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Barbie também é animal: bichos cor-de-rosa são raros e podem ser albinos; conheça algumas espécies

Especialistas do Butantan dão detalhes de onde ocorrem e como vivem estes animais; alguns estão em extinção pela exuberância de suas cores


Publicado em: 31/07/2023

O mundo ficou mais cor-de-rosa com a divulgação do novo filme "Barbie". Mas não é só nas telonas que a vida ganha toques rosados: vários tons desta coloração já são presentes na natureza, e existem diversos porquês para isso acontecer. Em geral, as cores têm funções bem claras nos animais: defesa e reprodução.

As cores berrantes servem como um aviso para o predador de que o animal é tóxico. É como se ele dissesse: eu sou bem colorido e tenho um veneno daqueles. Se você tentar me comer, vai se dar mal”, diz o pesquisador Carlos Jared, diretor do Laboratório de Biologia Estrutural do Butantan.

O animal que chama atenção pela cor é chamado pela ciência de apossemático. O termo vem de apossematismo, uma junção das palavras gregas apo (longe de); sema (sinal); atica (série ou conjunto), que significa algo como “série de sinais para se afastar”. 

A cor forte ajuda também a intimidar predadores. Essa estratégia de defesa tem outro nome científico: animais deimáticos ou deimatismo. O termo foi criado a partir da palavra deimos, que no grego significa pânico. “Animais de cores fortes podem causar um certo pavor nos predadores, que fogem deles”, diz Carlos.

Mas quem disse que as cores só servem para afugentar predadores? Elas também servem para unir casais no reino animal. “As cores ficam ainda mais realçadas em épocas de reprodução, como forma de atrair machos ou fêmeas para o acasalamento”, explica o pesquisador.

Não faltam pretendentes para a Cacatua-galah (gênero Eolophus),que ocorre na Austrália

 

Por que os animais são coloridos?

A origem das cores nos animais tem relação com a genética de cada espécie e com questões evolutivas. 

“As células chamadas cromatóforos têm a capacidade de produzir as cores dos animais. Elas vão se modificando com a evolução do animal, justamente para suas cores terem impacto entre os predadores e na reprodução, e assim manter a sobrevivência das espécies”, explica Jared.

No caso específico do cor-de-rosa, algumas espécies apresentam a tonalidade por questões genéticas consideradas bem raras. É o caso de animais com albinismo, condição associada à ausência de melanina na pele. O termo vem do latim albus, que significa branco. Outra condição é o xantismo, uma anomalia cromática de origem genética, na qual ocorre a predominância do pigmento amarelado. O termo vem da palavra grega xanthos, que significa amarelo. 

“É muito comum espécies albinas ou com xantismo terem tons rosados, pois, devido à ausência de pigmentos ou presença de pigmentos muito claros, podemos ver a cor do sangue e dos músculos por transparência. Não é a presença da cor rosa propriamente dita”, explica o biólogo e herpetólogo do Laboratório de Coleções Zoológicas do Instituto Butantan Francisco Luís Franco.

Esta Vipera (família Viperidae), que ocorre na Europa, África e Ásia, é albina

A exuberância destes animais causa brilho nos olhos, mas também um problema: como são exóticos e belos, há quem os adote como animais de estimação, o que não deveria acontecer. “Alguns animais, especialmente os albinos, existem por uma série de reproduções feitas em cativeiro afim de se chegar a uma coloração mais clara e considerada exótica. Estes animais passam a ser considerados ‘pets’, quando, na realidade, não deveriam estar na casa das pessoas, porque alguns são selvagens e pode ser perigoso”, ressalta o pesquisador.

Que tal conhecer algumas espécies com estas características antes de pegar a pipoca e entrar no Barbiecore?

 

Axolotle

Este anfíbio parece ter saído de um desenho animado. Mas é uma salamandra da ordem Urodela e do gênero Ambystoma, que está em extinção na natureza. A Ambystoma mexicanum é nativa do México, e é criada como animal de estimação em alguns países justamente por sua aparência. Este exemplar é albino, mas eles podem ter diferentes cores. Uma de suas principais características é seu alto poder de regeneração. Seu nome tem origem asteca e significa “monstro aquático”.

