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Soros salvam: Picado por cobra em parque de SP, jovem se recupera ao receber soro em hospital do Butantan na semana de Natal

Garoto picado por jararaca em parque de São Paulo chegou ao Hospital Vital Brazil em estado crítico, mas se recuperou após receber antiveneno


Publicado em: 27/02/2024

Poucos dias antes do Natal de 2023, o paulistano Matheus Pereira resolveu fazer a trilha da Pedra Grande, no Parque da Cantareira, para tirar umas fotos. Era uma tarde nublada na zona norte de São Paulo (SP), mas que logo daria lugar a uma chuva forte. O garoto, de 18 anos, pegou o celular para avisar a mãe que estava tudo bem. Mas, ao dar um passo atrás, o clima de tranquilidade mudou. Ele sentiu uma fisgada dolorosa na perna enquanto uma cobra de pouco mais de um metro rastejava pelo chão. “Uma jararaca me mordeu!”, pensou.

Matheus foi socorrido por técnicos de enfermagem que passeavam no local e funcionários do parque fizeram os primeiros socorros – tudo em meio à chuva intensa de verão daquele 17 de dezembro de 2023. A mãe ouviu tudo pelo telefone e foi buscá-lo imediatamente. 

“O estado dele era bom, mas quando eu entendi que era uma picada de jararaca a coisa mudou de figura. A administração do parque me orientou a ir ao Hospital Vital Brazil, mas, quando o SAMU chegou, recomendaram levá-lo direto ao hospital público mais próximo”, conta a auxiliar de enfermagem Melissa Lopes Pereira, de 43 anos, mãe de Matheus.

Matheus Pereira quando recebeu alta hospitalar após 10 dias de internação

 

Dor da espera

O jovem foi levado diretamente para a emergência de um hospital da região. Sua perna apresentava inchaço e edema. Quando foi atendido, ouviu do médico que não se tratava de uma picada de cobra, muito menos de uma espécie peçonhenta. Incrédulo, recebeu a prescrição de um corticoide e hidratação com soro.  A mãe contestou o diagnóstico: “Ele estuda muito sobre ofídios. Pode até não ser uma jararaca, mas olhando a perna dele há sinais de peçonha e ele precisa de um atendimento rápido”, disse Melissa, acreditando realmente se tratar de uma picada de cobra.

Em contrapartida, a mãe ouviu que o filho seria encaminhado para o Instituto de Infectologia Emílio Ribas, na região central, onde iriam reavaliar se se tratava de uma picada de cobra e, em caso afirmativo, se era peçonhenta. Preocupada com a evolução do caso e com uma possível demora na transferência, Melissa lembrou do conselho anterior e procurou o telefone do Hospital Vital Brazil (HVB) na internet. “Fui atendida muito prontamente por um enfermeiro que pediu para o médico que avaliou o Matheus entrar em contato com a equipe de lá, assim poderiam falar de médico para médico. Em nenhum momento ele sugeriu para sairmos de onde estávamos”, lembra Melissa.

A busca pelo profissional foi sem sucesso e, após horas de espera pela remoção, Melissa e o marido decidiram levar por conta própria o filho para o hospital localizado dentro do Instituto Butantan.

Atendimento humanizado

Já era noite quando a família chegou ao HVB e foi recepcionada pelo enfermeiro e pela médica de plantão. 

“Eles já estavam a postos e fizeram os procedimentos iniciais até que a doutora me chamou e constatou que era uma picada de jararaca. Ela deixou claro que havia riscos porque ele já estava incoagulável e em perigo de quadro hemorrágico. Achei o tratamento tão prudente, que fiquei segura”, disse.

Fazia mais de 6 horas do acidente e Matheus apresentava manchas vermelhas pelo corpo e prostração, além do inchaço e do edema na perna. Foi medicado para conter a reação alérgica e recebeu a infusão de soro antibotrópico. Uma infecção foi constatada na perna e Matheus precisou passar 10 dias internado no hospital para completar o ciclo de antibióticos. “Eu estava muito nervosa na primeira noite, mas fui muito bem acolhida pela equipe, que me tratou com carinho e de uma forma muito humana”, afirma Melissa.

A mãe também se surpreendeu com a rapidez e com a efetividade dos procedimentos adotados no HVB.

“Eu não esperava uma recuperação tão rápida [após o soro]. A dosagem inicial foi adequada porque nem precisou de reinfusão. O tratamento com antibiótico e o dreno colocado na perna foram tão corretos que a inflamação já tinha diminuído no dia seguinte e até a alta acredito que foi em tempo adequado”, constata.

Durante a internação, Matheus precisava praticar a mobilidade em prol de uma melhor recuperação. Para garantir que o jovem sairia do leito, ele foi incentivado a visitar alguns museus do Parque da Ciência Butantan. No Museu Biológico ele pode ver fisicamente as serpentes que tanto gosta e aprender um pouco mais com os educadores. “Ele conhecia serpente por serpente porque o sonho dele é fazer Biologia”, lembra a mãe.

Com o menino no hospital, a expectativa era que o Natal em família seria adiado. Mas, para a surpresa de Melissa, e pelo bom andamento da recuperação de Matheus, a equipe autorizou o garoto a passar a véspera do feriado em casa, com a condição de que ele voltasse na manhã seguinte ao HVB. A chegada surpreendeu os demais familiares, que ficaram muito emocionados.

“Fomos direcionados ao melhor lugar que ele poderia ter sido atendido e onde ele foi salvo. Apesar de estar exausta, eu tinha muito o que comemorar, principalmente a vida do meu filho. Foi o melhor Natal da minha vida”, confessa Melissa.

Matheus pode passar o Natal com a família e voltar no dia seguinte ao hospital

 

Do susto à gratidão

Melissa acredita que fez a melhor escolha em levar o filho ao HVB, mesmo tendo plano de saúde, pela conjunção de fatores envolvidos no atendimento do filho. “O ambiente do Butantan é muito tranquilo, todo mundo com um sorriso no rosto, uma cordialidade para receber os visitantes, é surpreendente. Tudo isso contribuiu imensamente para a recuperação dele, que teve um atendimento de excelência. Ele não teve sequela nenhuma”, afirma.

A experiência também a fez refletir sobre como proceder em caso de acidente ofídico e sobre como é possível ser acolhedor no atendimento hospitalar. “Eu não conhecia o HVB e acho importante outras pessoas saberem que existe um hospital especializado em atender pacientes picados por cobras e saberem também que podem pedir ao médico para ligar para lá em caso suspeito ou comprovado”, conclui.

 

Reportagem: Camila Neumam

Foto: Arquivo pessoal Melissa Lopes Pereira