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Butantan lamenta o falecimento do professor Erney Camargo, pesquisador e ex-diretor do Instituto

Erney foi um dos mais renomados parasitologistas do Brasil, contribuindo no combate às doenças tropicais negligenciadas


Publicado em: 06/03/2023

O parasitologista e ex-diretor do Instituto Butantan (2002-2003) Erney Plessmann de Camargo faleceu na sexta (3/3) em São Paulo aos 87 anos. Professor Emérito e médico formado pela Universidade de São Paulo (USP), Erney se destacou por sua incansável contribuição no ensino e no combate às doenças parasitárias no Brasil, como a malária e a Doença de Chagas, especialmente na região da Amazônia com populações ribeirinhas.

No Butantan, começou como estagiário em 1959, trabalhando em biossíntese de proteínas com o professor Sebastião Baeta Henriques. Anos mais tarde, dirigiu o Instituto, entre 2002 e 2003, e também ocupou o cargo de diretor da Fundação em 2009 e em 2017. Integrou, ainda, o Conselho Curador do Butantan, colaborando para manter o bom funcionamento da instituição.

“Como diretor do Butantan, Erney sempre se mostrou muito aberto às demandas dos funcionários. Quando deixou a direção para assumir a presidência do CNPq, continuou contribuindo fortemente para o desenvolvimento da pesquisa no instituto e no Brasil”, conta a pesquisadora do Butantan Ana Maria Moura.

Com currículo extenso, Erney foi pró-reitor de Pesquisa da USP, presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e presidente da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio). Durante sua gestão no CNPq, em 2004, implantou a versão online da Plataforma Lattes, ferramenta importante para pesquisadores e pesquisadoras de todo o Brasil.


Seu primeiro trabalho independente, publicado em 1964, sobre o crescimento e diferenciação do Trypanosoma cruzi, causador da Doença de Chagas, é frequentemente citado na literatura científica internacional até hoje. Na década de 1980, Erney uniu esforços para pesquisar a epidemiologia da malária, a resposta imune ao parasita Plasmodium vivax e a biologia dos mosquitos que transmitem a doença.

Uma das descobertas mais importantes, que mudou o entendimento da malária em regiões endêmicas, foi a existência de pacientes assintomáticos. Por não serem diagnosticadas, as populações frequentemente expostas ao parasita que adquiriam imunidade acabavam ajudando a manter a transmissão, dificultando o controle da malária.

Com uma vida inteira dedicada à saúde pública e ao combate de doenças tropicais negligenciadas, “usando a ciência a serviço da população”, como ele mesmo dizia, nos últimos anos Erney continuou investigando protozoários do gênero Trypanosoma, inclusive aqueles sem importância médica. Em entrevista à Revista Pesquisa FAPESP em 2013, afirmou: “Continuo trabalhando e é um prazer. Gosto de fazer ciência e não preciso mais pensar em carreira.”

Erney Camargo deixa quatro filhos, Marcelo, Fernando, Eduardo e Anamaria, que seguem os seus passos em carreiras científicas, a esposa, Marisis, professora universitária na área de Literatura Inglesa, e 11 netos.