Ao longo da pandemia de Covid-19, muitos nomes que não costumavam fazer parte da nossa vida se tornaram comuns. Boa parte dessas palavras novas são semelhantes e até parecem sinônimos, mas se referem a conceitos diferentes. Entender exatamente o que quer dizer cada novo termo da pandemia é importante para evitar a propagação de informações falsas ou incompletas. A diretora do Laboratório de Biotecnologia Viral do Instituto Butantan, Soraia Attie Calil Jorge, explica alguns desses conceitos e mostra por que é tão importante entendê-los.
Vírus x Bactérias
Vírus: seres que dependem de outros para se reproduzir, ou seja, que precisam infectar células humanas, de plantas e até de bactérias para dar origem a seus descendentes. Não possuem células (por isso se discute se são seres vivos ou não), apenas material genético e proteína. Às vezes, levam consigo parte da membrana da célula que infectaram; por isso, existem vírus envelopados e vírus não-envelopados, sendo que o envelopado é aquele que passou a ter em sua formação parte da membrana da célula invadida. Quando entram em nosso corpo, rompendo a membrana para se multiplicar, geralmente estouram nossas células, causando sua lise (dissolução).
Bactéria: organismos mais independentes do que os vírus. São células que possuem material genético e diversos mecanismos para se desenvolver e multiplicar, sem precisar de outra célula. Por mais que algumas sejam prejudiciais ao nosso corpo, existem certas bactérias em nosso organismo que são benéficas e não causam doença alguma, geralmente fornecem substâncias importantes ou regulam parte do nosso metabolismo.
Coronavírus X SARS-CoV-2 X Covid-19
Coronavírus: nome dado a uma extensa família de vírus que se assemelham. Muitos deles já nos infectaram diversas vezes ao longo da história da humanidade. Dentro dessa família há vários tipos de coronavírus, inclusive os chamados SARS-CoVs (a síndrome respiratória aguda grave, conhecida pela sigla SARS, que há alguns anos começou na China e se espalhou para países da Ásia, também é causada por um coronavírus).
SARS-CoV-2: vírus da família dos coronavírus que, ao infectar humanos, causa uma doença chamada Covid-19. Por ser um microrganismo que até pouco tempo não era transmitido entre humanos, ele ficou conhecido, no início da pandemia, como “novo coronavírus”.
Covid-19: doença que se manifesta em nós, seres humanos, após a infecção causada pelo vírus SARS-CoV-2.
Prevalência x Incidência
Prevalência: visão geral de uma doença, ou seja, quantos casos ou mortes aquela doença provocou em sua totalidade. No Brasil, já temos mais de 21 milhões de casos e mais de 588 mil mortes por Covid-19, então esse número equivale à prevalência da doença.
Incidência: é um indicador mais fechado, que não olha em âmbito geral para uma doença, mas traça um recorte em determinado período de tempo. Em agosto, o Brasil registrou a menor incidência mensal de mortes por Covid-19 em 2021, com pouco mais de 24 mil óbitos.
Mortalidade x Letalidade
Mortalidade: É o tanto de pessoas que adoeceram e morreram em relação a toda a população de uma região. Tem relação com um cenário geral, como a totalidade de mortos por determinada doença em uma população inteira durante uma pandemia, epidemia ou surto.
Letalidade: está ligada ao patógeno (o vírus SARS-CoV-2, no caso) e avalia o número de mortes em relação às pessoas que apresentam a doença ativa, e não em relação à população toda. Em outras palavras, mede a porcentagem de pessoas infectadas que evoluem para óbito. O SARS-CoV-2 não tem uma alta letalidade (2,9%), pois muitas pessoas que contraem o vírus ficam assintomáticas, às vezes sem nem mesmo saber que estão infectadas.