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“Esperança” é encontrada e monitorada; espécie de jiboia está ameaçada de extinção


Publicado em: 02/06/2021

Há apenas nove registros da Corallus cropanii, a jiboia do Ribeira, ameaçada de extinção e também conhecida como a mais rara do mundo. Entre essas nove cobras registradas, somente três foram encontradas com vida: a primeira delas em 1953, quando foi descrita por um pesquisador do Instituto Butantan, Alphonse Richard Hoge. As duas últimas, após o início das atividades de educação ambiental do Projeto Jiboia do Ribeira, em Sete Barras, São Paulo. A jiboia do Ribeira é endêmica do Vale do Ribeira, ou seja, encontrada exclusivamente na região da Mata Atlântica.

Em outubro de 2020, uma delas, uma fêmea adulta batizada de Esperança pela comunidade do entorno, foi encontrada por Paulo Vinicius Teixeira e Willian Daniel Martins, responsáveis pela ação comunitária Mãos que Protegem e funcionários do Parque Estadual Intervales (PEI). Esperança permaneceu em cativeiro por seis meses na base do PEI para garantir sua saúde e bem-estar, realizar análises clínicas e coleta de dados científicos. 

A jiboia passou por um ultrassom e por uma microcirurgia para implantação de um radiotransmissor (doado e implantado pelo veterinário Vinicius Gasparotto) antes de ser solta na natureza com o apoio do Instituto Butantan. Nos próximos meses, Esperança será monitorada em seu habitat natural por meio da radiotelemetria, que permite saber onde o animal está e coletar dados sobre comportamento e hábitos de vida. 

Os estudos têm sido fundamentais para ampliar o conhecimento acerca da espécie e favorecer a elaboração de estratégias para sua conservação. "É um sonho para qualquer herpetólogo visualizar uma jiboia do Ribeira na natureza. Ver a serpente tomando seu rumo no dia a dia, desenvolvendo suas atividades naturais, é fantástico e agrega muito cientificamente. Nosso objetivo é conhecer e monitorar cada vez mais indivíduos para conseguir entender por que os encontros são tão raros", explica a herpetóloga e pesquisadora do Projeto Jiboia do Ribeira, Daniela Gennari.

Outro ponto fundamental da narrativa é o protagonismo da comunidade do Guapiruvu como guardiões da jiboia do Ribeira. "Eles abraçaram essa causa conosco e estão nos ajudando a chegar em outros bairros próximos, onde espécimes de Corallus cropanii ainda são mortos por medo ou falta de conhecimento. A comunidade está diariamente com rádio e antena na mão ajudando no monitoramento", reforça a pesquisadora.

A raridade da espécie de Esperança também chama atenção para a conservação do seu habitat natural. "Sabemos que a Mata Atlântica vem sendo devastada historicamente, restando uma pequena porcentagem da sua formação original. O lar da jiboia do Ribeira parece estar intimamente ligado ao maior contínuo de floresta atlântica preservada. Isso reforça a importância de políticas de preservação e conservação para manutenção da biodiversidade local", explica a herpetóloga.

Para a soltura do animal, foram reunidos representantes da comunidade, Projeto Jiboia do Ribeira, Projeto Ciência Cidadã, Associação de Economia Solidária e de Desenvolvimento Sustentável do Guapiruvú (AGUA), Projeto Mãos que Protegem, Parque Estadual Intervales, Fundação Florestal e Projeto Escalas da Biodiversidade do Instituto Butantan, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).


As fotos desta matéria são cortesia do Projeto Jiboia do Ribeira.