Por que é errado comparar eficácia de vacinas? Dimas Covas e pesquisador do Projeto S respondem
Publicado em:
29/12/2021
Com o vírus SARS-CoV-2 se espalhando rapidamente pelo mundo, a necessidade de testar e produzir diferentes vacinas se tornou uma necessidade para combater a pandemia de Covid-19. Com a oferta maior de vacinas, porém, cada uma feita com uma tecnologia e um desempenho diferente nos ensaios clínicos, virou hábito fazer comparações de eficácia, julgando que uma vacina é melhor do que a outra. Mas os cientistas alertam: isso é um erro.
Cada vacina tem como base metodologias e tecnologias diversas, e seus estudos clínicos levam em conta particularidades específicas que não podem ser comparadas, explicou o presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas, durante o CoronaVac Symposium, que ocorre entre os dias 7, 8 e 9/12 de forma online, das 8h às 11h. “Eficácia não se compara entre vacinas. Cada vacina tem um estudo, tem um jeito de definir sua eficácia e isso não é comparável. O que se compara é a eficiência”, disse.
Ao participar da mesa redonda da tarde, após as discussões científicas, o médico e diretor técnico do Hospital Estadual de Serrana, Gustavo Volpe, um dos pesquisadores do estudo de efetividade do Projeto S, corroborou a fala de Dimas ao afirmar que comparar os tipos de imunizantes é errado porque eles têm intervalos de confiança diferentes, que é uma questão estatística.
“A gente tem que ver a efetividade na população que estamos observando. Fazer a comparação é errado. As vacinas são testadas em cenários diferentes, em níveis da pandemia diferentes. Se você vacinar a população em uma população mais controlada, a eficácia vai lá para cima”, disse. Esta diferença de cenários explica ainda porque a eficácia de uma mesma vacina pode mudar em um cenário de vida real, nos estudos de efetividade, explica o médico.
“O estudo do Butantan que identificou a eficácia de 50,8% foi em uma população muito exposta à possibilidade de contágio [profissionais de saúde], por isso foi mais baixa. Mas a realidade se impõe. O que vimos em enorme escala foi uma redução sensível dos casos, redução de mortes e internações, e hoje estamos em uma situação mais tranquila por causa das vacinas, principalmente a CoronaVac. O que observamos no Brasil hoje é o que observamos em Serrana meses atrás”, explicou Gustavo.
Dimas lembrou que é exatamente por estas mudanças de cenário que os estudos de efetividade tendem a trazer resultados diferentes dos estudos clínicos. “Quando se olha a vacinação em massa, você vê o resultado. Por isso, não há diferença no ponto de vista de resultado entre a CoronaVac e qualquer uma das outras vacinas”, completou o presidente do Butantan.
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