Portal do Butantan

“A ciência é um processo contínuo”: atualizações e mudanças de rota são esperadas e sinal de bom trabalho, diz professor da Duke University

Imunologista Thomas Denny falou da importância da população enxergar a ciência como algo em constante evolução; norte-americano esteve no Butantan para discutir avanços nas etapas pré-clínicas


Publicado em: 22/06/2023

Em visita ao Instituto Butantan na última quarta (21/6), o professor de medicina e saúde global Thomas Denny, da Duke University, nos Estados Unidos, reafirmou a importância de que a população entenda a ciência como um processo contínuo e em desenvolvimento constante. Para o imunologista, essa compreensão é essencial para combater o surgimento e disseminação de fake news, assim como reverter o crescente cenário de hesitação vacinal – um dos problemas mais desafiadores da sociedade.

“A comunidade científica pode fazer uma determinada orientação hoje, baseada em dados atuais, mas daqui um tempo corroborar ou até mesmo alterar essa decisão. Isso não quer dizer que fizemos más decisões no passado, mas que aprendemos novas informações e tivemos acesso a dados atualizados. Sabemos que muitas pessoas ficam confusas quando isso acontece”, pontuou o especialista em entrevista ao Portal do Butantan.

 

Thomas Denny é COO do Duke Human Vaccine Institute (DHVI) e do Center for HIV/AIDS Vaccine Immunology (CHAVI) da Duke University, nos EUA

 

A necessidade das chamadas doses de reforço contra a Covid-19 – hoje imprescindíveis, mas que não eram prioritárias no início da vacinação –, ajuda a ilustrar a questão. Apesar de em 2021 a dose de reforço não ter sido apontada pelas autoridades em saúde como algo necessário, os desdobramentos da pandemia – como o surgimento de novas variantes do vírus e o acompanhamento em tempo real de como a proteção da população vacinada estava se comportando frente ao SARS-CoV-2 – levaram os profissionais a recomendarem o reforço. Um ajuste de rota que poupou inúmeras vidas. 

De acordo com a última orientação do Ministério da Saúde, uma dose única de reforço é recomendada para pessoas acima dos 5 anos. Já o público acima dos 40 deve receber duas doses de reforço. Em ambos os casos é necessário respeitar o intervalo de 4 meses entre a conclusão do esquema vacinal primário e a dose extra.

“Ser capaz de levar em consideração essas novas informações para ajustar e modificar o que já foi feito é, sim, desenvolver uma ótima ciência”, defende Thomas Denny, que também atribui as baixas coberturas vacinais ao atual descrédito da comunidade científica como consequência da disseminação de fake news. “Como cientistas, estamos fazendo o máximo possível para proteger nossa sociedade e apoiar os governantes para que as melhores decisões sejam tomadas, sempre baseadas em dados científicos”, reforçou.

Segundo o imunologista, também é essencial que os pesquisadores e especialistas trabalhem a fim de estabelecer uma comunicação efetiva e transparente com a população, além de investir no treinamento da nova geração de cientistas. 

 

O professor americano recebeu as boas-vindas do diretor do Instituto Butantan, Esper Kallás

 

Pesquisa translacional

Em sua primeira visita ao Brasil, o Diretor de Operações (COO) do Duke Human Vaccine Institute (DHVI) e do Center for HIV/AIDS Vaccine Immunology (CHAVI), ambos vinculados à Duke University, participou do evento Seminários do Butantan, uma iniciativa de divulgação científica organizada pelos Centros de Desenvolvimento Científico, de Desenvolvimento e Inovação e de Desenvolvimento Cultural do Butantan.

“Estamos recebendo aqui uma figura central da nossa área. É para Denny que os principais líderes americanos ligam quando precisam colocar em pé programas pilotos e estudos clínicos, seja para o desenvolvimento de novas vacinas ou de terapias relacionadas ao HIV”, disse o diretor do Instituto Butantan, Esper Kallás, ao apresentar o cientista.

Ouvido por uma plateia repleta de pesquisadores e estudantes da Escola Superior do Instituto Butantan (ESIB), Thomas Denny falou sobre o desenvolvimento das chamadas pesquisas translacionais, que se referem à aplicação do conhecimento científico adquirido em laboratórios e estudos pré-clínicos para melhorar as etapas subsequentes, como as fases 1, 2 e 3 de ensaios clínicos, assim como a produção em larga escala para disponibilizar o produto final à população.

 

Plateia engajada: ao final da apresentação, alunos, pesquisadores e diretores do Butantan fizeram suas perguntas ao especialista

 

“Como um time de descobertas, nosso foco é produzir o mais rápido possível e com o menor custo as provas de conceito necessárias para chegarmos à fase 1 de ensaios clínicos, sem perder de vista a alta qualidade e a total segurança daquilo que estamos propondo”, afirma. Assim como a ciência, o processo de desenvolvimento de vacinas não é estático. “Devemos sempre nos desafiar, nos questionar sobre como podemos melhorar nossos processos.”

Atualmente, a organização norte-americana tem focado esforços para aperfeiçoar e modernizar as opções de vacinas contra influenza e Covid-19, e segue na busca incessante por um imunizante capaz de prevenir a infecção pelo vírus HIV. Além disso, mantém vigilância ativa para identificar o surgimento de possíveis novos patógenos.

A visita de Thomas Denny ao Butantan também foi uma oportunidade de consolidar possíveis colaborações entre o Instituto e os centros da Duke University. 

 

Reportagem: Natasha Pinelli

Fotos: André Ricoy/Comunicação Butantan