A Organização Mundial da Saúde (OMS) é o grande norteador do calendário vacinal, mas são os países que decidem, de acordo com sua capacidade econômica e epidemiológica, quais imunizantes constam em suas campanhas anuais de vacinação. No Brasil, existem vacinas diferentes para cada público: crianças, adolescentes, adultos e idosos. Isso acontece porque as vacinas foram desenvolvidas, ao longo de décadas de estudo, para o público-alvo no qual a incidência de cada doença é maior.
A tríplice bacteriana, que combate tétano, difteria e coqueluche, é dada para as crianças porque o principal grupo de risco para a coqueluche são os menores de cinco anos. Já os maiores tomam só a dupla adulta a cada dez anos, para tétano e difteria, sem a coqueluche. Isso porque se uma pessoa teve a vacinação completa quando criança, a coqueluche não será um problema grave para o organismo adulto. Por ter uma incidência muito menor na população adulta, a doença deixa de ter uma relevância epidemiológica.
Até pouco tempo, a vacina da febre amarela exigia uma dose de reforço a cada dez anos. Recentemente, a OMS percebeu que um quinto da dose é tão efetivo quando a dose inteira, e eliminou a necessidade do reforço por década para quem toma a dose inteira. Mas isso não significa que aumentar uma dosagem ajuda o sistema imunológico a enfrentar de uma vez a doença. Quando a vacina é desenvolvida, uma das coisas que se estuda é o escalonamento de doses. “Se resultado mostrar que 20 miligramas ou 100 miligramas já imunizam, então não é preciso gastar antígeno à toa. Uso os 20 miligramas, que já resolve. É o chamado platô”, conta a pesquisadora científica e diretora do laboratório de desenvolvimento de vacinas, Viviane Maimoni Gonçalves.
A maturidade do sistema imunológico também cumpre um papel importante na distribuição do calendário vacinal. Conforme as pessoas vão ficando mais velhas, o sistema imune, por causa da imunossenescência (alterações imunológicas observadas no envelhecimento), já não responde tão bem assim, diferentemente do adulto imunocompetente.
Muitas vezes, a doença tem uma incidência em certa população, mas não tem relevância clínica ou gravidade. A vacina BCG (Bacilo Calmette-Guerin, que previne as formas graves de tuberculose, principalmente miliar e meníngea), por exemplo, não é capaz de prevenir a tuberculose de um adulto, mas previne a forma grave da doença em bebês. Em uma pessoa mais velha, a tuberculose precisa ser tratada com medicamentos até que uma vacina efetiva seja desenvolvida para essa faixa etária.
“A gente vê que esses grupos andam juntos com frequência, os idosos e os bebês. Em um o sistema imune ainda não está maduro o suficiente para lidar com uma série de patógenos e no outro o sistema imune já está envelhecendo”, explica Viviane. A vacinação contra a gripe, para idosos e crianças, é anual. Os pequenos são vacinados dos seis meses aos seis anos – depois dessa idade, entende-se que doença não tem tanta relevância clínica.
Muitas doenças desapareceram porque houve um esforço mundial de vacinação organizada pela OMS, como no caso da varíola – o último caso foi identificado na década de 1970. Para Viviane, a melhor estratégia é sempre vacinar todos os públicos de interesse o quanto antes. “O Brasil não tem nenhum caso de poliomielite [paralisia infantil] desde 1989, mas as autoridades estão preocupadas porque a cobertura da vacinação, que é a mais tranquila, aquela da gotinha, caiu muito. Se tiver uma introdução de poliomielite no Brasil, podemos ter um surto”, conta ela.
Outro exemplo é o sarampo. O Brasil esteve livre da doença por muito tempo, mas como a cobertura vacinal caiu, ela voltou a assombrar. “As pessoas precisam entender que a ação da vacina é coletiva, não individual. Toda a população tem que se vacinar e é nossa responsabilidade proteger quem está do nosso lado, que é mais suscetível, ou o outro que não pode tomar vacina”, esclarece Viviane. O sarampo pode matar ou trazer consequências graves em adultos – por isso a vacinação é tão importante.
Vacinas para todas as idades
O Calendário Nacional de Vacinação, do Ministério da Saúde, disponibiliza 15 vacinas para mais de 20 tipos de doenças, e a imunização começa logo nas primeiras semanas de vida.
Antes do primeiro mês, o bebê deve ser vacinado com a BCG e a primeira dose da hepatite B. Aos dois meses, deve receber a penta (que previne difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e infecções causadas pelo Haemophilus influenzae B), a vacina inativa da poliomielite (VIP), pneumocócica 10-valente (que previne pneumonia, otite, meningite e outras doenças causadas pelo pneumococo) e contra o rotavírus.
Aos três meses, é aplicada a meningocócica C. Aos quatro meses, vem a segunda dose da penta, VIP, pneumocócica e rotavírus. E, aos cinco meses, a segunda dose da meningocócica C.
Com seis meses, o bebê deve tomar a terceira dose da penta e da VIP. Ao completar nove meses, tem à disposição a vacina da febre amarela.
Com um ano de idade, vem a tríplice viral (que previne sarampo, caxumba e rubéola), e os reforços da pneumocócica 10-valente e meningocócica C.
Aos 15 meses, a criança deve receber a DTP (que previne difteria, tétano e coqueluche), a vacina oral da poliomielite (VOP), a hepatite A e a tetra viral (que previne sarampo, rubéola, caxumba e varicela/catapora).
Com quatro anos, a criança recebe o reforço da DTP e da VOP, além de uma segunda dose da varicela atenuada.
Crianças de seis meses a cinco anos de idade deverão tomar também uma ou duas doses da vacina contra a influenza durante a Campanha Anual de Vacinação da Gripe.
Entrando na adolescência, as meninas e meninos até 14 anos devem tomar a vacina do HPV (que previne contra o papilomavírus humano, causador de cânceres e verrugas genitais) e também a meningocócica C.
Dos dez aos 19 anos, são recomendadas as vacinas da hepatite B, febre amarela, dupla adulto e tríplice viral. Dos 20 aos 59, os adultos tomam a hepatite B, febre amarela, dupla adulto e tríplice viral.
Depois dos 60 anos, são necessárias as vacinas da hepatite B, febre amarela, dupla adulto, influenza (anualmente) e pneumocócica 23-valente (que previne pneumonia, otite, meningite e outras doenças causadas pelo pneumococo).
Ainda há um calendário para gestantes, com três doses de hepatite B, três doses de dupla adulto, e uma de tríplice bacteriana e influenza.