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Entenda quem poderá fazer o tratamento contra o câncer com células CAR-T pelo SUS

Terapia celular com células modificadas será realizada em pacientes de três hospitais públicos de São Paulo


Publicado em: 21/06/2022

O Programa de Terapia Celular lançado pelo Instituto Butantan em parceria com a Universidade de São Paulo (USP) e o Hemocentro de Ribeirão Preto será voltado primeiramente a pacientes do Hospital das Clínicas de São Paulo (HC-USP), Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto (HC-RP) e Hospital das Clínicas da Universidade Estadual de Campinas (HC-Unicamp). Eles farão parte de um estudo clínico para avaliar os resultados do tratamento contra o câncer usando células de defesa modificadas, conhecidas como células CAR-T.

Segundo o presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas, um dos líderes da iniciativa, 30 pacientes entre 18 e 70 anos com diagnóstico de linfoma difuso de células B refratários, não elegíveis a transplante autólogo de medula óssea, participarão de um estudo clínico de fase 1/2. Os pacientes serão recrutados durante 12 meses nos três hospitais e serão acompanhados por 12 anos após o procedimento.

“Estamos anunciando um estudo clinico de fase 1/2, que deverá começar brevemente e ser feito por recrutamento no hospital”, afirmou Dimas durante o lançamento do Programa de Terapia Celular na terça (14) em São Paulo (SP).

 

 

De acordo com o presidente do Butantan, na primeira fase do programa, a terapia será indicada apenas para quem não teve respostas positivas em outros tratamentos.

“Nesse momento, a terapia é indicada para pacientes que não responderam aos tratamentos convencionais. Mas à medida que os estudos clínicos estiverem progredindo, o tratamento começará a ser aplicado em fases mais precoces”, afirmou.

Serão analisados no estudo a segurança do método e seus efeitos adversos iniciais e de longo prazo, a resposta clínica nos 30 e 90 dias após a infusão das células CAR-T, assim como a duração da resposta e a sobrevida dos pacientes.

O estudo será aberto, o que significa que todas as partes envolvidas (médico e paciente) estarão cientes do método utilizado; prospectivo, com acompanhamento da evolução da doença, no sentido de avaliar se a terapia elimina ou não o câncer; e de braço único, com apenas um grupo de participantes recebendo a mesma terapia.

Entenda o tratamento

A terapia com células CAR-T (sigla para receptor quimérico de antígeno, em português) já é desenvolvida no Centro de Terapia Celular da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP com sete pacientes, mas deve ganhar escala com a inauguração de duas novas fábricas de produção das células de defesa modificadas: o Nutera-São Paulo e o Nutera-Ribeirão Preto - o primeiro inaugurado na terça (14/6) e o outro na segunda (20/6). 

Juntos, os núcleos terão capacidade de produzir células que poderão atender até 300 pacientes por ano, com resultados possivelmente animadores, explicou o presidente do Butantan durante lançamento do programa.

“A terapia consiste em uma célula de defesa do organismo geneticamente modificada que passa a combater o câncer. Nós modificamos uma célula do próprio paciente e transformamos essa célula em um armamento contra o câncer que ele possui. Por isso que há uma elevada porcentagem de cura”, afirmou Dimas.

Em outras palavras, o paciente recebe as células como se fosse uma transfusão em um processo mais rápido que os tratamentos tradicionais, explicou o hematologista. 

“A internação é muito curta. Se não houver nenhuma complicação no tratamento, em um mês o paciente recebe alta e, quando isso, acontece a doença normalmente já está sob controle”, detalha Dimas.

O primeiro voluntário, que recebeu o tratamento experimental há dois anos, alcançou a remissão total de um linfoma em estágio terminal. Outros pacientes que optaram pelo tratamento também tiveram remissão.