O Projeto S é motivo de orgulho não só para o Butantan, realizador da pesquisa, mas também para a ciência como um todo. Foi com esse espírito que o presidente do instituto, Dimas Covas, apresentou, nesta segunda (31) ao lado do governador de São Paulo, João Doria, do investigador principal do Projeto S, Marcos Borges, e de cientistas do Butantan e de outras instituições as primeiras conclusões do estudo clínico pioneiro que está sendo realizado em Serrana para avaliar o impacto da vacinação sobre o controle da pandemia de Covid-19.
“Nenhum país do mundo fez um estudo dessa natureza”, afirmou o presidente do Butantan. “Devemos ter orgulho de realizar uma pesquisa dessa magnitude. O Brasil não precisa copiar nada. O Brasil pode sair na frente, sua ciência é competente. E aqui está a prova.”
Segundo Dimas Covas, estudos clássicos de eficácia, como os de fase 3 realizados com a CoronaVac – vacina do Butantan contra a Covid-19 produzida em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac –, que comparam pessoas vacinadas com pessoas que receberam placebo, são importantes para determinar o efeito da imunização em relação à doença e a internações. Mas não são suficientes para analisar o efeito da vacinação em termos da própria pandemia e da política de combate a ela.
Um estudo de eficiência, como é o caso do Projeto S, serve para avaliar de forma controlada o impacto da vacinação, o que permite entender as dinâmicas da epidemia e as formas efetivas para seu controle, o que é fundamental para o desenho de políticas públicas. “A CoronaVac é uma das melhores vacinas que estão disponíveis no mundo, e agora mostrou efetivamente o seu papel sobre a pandemia”, vibrou Dimas.
As primeiras conclusões do Projeto S foram apresentadas em coletiva de imprensa no Butantan por Marcos Borges, que além de investigador principal do estudo é diretor do Hospital Estadual de Serrana, e pelo diretor médico de pesquisa clínica do instituto, Ricardo Palacios. Entre outros dados, a pesquisa demonstrou que a imunização de toda a população adulta de Serrana fez os casos sintomáticos de Covid-19 despencarem 80%, as internações, 86%, e as mortes, 95%.
Pesquisa mostra importância da vacinação, dizem cientistas
Também participaram da divulgação dos dados o médico infectologista do Instituto Emílio Ribas e coordenador científico da Sociedade Brasileira de Infectologia, Sergio Cimerman, o médico infectologista e professor titular da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), Esper Kallas, e a médica infectologista do Instituto Emilio Ribas Rosana Richtmann.
Os três cientistas ressaltaram a relevância dos dados do Projeto S para mostrar à população a importância de se vacinar, a necessidade de tomar a segunda dose e a eficácia da vacina para combater a variante P.1 (amazônica) – o estudo mostrou que a CoronaVac protege também contra essa cepa, que representa 70% dos casos de Covid-19 no Brasil hoje.
Para Sergio Cimerman, a pesquisa mostra a confiança na vacina, já que a adesão da população à vacinação foi de 95%. “Quem é contra as vacinas vai repensar sua forma de ser. Independente de qual seja, vacina boa é vacina no braço. Quanto mais gente se vacinar, mais perto nós vamos chegar da situação de Serrana", afirmou ele, lembrando que a imunização é um ato coletivo e ressaltando que a vacina se mostrou segura, com baixíssimos efeitos adversos.
De acordo com o infectologista e professor da USP Esper Kallas, as conclusões do Projeto S atestam a importância da comunicação clara, científica e responsável para que o modelo de vacinação de Serrana possa ser replicado no resto do país. Segundo ele, basta olhar a situação epidemiológica das outras cidades da região (como Ribeirão Preto, onde nas últimas semanas houve um recrudescimento nos casos de Covid-19) para saber que o status de Serrana não é temporário, e que o efeito da vacina é “irrefutável”.
“Ações como essa mostram que iniciativas de combate à pandemia têm que ser coletivas. Não basta adotar uma medida pensando em si próprio. A gente só vai vencer a pandemia se todo mundo pensar na coletividade”, afirmou Esper Kallas. “O uso de vacina não foi para 100% da população, mas atingiu um controle significativo no município. É uma ação coletiva.”
A infectologista Rosana Richtmann, do Instituto Emilio Ribas, ressaltou o resultado de que as crianças, que não são vacinadas, também ficam protegidas, e assinalou que a pesquisa continua. "Precisamos ver se os resultados se solidificam, são sustentados. Por isso que o estudo segue, exatamente para responder mais perguntas que virão pela frente."
Entenda o que é o Projeto S
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