maria-fedida
Noivo cadáver e almoço grátis
Em certos casos, a tanatose pode ter funções um tanto peculiares, como para copular. Os machos da aranha Pisaura mirabilis, por exemplo, conseguem conquistar suas namoradas por mais tempo quando entram em tanatose durante o acasalamento. Isso porque, antes de acasalar, o macho oferece à fêmea um alimento. Enquanto ela consome o presente nupcial, ele inicia a cópula. Se o namoro for interrompido pela fêmea, o macho se finge de morto, e a noiva volta a se alimentar. Nesse momento, o macho retoma a cópula.
O contrário também pode funcionar. Cientistas já observaram que borboletas fêmeas da família Satyrinae fecham as asas e fingem a própria morte quando querem recusar uma tentativa de acasalamento e mandar os machos insistentes embora.
Além do sucesso – ou da recusa – do acasalamento, a tanatose também é um recurso para obter alimento. O ciclídeo, peixe de água doce, pode simular a morte no fundo do lago para atrair peixes interessados na carcaça. Quando as vítimas chegam perto, ele rapidamente ataca e garante seu almoço.
Reportagem: Aline Tavares
Fotos: Carlos Jared; Shutterstock
Vídeo: Comunicação Butantan
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