No mundo animal, as cobras não têm a fama de serem as melhores mães. No imaginário popular, esses répteis são considerados animais frios e calculistas, que botam seus ovos e vão embora. De fato, existe uma grande diversidade de estratégias reprodutivas entre os répteis, que variam de espécie para espécie, e são poucas as serpentes que apresentam cuidado parental.
Mas a natureza pode nos surpreender com ótimas mamães cobras. Um exemplo é a píton birmanesa (Python bivittatus), uma espécie não peçonhenta do sudeste asiático que chama a atenção pelo seu comprimento – a maior fêmea registrada possuía 5,8 metros. Ela é considerada uma das maiores cobras do mundo, ao lado da brasileira sucuri-verde (Eunectes murinus) e da também asiática píton reticulada (Malayopython reticulatus).
Além do tamanho, o diferencial da píton birmanesa é o cuidado com os filhotes. Após botar os ovos, a fêmea enrola-se em torno deles e os “choca” durante dois a três meses, até a eclosão. A maior ninhada registrada foi de uma fêmea com 122 ovos – para se ter uma ideia, um ovo dessa espécie pesa em média 200g!
Esse comportamento difere das outras espécies de serpentes que botam ovos (ovíparas): normalmente, elas botam seus ovos em locais úmidos e protegidos do calor e não acompanham a eclosão. Já nas espécies vivíparas, o desenvolvimento dos filhotes acontece dentro da mãe, principalmente em habitats onde as temperaturas são mais baixas e secas.
Como os répteis são animais de sangue frio (ectotérmicos), para aquecer seus ovos a píton vibra diferentes músculos do corpo, o que eleva sua temperatura.
No Brasil, outra espécie que realiza cuidado parental com seus ovos é a surucucu (Lachesis muta).
Infelizmente, a píton birmanesa é uma espécie considerada ameaçada de extinção pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), na categoria “Vulnerável”. Ela se encontra ameaçada devido ao desmatamento em seu habitat natural e sua captura ilegal na natureza.
*A matéria contou com a colaboração e fotos do diretor do Museu Biológico, Giuseppe Puorto, e do biólogo Fabiano Morezi.