Após mais de um ano do aparecimento dos primeiros casos de Covid-19 em São Paulo e oito meses após o início da campanha nacional de vacinação, o desempenho no mundo real da CoronaVac, imunizante do Butantan e da farmacêutica chinesa Sinovac, demonstrou sua efetividade, inclusive no combate à variante delta. Esse é o balanço do médico infectologista e professor Esper Georges Kallás, que atua na linha de frente do combate ao SARS-CoV-2 e é diretor do Centro de Pesquisas Clínicas do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
“A proteção proporcionada pela CoronaVac vem evitando casos graves e internações, desafogando as UTIs e evitando mortes. É isso o que conta! Neste sentido, a CoronaVac vem apresentando um desempenho que a coloca par a par com todas as demais vacinas”, afirma o professor Kallás, em entrevista exclusiva. Segundo o infectologista, que coordena as ações do grupo de trabalho USP Covid-19, o imunizante teve um papel importantíssimo para iniciar o combate à pandemia no Brasil e se tornou, atualmente, a vacina mais usada no mundo contra o SARS-CoV-2, com dois bilhões de doses produzidas
Esper explica que o avanço no número de pessoas vacinadas tem relação direta com a queda de casos graves de Covid-19, e que esse é o propósito de qualquer vacina. A vantagem adicional da CoronaVac, no espectro dos imunizantes utilizados no Brasil, é que ela é muito bem tolerada e provoca poucas reações adversas. Além disso, o uso disseminado no Brasil da vacina do Butantan é um dos motivos que ajuda a explicar porque a variante delta do SARS-CoV-2 não impactou tanto quanto se esperava por aqui.
“Há quem pense que a CoronaVac tem eficácia menor diante da delta, mas não é isso o que a gente está vendo. Uma grande parte da população do estado de São Paulo tomou CoronaVac, e nós ainda não tivemos o escape da variante”, explica o professor Kallás. Conforme o último boletim epidemiológico da Rede de Alerta das Variantes do SARS-CoV-2, coordenada pelo Butantan, na 40ª semana epidemiológica (3 a 9/10), a variante delta representou 98,5% das amostras sequenciadas. “Não estamos vendo aumento no número de casos de Covid-19 e de internações, muito pelo contrário. A despeito da chegada da delta, o número de casos e de internações não para de cair, sinal de que a imunização com a CoronaVac e demais vacinas está protegendo a população.”
O professor Kallás também opinou sobre a recomendação de que pessoas acima de 60 anos e profissionais da saúde tomem uma dose de reforço contra a Covid-19, independente da vacina recebida na primeira e na segunda dose. Segundo o infectologista, essa orientação tem a ver com uma questão biológica: o nível de defesa do organismo contra o coronavírus tende a diminuir com o passar do tempo. Por isso, o médico defende inclusive o uso de vacinas diferentes na dose de reforço, a chamada intercambialidade. “Alguém imunizado com a CoronaVac pode tomar uma dose de reforço da vacina da AstraZeneca, por exemplo. O inverso também é verdadeiro. É importante termos a opção de combinações de vacinas.”
*Este texto contou com a colaboração do jornalista científico Peter Moon