Reportagem: Camila Neumam
Fotos: Marília Ruberti
O Instituto Butantan completou a entrega de 1,8 milhão de doses da vacina contra o Vírus Sincicial Respiratório (VSR), produzida em parceria com a farmacêutica norte-americana Pfizer, para o Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Ministério da Saúde.
Essa é a primeira vez que o imunizante, indicado para gestantes como forma de proteger recém-nascidos de bronquiolite e pneumonia, será distribuído no Sistema Único de Saúde (SUS), para onde as vacinas do PNI são encaminhadas.
“Do ponto de vista de saúde pública, a vacina é inédita para gestantes ao prevenir o adoecimento e a morte de bebês pelo vírus sincicial respiratório; e, do ponto de vista tecnológico, também é inovadora por ser uma tecnologia que acabou de ser incorporada ao Sistema Único de Saúde”, afirma o diretor de Novos Negócios do Butantan, Tiago Rocca.

A entrega faz parte de uma Parceria para o Desenvolvimento Produtivo (PDP) assinada em setembro pelo Ministério da Saúde, Butantan e Pfizer. Além da remessa de doses, a ação prevê a transferência tecnológica da vacina para o Instituto e a produção nacional de até 8 milhões de doses anuais a serem ofertadas à rede pública de saúde. As PDPs são realizadas entre instituições públicas e privadas, com o objetivo de ampliar o acesso a medicamentos, produtos e novas tecnologias no SUS.
A parceria com a Pfizer também é inédita e envolve, além da transferência de tecnologia, o fornecimento conjunto da vacina.
“O Butantan vai produzir todo o produto, desde o IFA [Ingrediente Farmacêutico Ativo], até o imunizante acabado no nosso complexo industrial, que é um preceito da PDP. Iniciando o primeiro fornecimento, já começaremos a transferência de tecnologia, que já está planejada junto com o parceiro”, destaca Tiago Rocca.

A vacina contra o VSR tem potencial para prevenir ao menos 28 mil internações por ano, oferece proteção imediata aos recém-nascidos e deve beneficiar aproximadamente 2 milhões de bebês nascidos vivos, segundo o Ministério da Saúde.
Após ser administrada em mulheres grávidas, o imunizante demonstrou 81,8% de eficácia em recém-nascidos durante os primeiros três meses de vida, segundo estudo clínico de fase 3 publicado na The New England Journal of Medicine.
A pediatra Carolina Barbieri, que é gerente médica do Butantan, destaca a importância da vacinação contra o VSR e o impacto da imunização na gestante e no bebê.
“Essa vacina promove imunização ativa na gestante, com o objetivo de gerar anticorpos e passagem dos anticorpos maternos pela placenta ou pelo leite materno aos recém-nascidos, a chamada imunização passiva.”, esclarece.

O Vírus Sincicial Respiratório ataca as vias respiratórias e os pulmões, sendo transmitido por tosse, espirros e objetos contaminados. Seus sintomas lembram o de um resfriado na maioria das pessoas, mas a doença tende a se agravar em bebês e crianças pequenas por questões imunológicas.
O VSR é responsável por 80% dos casos de bronquiolite (infecção nos bronquíolos, por onde se transporta o ar para os pulmões) e 60% das pneumonias (inflamação nos pulmões causada por bactérias, vírus ou fungos) em crianças com menos de dois anos. A cada cinco crianças infectadas pelo VSR, uma necessita de atendimento ambulatorial e, em média, uma em cada 50 acaba hospitalizada no primeiro ano de vida, segundo o Ministério da Saúde.
“O VSR causa inflamação dos bronquíolos, o que diminui a passagem de ar e pode causar dificuldades respiratórias e hospitalizações. Nas crianças muito pequenas, o quadro é mais grave porque as ramificações dos bronquíolos são ainda menores, dificultando a passagem de ar, causando crise de sibilância (chiado no peito) e insuficiência respiratória, que pode levar a óbito”, afirma Carolina Barbieri.
“Outro fator que agrava a doença nos bebês é o acúmulo de secreções nas vias aéreas, que tende a ser mais difícil de ser removida pela dificuldade de assoar o nariz e de mobilizar as secreções nas vias aéreas deles”, completa a pediatra.
Até outubro de 2025, o VSR foi responsável por 40,6% dos casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) que exigiram internação em crianças menores de dois anos, de acordo com o Boletim InfoGripe.
Como forma de prevenir a infecção nos bebês, mais vulneráveis ao vírus, o imunizante será indicado para as gestantes a partir da 28ª semana de gestação.
“Os estudos clínicos indicam que neste prazo a vacina é segura para gestantes e promove tempo hábil de produção de anticorpos e o repasse deles para o bebê. Porém, a vacina precisa ser tomada até 14 dias antes do parto para garantir a proteção adequada para a criança”, alerta Carolina Barbieri.



