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Vacina contra tuberculose do Butantan pode ser aliada para tratar a doença, diz estudo

Imunizante funcionaria como tratamento adjuvante, reduzindo o tempo da terapia tradicional e seus efeitos adversos


Publicado em: 16/11/2022

Uma nova vacina recombinante contra a tuberculose, em desenvolvimento no Instituto Butantan, além de fornecer proteção, mostrou ter um efeito terapêutico em testes pré-clínicos. Segundo estudo publicado na revista Frontiers in Immunology, a hipótese é que o imunizante poderia atuar como tratamento adjuvante, diminuindo a necessidade da terapia tradicional. Isso ajudaria a aumentar a permanência dos pacientes no tratamento, já que hoje muitos desistem antes da conclusão por não suportarem os efeitos colaterais. Com 10 milhões de novos casos e 1,5 milhão de mortes por ano, um dos maiores desafios da tuberculose é o longo tratamento de seis meses, feito com drogas quimioterápicas que causam reações adversas intensas. 

Segundo a pesquisadora Luciana Leite, do Laboratório de Desenvolvimento de Vacinas, mesmo quando os sintomas do paciente melhoram, é essencial seguir a terapia até o fim. Caso contrário, a bactéria Mycobacterium tuberculosis não é eliminada totalmente, voltando a se multiplicar e causando o retorno da doença. “As bactérias também podem desenvolver resistência aos antibióticos anteriormente aplicados, exigindo o uso de novos medicamentos. Quando interrompido, o tratamento pode se estender por mais dois anos”, diz.

 

O estudo mostrou que aplicar a vacina do Butantan em modelos animais infectados, após uma dosagem inicial do tratamento convencional, reduz significativamente a quantidade de bactérias e a inflamação no pulmão por pelo menos dois meses. A concentração de bactérias no pulmão caiu de aproximadamente 1 milhão para 1.500. Com a quimioterapia interrompida e sem aplicação da vacina, a concentração foi de cerca de 15.000 (aumentando rapidamente após a interrupção do tratamento). 

Os pesquisadores também testaram tratar os animais somente com o imunizante, porém o efeito não foi tão pronunciado quanto a combinação de quimioterapia e vacina. “A quimioterapia sozinha é muito eficiente. Mas dentro da realidade de tantos pacientes que abandonam o tratamento, a vacina pode ser uma importante estratégia terapêutica.”

O próximo passo é fazer um acompanhamento mais longo para verificar se o método é capaz de eliminar completamente as bactérias e quanto tempo levaria para isso acontecer. Além disso, a equipe trabalhará com camundongos modificados que mimetizam o sistema imune de uma pessoa, para obter dados mais semelhantes à doença humana.

 

Sobre a vacina

A vacina recombinante do Butantan, com tecnologia já patenteada, é produzida a partir da inclusão de um adjuvante no imunizante original BCG (Bacilo de Calmette e Guérin), a proteína LTAK63 – fragmento detoxificado da toxina LT da bactéria E. coli. Essa proteína potencializa a resposta imune induzida pela vacina.

Em estudo anterior feito em modelos animais, a BCG recombinante forneceu maior proteção do que a BCG tradicional, gerando maior imunidade de curto e longo prazo e melhorando a função pulmonar.