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“Estudam a favela como se fosse um safári. O conhecimento está além da universidade”, diz Preto Zezé no novo episódio do podcast SaBer

Fernanda Boulos, diretora Médica do Butantan, completa o time de convidados que discutiu a luta contra a Covid-19 nas favelas brasileiras


Publicado em: 30/01/2023

Já está disponível no Canal do Butantan no YouTube ou no seu agregador preferido o terceiro episódio de SaBer, o podcast que discute ciência e saúde de uma forma acessível. Dessa vez, o programa reuniu o presidente da Central Única das Favelas (CUFA), Francisco José Pereira de Lima, o Preto Zezé, eleito uma das 500 pessoas mais influentes da América Latina pela Bloomberg Linea Brasil, e a diretora médica do Butantan, Fernanda Boulos, que tem experiência de atendimento em comunidades ribeirinhas na Amazônia e atua há anos em saúde pública.

De acordo com o relatório final da CPI da Pandemia, apresentado no final de 2021, a população negra foi a mais impactada pelo novo coronavírus, especialmente as mulheres – um retrato fiel das condições sociais do nosso país. À frente da CUFA, Preto Zezé acompanhou de perto essa realidade. A organização não governamental foi responsável por dois importantes projetos, o CUFA Contra o Vírus e o Mães da Favela, que juntos arrecadaram mais de R$ 870 milhões, auxiliando 16 milhões de pessoas de cinco mil favelas brasileiras com a distribuição de recursos.

“Embora sendo as mais atingidas no território, era impressionante como toda ajuda que a gente conseguia e que chegava às mulheres gerava uma resposta interessantíssima”, disse o líder. Ele lembra de uma situação em Fortaleza, em que 50 mães dividiram o benefício de R$ 210 com outras em situação de vulnerabilidade. “Não era só um tempo difícil, uma crise econômica: era o pior momento da humanidade, e foi quando essas mulheres tiveram as melhores iniciativas e sentimentos de ajudar umas às outras. Por isso e por outras coisas, elas viraram a linha de frente de todo o processo."

Além de discutirem a relevância do protagonismo feminino durante o surto de Covid-19, Fernanda Boulos e Preto Zezé debateram sobre o combate à desinformação, a importância da construção de estratégias de comunicação que alcancem a ponta de maneira efetiva e a consequente ampliação da cobertura vacinal. “Combater a desinformação e criar uma nova rede de comunicação da vacinação é um desafio. Hoje, apostamos muito na ponta, em treinar os profissionais em postos de saúde, fazer vacinação em escola, fazer essa campanha mais de massa na ponta”, observa Fernanda Boulos que também colocou a imunização como uma escolha coletiva, e não pessoal. “Se a gente não construir pontes do meio para a ponta, o meu receio é que esses pensamentos negacionistas vão continuar”, completa Preto Zezé.

A conversa passou também por outros assuntos relevantes e atuais, como a garantia de acessibilidade à vacina, a importância do aumento da diversidade na condução de estudos clínicos e a aproximação entre academia e favela para a construção de um conhecimento mais fiel à realidade e capaz de gerar soluções inclusivas. “Estudam a favela como se fosse um safári. O conhecimento está além da universidade”, finaliza Preto Zezé. Para conferir o conteúdo na íntegra é só dar o play. Boa escuta!