Com um sorriso e muita simpatia. Foi assim que o Butantan Notícias foi recebido pela convidada do Você no Butantan desta edição. Diretora do setor de Compras e Licitações do Butantan, Silvia Cruz dos Santos, 46, é colaboradora do Instituto há 10 anos.
Amante de dança e samba, a profissional, com formação de gestão em saúde, contou um pouco sobre os desafios de sua atuação no setor de compras e também sobre como este trabalho faz a diferença para o IB. Ela também abriu o coração para falar sobre o amor por sua família e, às vésperas do Dia Nacional da Consciência Negra, ressaltou o quanto sonha poder ver suas filhas e todas as mulheres negras se sentido realizadas e felizes.
Butantan Notícias – Conte sobre sua trajetória profissional. Como ingressou no Instituto Butantan?
Silvia Cruz dos Santos – Em 2000, eu prestei um concurso público para um cargo de oficial administrativo e fui nomeada no Centro de Referência da Saúde da Mulher - Hospital Pérola Byington. Lá, eu trabalhei por dez anos, até que em 2010, fui convidada para compor a equipe de compras do Instituto, em que estou até hoje. A princípio, eu cheguei como Chefe 1, até que minha ex-diretora se aposentou e fui convidada pelo Jorge Alamini para substituí-la no cargo de diretora de compras.
BN – Na prática, de que forma o trabalho do setor de compras se integra ao Butantan?
Silvia – Nós trabalhamos com a contratação de serviços e aquisição de materiais por meio do sistema de licitação, então, licitamos desde material de escritório a serviço como por exemplo cartão de abastecimento para a frota do Instituto.
BN – Sabemos que um processo licitatório é importantíssimo porque é o que garante a transparência em uma compra ou em uma contratação, mas ao mesmo tempo é algo bastante burocrático. Como é trabalhar com isso, é desafiador?
Silvia – Sim, com certeza! Seguimos as regras das leis das licitações, os processos devem estar instruídos com toda documentação exigida no edital, qualquer falha nesse sentido é passível de apontamentos do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo. Estar à frente de uma equipe também é um grande desafio.
BN – Profissionalmente e pessoalmente quais foram ou têm sido as experiências mais marcantes pra você no Butantan?
Silvia - Um momento muito marcante para mim foi quando trocamos a frota do Instituto. Um trabalho que envolveu uma grande equipe e foi desafiador por ser novo. Foi um crescimento enorme profissional e até pessoal também, me ajudou muito. E claro, as amizades são sempre muito marcantes. Tenho pessoas muito queridas aqui.
BN – Em suas horas vagas, o que você gosta de fazer?
Silvia – Eu amo estar com minha família. Adoro ir a shows ao ar livre, tipo no Parque Villa-Lobos, gosto de dançar samba-rock com o meu marido, forró, inclusive, faço aula de dança de salão às quartas. Adoro cinema e sair para jantar com o maridão. Aos domingos vou à igreja, acho muito importante trabalhar o lado espiritual, lá eu me fortaleço e me motivo muito.
BN – Você tem filhos(as)?
Silvia – Tenho duas filhas, a Ana Eliza de 21 anos e a Bárbara de 15. Elas são a razão do meu viver. Eu sou canceriana, então pensa, sou uma mãe “superbabona” (risos), cuido mesmo, abraço mesmo, me sinto uma leoa com elas.
BN – O que o Butantan representa para você?
Silvia - O Butantan é um dos responsáveis pela minha realização, tanto profissional quanto pessoal. Eu aprendi e aprendo muito trabalhando aqui, não só no setor de compras, mas no próprio convívio com as pessoas, acho que todo dia aprendemos algo novo, é uma troca muito grande.
BN – Amanhã (20), é celebrado o Dia Nacional da Consciência Negra, sendo uma mulher negra ocupando um cargo de chefia, qual conselho você daria, às suas filhas e todas as mulheres negras a conquistarem o seu espaço dentro da sociedade?
Silvia – Bom, minha mãe sempre me ensinou a nunca ficar na posição de coitada e ir lutar pelas minhas coisas. Quando acontecia algo ruim comigo, assim que eu acordava, pensava “eu tenho que me levantar, me arrumar e ir à luta”. Quando tive minhas filhas, fiz questão de passar isso para elas. Sempre digo a elas frases de inspiração, falo o quanto eu as amo, o quanto são lindas e exalto as suas conquistas. Minha filha mais velha, Ana Eliza, faz parte do coletivo negro do Mackenzie. Como em todas as outras universidades, a predominância é branca, mas ela sabe se fazer respeitar e sabe também respeitar, acima de tudo. O principal conselho que digo a elas e diria para qualquer outra mulher é que tenham autoestima, que acordem de manhã se olhem no espelho e digam “eu sou possível, eu sou bonita, eu sou inteligente” e vamos à luta.
BN – E como foi seu caminho até aqui?
Silvia - Como mulher, sempre tive altos e baixos, na adolescência passava por aquela situação em que a amiga branca tinha namorado e eu ficava lá, de canto. Embora eu tenha crescido na periferia, na escola pública, onde a predominância é negra, sempre passei por situações assim. Eu ouço piadas até hoje sobre a minha cor, mas procuro não absorver. Às vezes fico magoada, mas normalmente não absorvo, falo para mim mesma que isso não é real, não é verdade, eu não me sinto assim. Outro ponto importante também é a autoaceitação, a Ana Eliza alisou os cabelos dos 9 anos aos 17, quando ela entrou na faculdade, parece que aconteceu uma revolução, ela simplesmente floresceu: assumiu o black, começou a se engajar nessas causas sociais e vai até a manifestações. Ela realmente passou a se aceitar, a aceitar o cabelo, o tom de pele, os seus traços. Hoje, de forma geral, os jovens estão tendo mais consciência do que eles são, do valor deles, do poder de voz. As minhas filhas mesmo possuem essa consciência e isso é muito importante para mim. Meu maior sonho é vê-las realizadas e muito felizes. Na verdade, todas as mulheres negras, realizadas e felizes.
(por Fernanda Ribeiro)