 

Borboleta de papel de arroz

A beleza de suas asas translúcidas e extremamente finas lhe deu este nome popular. Mas a Idea leuconoe é uma espécie de borboleta da família Nymphalidae, com origem no sudoeste asiático. É conhecida pela sua presença em estufas e exposições de borboletas. E, como já disseram os especialistas, não se engane com a beleza de sua cor: ela extrai e acumula alcaloides das plantas de que se alimenta, o que a torna venenosa para os pássaros, seus predadores naturais.

 

Boto cor-de-rosa 

O exuberante animal se torna naturalmente rosado quando adulto, sendo a cor-de-rosa mais predominante nos machos. Este boto pertence a três espécies de golfinhos fluviais do gênero Inia, que se distribuem nas bacias dos rios Amazonas e Solimões (I. geoffrensis), na sub-bacia Boliviana (I. boliviensis) e na bacia do rio Araguaia (I. araguaiaensis). Não os confunda com golfinhos vistos no mar – estes pertencem à família Delphinidae. No Brasil, também são conhecidos como boto-malhado, cabeça-de-balde ou uiara.

 

Cobra-de-duas-cabeças 

Ao contrário do nome, este animal não é uma serpente, mas um anfisbenídeo. Da espécie Blanus cinereus, pertence a subordem Amphisbaenia e a família Blanidae. Em geral, não apresenta pigmentação porque vive embaixo da terra. Justamente por isso, o sangue fica mais perto da pele e, assim, sua coloração se mantém rosada ou avermelhada. 

No Brasil, os anfisbenídeos são chamados popularmente de cobras-de-duas-cabeças, tendo em vista que o formato da cauda é muito semelhante ao da cabeça. Esta característica permite que eles enganem os predadores. Quando são atacados pela cauda, revidam com uma mordida poderosa. Por viverem no subterrâneo, enxergam apenas fachos de luz, embora tenham o olfato bastante apurado e o corpo todo atuando como ouvidos aguçados.

 

Jiboia-rosada

Essa é uma serpente da família Boidae e da espécie Boa constrictor. É nativa das Américas do Sul e Central, sendo dividida em várias subespécies. Todas possuem a cauda com tons de cor-de-rosa, e, em algumas delas, o tom rosado é espalhado pelo corpo, principalmente na lateral. Ocorre no Brasil e em vários outros países das Américas do Sul e Central. Em algumas, o rosado é consequência do albinismo ou do xantismo.

 

Naja

Trata-se de uma serpente peçonhenta da família Elapidae e gênero Naja. Esta é albina e por isso apresenta um tom mais claro de cor-de-rosa. Ocorrem na África e no Sul e Sudeste asiático. São conhecidas popularmente como najas ou cobras-capelos. 

 

Pomba-rosada 

Pode parecer uma ave pintada à mão, mas é a pomba-rosada (Nesoenas mayeri). Ela é uma espécie da família Columbidae, endêmica das Ilhas Maurício, na África. Esteve à beira da extinção nos anos 90, mas conseguiu sobreviver e se reproduzir após esforços de organizações ambientais. Ela geralmente apresenta plumagem cor-de-rosa na cabeça, ombros e ventre, além dos pés e bico. 

 

Anthias quadrado

De grande beleza, este peixe marinho com nadadeiras raiadas chama atenção pela explosão de cores, especialmente um rosa-choque semelhante à paleta da Barbie. Os machos são de cor rosa escuro e laranja e as fêmeas são de cor amarelada com escamas em cor laranja. Da subfamília Anthiinae e família Serranidae, é a mesma das garoupas e robalos. Esta espécie vive nos recifes do Oceano Pacífico em profundidades de 10 a 180 metros. Geralmente crescem até 20 cm de comprimento. 

 

Sapo-arlequim

Também adepto do rosa-choque, entre outras cores vivas, o sapo-arlequim é descrito como um conjunto de 99 espécies do gênero Atelopus. Esses anfíbios estão distribuídos por 11 países da América Central e do Sul, desde a Costa Rica até a Bolívia, e em algumas localidades da bacia amazônica e da Guiana Oriental. Sua cor chamativa também serve para afugentar predadores. Por sua rara beleza, 90% das espécies estão ameaçadas de extinção, 40% são consideradas possivelmente extintas e quatro espécies já desapareceram, de acordo com a Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).

 

Reportagem: Camila Neumam

Fotos: Shutterstock