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Uma mãe cobra que não abandona o ninho: conheça a píton birmanesa

Após botar os ovos, a píton birmanesa enrola-se em torno deles e os “choca” durante três meses, até a eclosão


Publicado em: 03/05/2022

No mundo animal, as cobras não têm a fama de serem as melhores mães. No imaginário popular, esses répteis são considerados animais frios e calculistas, que botam seus ovos e vão embora. De fato, existe uma grande diversidade de estratégias reprodutivas entre os répteis, que variam de espécie para espécie, e são poucas as serpentes que apresentam cuidado parental.

Mas a natureza pode nos surpreender com ótimas mamães cobras. Um exemplo é a píton birmanesa (Python bivittatus), uma espécie não peçonhenta do sudeste asiático que chama a atenção pelo seu comprimento – a maior fêmea registrada possuía 5,8 metros. Ela é considerada uma das maiores cobras do mundo, ao lado da brasileira sucuri-verde (Eunectes murinus) e da também asiática píton reticulada (Malayopython reticulatus).



Além do tamanho, o diferencial da píton birmanesa é o cuidado com os filhotes. Após botar os ovos, a fêmea enrola-se em torno deles e os “choca” durante dois a três meses, até a eclosão. A maior ninhada registrada foi de uma fêmea com 122 ovos para se ter uma ideia, um ovo dessa espécie pesa em média 200g!

Esse comportamento difere das outras espécies de serpentes que botam ovos (ovíparas): normalmente, elas botam seus ovos em locais úmidos e protegidos do calor e não acompanham a eclosão. Já nas espécies vivíparas, o desenvolvimento dos filhotes acontece dentro da mãe, principalmente em habitats onde as temperaturas são mais baixas e secas.

Como os répteis são animais de sangue frio (ectotérmicos), para aquecer seus ovos a píton vibra diferentes músculos do corpo, o que eleva sua temperatura.

No Brasil, outra espécie que realiza cuidado parental com seus ovos é a surucucu (Lachesis muta).

 


Infelizmente, a píton birmanesa é uma espécie considerada ameaçada de extinção pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), na categoria “Vulnerável”. Ela se encontra ameaçada devido ao desmatamento em seu habitat natural e sua captura ilegal na natureza.

 

*A matéria contou com a colaboração e fotos do diretor do Museu Biológico, Giuseppe Puorto, e do biólogo Fabiano Morezi.