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Nova variante ômicron deve afetar mais quem não tomou a vacina, como crianças e adolescentes


Publicado em: 15/12/2021

A nova variante ômicron do SARS-CoV-2, descrita no final de novembro na África do Sul e que já fez sua primeira vítima fatal no Reino Unido, deve afetar mais os públicos não vacinados – categoria que, no Brasil, inclui as crianças menores de 12 anos. De acordo com especialistas do Butantan e pesquisadores participantes do CoronaVac Symposium, realizado entre os dias 7 e 9/12, as crianças são uma população muito numerosa e vulnerável para ser exposta ao risco da falta de vacinas. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 2018, há 35,5 milhões de brasileiros com menos de 12 anos.

Em um comunicado divulgado no final de novembro sobre a vacinação de crianças e adolescentes, a Organização Mundial da Saúde (OMS) citou um estudo feito na Índia entre junho e julho, após a segunda onda da variante delta, mostrando que os indicadores de positividade da doença parecem afetar jovens de seis a 18 anos da mesma forma que adultos. Além disso, as evidências apontam para taxas de infecção similares em jovens e adultos, e que crianças de todas as idades podem ser infectadas e transmitir o vírus.

De acordo com a médica infectologista Natasha Ferreira, do Hospital Estadual de Serrana, com a imunização dos idosos e adultos, as demais faixas etárias precisam ser incluídas no plano de imunização para frear o avanço do SARS-CoV-2. “É um risco manter um número tão grande da nossa população não imunizada. As crianças e adolescentes, além de estarem expostos, passam a ser vetores. E quanto mais o vírus se espalha, mesmo em casos leves, maior a chance de surgirem mutações e outras variantes, que talvez sejam resistentes às vacinas. Precisamos começar a vacinar crianças o mais rápido possível para garantir a segurança de todos nós”, alertou Natasha durante uma das mesas redondas do CoronaVac Symposium.

Segundo o médico sanitarista Gonzalo Vecina Neto, fundador e ex-diretor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a pandemia de Covid-19 só será vencida quando a cobertura vacinal se estender a todos os públicos e todos os países, e para isso é necessário utilizar todos os imunizantes disponíveis que tiveram sua segurança e eficácia comprovada – como é o caso da CoronaVac.

Para Vecina, que também participou das mesas redondas do simpósio, a vacina do Butantan e da Sinovac deveria ser usada imediatamente na vacinação de crianças e adolescentes contra a Covid-19 no Brasil. “Temos a tarefa de vacinar todas as nossas crianças tendo uma vacina eficaz e segura em estoque aqui no Butantan. A ignorância em relação a utilizar a CoronaVac para vacinar nossas crianças e jovens é imperdoável”, assinalou ele. “A CoronaVac se mostrou uma vacina eficaz e, provavelmente, de todas a mais segura. Nós deveríamos estar fazendo essas apostas.”

 

Falta de vacinação favorece o surgimento de mutações

As mutações acontecem quando um vírus se prolifera. No momento da replicação do material genético, podem acontecer erros na sequência de RNA que favorecem o aparecimento de uma cepa talvez mais perigosa do que as até então existentes. A pesquisadora científica e vice-diretora do Centro de Desenvolvimento Científico do Instituto Butantan, Maria Carolina Sabbaga, explica que isso acontece quando há alta transmissibilidade, como ocorreu no auge da primeira e segunda onda de Covid-19 no Brasil, ou seja, o vírus está infectando muitas pessoas, surgem variantes.

“Estamos em um mundo globalizado e não adianta vacinar uma parte do mundo e não vacinar a outra. Nós estamos todos juntos. Se a gente não vacinar todos, se a gente não proteger todo mundo, não vamos resolver essa pandemia. É a mesma coisa da gente vacinar só São Paulo e não vacinar o entorno: começam a chegar variantes de outros lugares”, explica ela.