Nesta edição do Você no Butantan o entrevistado é um colaborador de longa data: Heleno Tomé de Souza, de 57 anos e que trabalha como eletricista de manutenção há 28 anos no IB. Heleno é o segundo colaborador mais antigo da Fundação Butantan ainda em atividade, cuja contratação foi feita em 1991.
Nesta conversa, Heleno conta que chegou a morar no Instituto com a família. Natural de Recife (PE) e pai de três filhos que hoje moram lá, ele compartilha os planos de, um dia, voltar para a terra natal e poder usufruir da casa que construiu com o dinheiro que conseguiu poupar enquanto trabalha no Butantan.
Butantan Notícias - Há quanto tempo você trabalha no Butantan?
Heleno Tomé de Souza - Somando, dá cerca de 30 anos de Butantan já. Eu entrei como terceirizado entre 1985 e 1987 e em 1991 fui contratado pela Fundação Butantan. Na época, tinham só dois colaboradores contratados pela Fundação, eu fui a terceira contratação. Como os outros dois colaboradores já não trabalham mais aqui, eu sou um dos contratados que está há mais tempo em atividade pela fundação.
BN - Conte um pouco sobre o seu trabalho realizado no IB?
Heleno - Meu trabalho é de manutenção elétrica. Quando eu morava aqui, assumi a elétrica de baixa, média e alta voltagem. Hoje não atuo mais com alta voltagem, fico com a manutenção interna nos laboratórios, salas e prédios.
BN - Como você chegou até o Instituto?
Heleno - Eu sou do Recife. Já faz uns 40 anos que vim pra São Paulo, sozinho, e que comecei a trabalhar com a área elétrica. Lá [no Recife] eu trabalhava na agricultura. No começo, quando você chega aqui é bem diferente, mas aí você começa a conhecer gente, vai trabalhando e se habituando, vai criando família e ficando na cidade. Mas o restante da minha família está toda lá em Pernambuco, sobrinhos, tios, irmão. Eu costumava visitá-los todo ano, ultimamente vou de dois em dois anos.
BN - O que mudou no Butantan nesses anos?
Heleno - Eu cheguei a morar aqui no Instituto, por 23 anos. Minha casa era onde fica o estacionamento do refeitório. Tinha outras famílias que moravam nas casas da vila também. Eu morava com minha família. Dois dos meus filhos foram criados aqui, eles são as "cobrinhas do Butantan" [risos]. A convivência era boa, tinha noite que a gente fazia coisas juntos, tinha quadrilha, música, comida. De lá pra cá, o Butantan mudou muito, sem dúvida. Quando cheguei tinha uma cabine de alta tensão no Horto, por exemplo, que era a única pra atender todo instituto, e que, claro, não era tão grande como hoje. A rede elétrica era aérea, com postes de madeira, então fomos fazendo melhorias. Tinha até posto de gasolina aqui dentro, agência bancária, então mudou bastante.
BN - Qual é a principal lembrança do Butantan?
Heleno - Lembrança boa pra mim foram todas, até hoje agradeço muito. Aqui foi onde comecei e criei minha família, isso pra mim conta muito. Antigamente não tinha o tanto de funcionários que tem hoje e éramos uma família mesmo aqui dentro. Hoje tem um quadro de funcionários muito bom, o pessoal é bem companheiro e amigo também, a minha história foi muito bonita aqui.
BN - Qual parte do IB você mais gosta?
Heleno - Se compararmos com o Centro de São Paulo, é muito bom quando se trabalha num parque, no meio de uma mata, com esse clima. Eu venho de manhãzinha trabalhar com os sabiás cantando no caminho, isso já te traz um dia agradável.
BN - O que você gosta de fazer nas horas vagas?
Heleno - Nas horas livres, eu gosto de passear, gosto de pescar, mas sou um pouco caseiro também, fico mais em casa e saio de vez em quando.
BN - O que você acha de São Paulo?
Heleno - Minha relação é mais de trabalho. Para lazer, acho muito pouco. Infelizmente, não temos muita opção, mas aprendi muita coisa boa aqui na cidade. Para a minha timidez, [a cidade] ajudou também. Eu era muito tímido, ainda sou um pouco, mas para conviver com as pessoas não tem como. Eu moro bem pertinho daqui, no bairro Butantã mesmo, atravesso a rua e já estou em casa. Aqui também conheço as pessoas, dessa parte de Pinheiros até Rio Pequeno pode perguntar meu nome que vão saber, eu sempre procuro fazer amigos. Dentro do trabalho, eu procuro ser parceiro também, compreender, ajudar alguém que está com dificuldade. Se eu tiver dificuldades também, há sempre colegas que me ajudam.
BN - Quais seus planos para o futuro?
Heleno - Eu construí uma casa lá em Pernambuco, então saindo daqui vou morar lá. Comprei um terreno e mandei dinheiro pro meu irmão que foi organizando a construção e isso consegui com o trabalho daqui. Levei uns 15 anos mandando dinheiro pra conseguir construir.
BN - O que o Butantan representa pra você?
Heleno - Foi aqui que criei meu filhos, foi aqui que minha idade chegou e estamos aí, ainda temos histórias boas pra contar. Pra falar hoje do Butantan, só tenho história bonita, agora estou prestes a me aposentar e quero voltar pra o Recife. Meus três filhos moram lá, então eu vou pra lá ficar perto deles. Eu tenho muito orgulho de ter trabalhado todo esse tempo aqui, aprendi muito. Se eu voltasse a ter 18 anos eu escolheria tudo de novo.
(por Caroline Roque)