Um parecer da Associação de Médicos Católicos de São Paulo, que recentemente causou discussão, menciona que a maioria das vacinas usam “células-tronco originárias de fetos abortados”. Essas informações são inverídicas. Foram, inclusive, desmentidas por cientistas.
O artigo da Science que foi utilizado na propagação das fake news demonstra que, há mais de cinco décadas, embriões eram utilizados para testar ou produzir vacinas. Como linhagens celulares desenvolvidas a partir de tecidos humanos mais comuns temos a PER.C6, criada em 1985, obtida a partir de células da retina. E a outra, cujo nome foi alvo de boatos e distorções, é a HEK-293, criada em 1973 a partir de células renais retiradas de um feto abortado legalmente na Holanda.
A partir de então, as células usadas nesses estudos passaram a ser obtidas a partir de réplicas derivadas de um embrião daquela mesma linhagem inicial e que sofreram modificações.
As técnicas descritas no artigo são antigas e serviram para muitas pesquisas e testes de medicamentos e vacinas. Elas seguem sendo utilizadas até hoje, no mundo todo.
Mas é importante destacar que tais células não são componentes de vacinas; são somente utilizadas em testes para criar a proteína produzida por elas ou o vírus replicado nelas – vírus que sai da célula, fica no meio da cultura e é então coletado e purificado para a fórmula da vacina.
Já na CoronaVac, segundo outro artigo publicado na mesma revista Science, foram utilizadas células Vero – uma linhagem de células epiteliais renais do macaco-verde africano, desenvolvida em 1962 – para cultivar o vírus utilizado na produção da vacina. Sendo assim, não se utilizou fetos humanos como técnica.
A vacina do Butantan é feita a partir de vírus inativados, que se multiplicam por meio da cultura das células Vero. Depois são inativados com calor ou algum produto à base de alumínio. O sistema imune vai reconhecer e responder a esse vírus, induzindo a produção de níveis de anticorpos.