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'Cartão Postal' do IB, Biblioteca tem janelas e portas históricas restauradas


Publicado em: 09/10/2019

Um projeto encabeçado pelo Núcleo de Arquitetura e Urbanismo, da Divisão de Infraestrutura, promoveu o restauro de 73 janelas, 26 gateiras (aberturas gradeadas) e seis portas da Biblioteca do Instituto Butantan. O prédio, que funciona como uma espécie de “cartão postal” do Instituto, foi inaugurado em 1914, com estilo eclético e com elementos de influência do estilo decorativo art nouveau europeu. Sendo a maioria das esquadrias originais da época de sua construção.

O Butantan foi tombado em 1981 pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat) e em 1991 pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo. Conhecido antigamente como “Edifício Principal”, o prédio da Biblioteca aparece na lista do Condephaat de edificações históricas de grande relevância para a história da instituição.

"Toda e qualquer tipo de intervenção em bem tombado, inclusive em seu entorno, deve passar por aprovação dos Conselhos de Preservação aos quais estão vinculados por resolução de tombamento.Os procedimentos de conservação e restauro envolvem o respeito à história do bem tombado", disse Caroline Tonacci Costa, arquiteta responsável pelo projeto e que faz parte do Núcleo de Arquitetura e Urbanismo da Divisão de Infraestrutura do Butantan. 

O projeto de restauro teve início em novembro do ano passado e foi concluído no último mês de agosto. A execução da obra ficou a cargo da empresa Bolanho Arquitetura, Construção e Restauro. 

“As janelas estavam em um estado delicado, algumas não fechavam direito, outras tinham problemas mais sérios, a madeira estava deteriorada, o vidro trincado. O restauro restitui-lhes a beleza ,e, sobretudo, atuou na preservação deste bem que ajuda a contar a história do Instituto, como parte de um prédio que simboliza a afirmação do Instituto Butantan como importante instituição científica", disse Joice de Medeiros, assistente de pesquisa e organização. 

Para a diretora técnica da Biblioteca, Joanita Lopes, o restauro das esquadrias representou a 2ª etapa do projeto de restauro do prédio. A 1ª promoveu a troca do telhado. “Em breve iniciaremos novas etapas do projeto de restauro, incluindo a renovação e ampliação da Biblioteca, de modo que ela possa oferecer mais serviços e ampliar o atendimento para novos públicos, além de melhor atender a nossa comunidade interna em ambientes propícios para a aprendizagem, troca e socialização”, disse a diretora. 

O investimento no projeto foi de R$ 670 mil. O vice-diretor da Fundação Butantan, Rui Curi, lembra que existe um compromisso de gestão no IB voltado para a questão do patrimônio histórico. "A Diretoria está comprometida com o restauro e a conservação dos edifícios históricos do Instituto. Esse é um dos projetos em andamento. Não se mede esforço para isso", afirmou Rui. Recentemente, o Museu Biológico também passou por um processo de restauro de esquadrias. 

 

Levantamento prévio 

Segundo a arquiteta responsável, os projetos de restauro são iniciados sempre com um levantamento histórico sobre a edificação. O levantamento analisa sua originalidade, as alterações sofridas ao longo dos anos e os motivos, além de apontar minuciosamente as suas atuais condições de conservação. 

Caroline explica que esse estudo prévio fornece orientações e os limites possíveis das intervenções, com o cuidado de não descaracterizar a edificação, o que provocaria a destruição do material histórico e consequentemente perdas irreversíveis. “Um bem tombado está relacionado à história de evolução de um local específico, mas também de toda uma sociedade e funciona como uma espécie de memória coletiva. Por isso, o projeto de restauro é um conjunto de procedimentos criteriosos e cuidadosos de manutenção da história, que pode ser contada para as gerações futuras por meio deste bem”, disse Caroline. 

Para executar um projeto tão complexo e rico em detalhes, as esquadrias das fachadas foram subdivididas em grupos diferentes: janelas de madeira; janelas metálicas, basculantes e fixas; vitrais da escada; gateiras metálicas; portas de madeira e portas novas. Segundo a arquiteta, cada subdivisão teve sua atenção direcionada de acordo com o material do qual era composta.

 

Esquadrias de Madeira

No caso das esquadrias de madeira, por exemplo, por serem mais nobres (compostas de madeira e vidros jateados decorados, com ferragens no sistema de abertura e tranca em latão), tiveram que ser removidas de seus vãos e levadas para uma oficina em canteiro de obras. 

“Os trechos de madeira danificados foram substituídos. As madeiras que estavam em bom estado permaneceram e receberam tratamento de limpeza e estucagem (preenchimento de lacunas e pequenas perdas de material). Já os vidros quebrados e com alterações também foram substituídos por outros semelhantes, seguindo os mesmos padrões decorativos. No caso das ferragens em latão, todas foram restauradas. Para algumas houve a necessidade de fabricação de novas peças, com o mesmo padrão decorativo e de funcionalidade”, afirmou a arquiteta. 

 

Esquadrias Metálicas e Janelas Metálicas Basculantes  

No caso das esquadrias metálicas, por exemplo, foi feita uma pesquisa sobre os tipos de vidro existentes (coloridos, martelados e lisos) para a fabricação de novos nos casos em que a substituição fosse necessária, visto que a maioria já não era mais fabricada. Neste caso, os vidros escolhidos seguiram padrões diferentes, mas que não se destacassem em relação aos originais.  

As esquadrias metálicas não precisaram ser removidas, segundo Caroline. Ao contrário das de madeira, puderam ser restauradas em seus locais originais. 

No caso das janelas metálicas basculantes, os sistemas de abertura e fechamento passaram por revisão e restauro completo, bem como suas ferragens originais. O projeto também permitiu correções. Em alguns casos, por exemplo, ferragens que não eram mais originais puderam ser substituídas por estarem fora do padrão existente. 

 

Vitrais da Escada e Gateiras Metálicas 

Outra mudança envolveu os vitrais da escada da Biblioteca. Alguns trechos estavam sem as juntas em chumbo, noutros as juntas estavam danificadas. Quando necessário, foi feita a substituição por novas juntas, respeitando os padrões originais da obra. 

No caso das gateiras metálicas, o processo foi parecido. Houve o tratamento das gateiras existentes em seus próprios vãos de origem, com a remoção de oxidações e com a execução de nova pintura.  No caso de uma gateira faltante, foi feita uma reprodução do modelo original para a substituição da peça. 

Já as telas de proteção das gateiras já não eram originais e estavam todas fora de padrão, pois eram de diversos modelos. Por questão de patrimonial, mas também de segurança, as telas foram todas removidas e trocadas por um novo padrão de tela metálica.

 

Portas 

As duas portas de madeira do hall principal de acesso da Biblioteca foram restauradas com a remoção de diversas camadas de verniz, a limpeza da madeira e a substituição de trechos danificados. Segundo Caroline, também houve um mapeamento, por meio de exames de raio-x, dos trechos ocos resultantes de um antigo ataque de cupins. Por meio de pequenos orifícios, as equipes que trabalharam na obra realizaram o preenchimento com resina. Ao final, cada porta recebeu uma camada de verniz protetor. 

Algumas portas “novas” tiveram que ser substituídas porque estavam fora de padrão, sem respeitar qualquer a originalidade. Foram fabricadas novas portas metálicas em estilo de desenho igual, com o objetivo de criar um novo padrão e deixa-las visíveis, ou seja, de fácil identificação para quem chega ao ambiente. 

 

 

(por Adriana Matiuzo)