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Com aumento da cobertura vacinal e vigilância, Brasil não registra casos de sarampo desde 2022

Vacinação aumentou entre 2021 e 2023, mas ainda está distante da meta de 95%; país tenta recuperar certificado de eliminação da doença


Publicado em: 19/06/2024

O vírus do sarampo não é transmitido no Brasil desde junho de 2022, de acordo com o Ministério da Saúde. A ausência de casos da doença, que é potencialmente grave e fatal em crianças, é consequência direta do aumento na vacinação e do aprimoramento da vigilância epidemiológica. Nos últimos três anos, a cobertura vacinal completa (duas doses) subiu de 53,2% para 63,5% no país, enquanto a aplicação da primeira dose aumentou de 74,9% para 86,9%. A recomendação, porém, é que a taxa atinja pelo menos 95%, uma meta ainda distante.

Junto ao reforço da imunização, o Plano de Ação para Interrupção do Sarampo no Brasil, lançado em 2022 pelo Ministério da Saúde, tem focado na vigilância ativa para detectar, reportar e acompanhar casos importados por viajantes. A vacina tríplice viral (contra sarampo, caxumba e rubéola) está disponível gratuitamente no Sistema Único de Saúde (SUS) a partir dos 12 meses de idade e também pode ser aplicada em adolescentes e adultos não vacinados na infância.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que o imunizante contra o sarampo evitou 57 milhões de mortes globalmente nos últimos 20 anos. A entidade ressalta que a vacinação é comprovadamente segura e é a melhor forma de se proteger e evitar a transmissão para outras pessoas.
 



A região das Américas foi a primeira do mundo considerada zona livre da doença, em 2016. O Brasil chegou a receber o certificado de erradicação do sarampo pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), conquista aliada ao fortalecimento das campanhas de vacinação e vigilância de casos importados. No entanto, o país perdeu o título em 2019 após uma nova epidemia de mais de 20 mil casos. 

O motivo foi a queda da imunização, que saiu da faixa dos 90% para os 70% entre 2014 e 2018, e acabou tornando o país mais suscetível à disseminação da doença por meio de casos importados. Para se ter ideia do nível de contágio, um indivíduo infectado pode transmitir o vírus para 90% das pessoas próximas que não estejam imunes, segundo o Ministério.

A última onda de surtos começou em 2018 na região Norte, que concentrou 99% das 9 mil infecções naquele ano, devido a casos importados da Venezuela. No ano seguinte, a maior parte dos 20 mil casos (88%) se concentrou no Sudeste, mais especificamente em São Paulo, que tem um grande fluxo de circulação de viajantes.

No resto do mundo, o sarampo também continua sendo motivo de preocupação. Cerca de 22 milhões de crianças não completaram o esquema vacinal em 2022, resultando em um aumento de 18% nos casos e de 43% nas mortes pela doença em relação ao ano anterior. Apesar da alta na cobertura, em números absolutos, o Brasil ainda está entre os dez países com mais crianças não vacinadas, segundo a OMS. Na Europa, os casos aumentaram em 30 vezes nos últimos dois anos, também acompanhados de uma queda na cobertura vacinal.



Sarampo pode causar pneumonia e dano cerebral

Os principais sintomas do sarampo são manchas vermelhas no corpo e febre alta (acima de 38,5°C), que podem ser acompanhados de tosse seca, irritação nos olhos, nariz escorrendo ou entupido e mal-estar intenso. O vírus é transmitido facilmente por gotículas ao tossir, espirrar ou falar.

As manchas vermelhas costumam aparecer três a cinco dias após a infecção, a princípio no rosto e atrás das orelhas, e depois se espalham pelo corpo. Um sinal de alerta que pode indicar gravidade é quando a febre persiste por mais de três dias após o aparecimento das manchas. 

O sarampo pode se manifestar de forma grave, especialmente em crianças pequenas e adultos acima de 30 anos, e pode causar pneumonia, encefalite, convulsões, e, em casos raros, danos cerebrais permanentes. Veja a incidência das complicações no público infantil, segundo o Ministério da Saúde:

•    Pneumonia (infecção no pulmão) – 1 em cada 20 crianças pode desenvolver pneumonia, causa mais comum de morte por sarampo em crianças pequenas
•    Otite média aguda (infecção no ouvido) – 1 em cada 10 crianças pode sofrer de perda auditiva permanente
•    Encefalite aguda (inflamação no cérebro) – até 4 em cada 1.000 crianças podem desenvolver essa complicação, e 10% delas podem morrer
•    Morte – até 3 a cada 1.000 crianças podem morrer em decorrência da doença

Como não existe um remédio específico para combater o sarampo, o tratamento é feito com base na melhora dos sintomas e na prevenção de complicações. As recomendações da OMS envolvem a suplementação com vitamina A, bem como manter-se bem hidratado e com uma alimentação saudável. 





Eliminação da doença no Brasil

No início de maio, o Instituto Butantan sediou um evento da Comissão Regional da OPAS de Monitoramento e Reverificação da Eliminação do Sarampo, Rubéola e Síndrome da Rubéola Congênita. Na ocasião, representantes do Ministério da Saúde e das Secretarias Estadual e Municipal de Saúde de São Paulo apresentaram o trabalho que vem sendo feito para o controle do sarampo no país. A expectativa é que o país recupere o certificado de erradicação da doença.

Entre as ações, há a ampliação do funcionamento das salas de vacinação, programas de imunização em escolas, workshops de capacitação para todos os estados, busca ativa de casos suspeitos de sarampo nas unidades de saúde e o acompanhamento e rápida resposta para conter possíveis casos importados.
 

Reportagem: Aline Tavares

Fotos: Governo do Estado de São Paulo e Shutterstock