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Rompompompom do reino animal: conheça o besouro-bombardeiro, que dá “tiros” em seus predadores

Com característica de defesa peculiar, o Brachinus spp. ocorre em todas as regiões do mundo, com exceção da Antártida


Publicado em: 18/07/2025

Reportagem: Carolina Mangieri
Ilustrações: Manu Ferreira

 

Se você fosse um bicho, qual seria o seu superpoder? Para enganar predadores, alguns animais mimetizam (ou seja, imitam) espécies ameaçadoras ou o ambiente ao seu redor; já outros soltam uma parte do corpo, como a cauda, para facilitar sua fuga. Mas há uma espécie que usa um método bastante efetivo e extremamente curioso: ela solta um líquido químico altamente corrosivo nos seus perseguidores.

Esse é o superpoder do besouro-bombardeiro (Brachinus spp.). Para se defender de quem o caça, esse artrópode produz em seu organismo uma substância composta de peróxido de hidrogênio – que nada mais é do que água oxigenada – e hidroquinona, um tipo de ácido. Esses são os ingredientes ideais da “bomba química”, que queima predadores como percevejos, sapos, rãs, aves e pequenos roedores.

As substâncias são produzidas em glândulas diferentes, e depois são conduzidas para câmaras separadas, revestidas por amianto. Essa segmentação é um mecanismo que garante ao besouro se proteger contra uma potencial implosão. O peróxido de hidrogênio e a hidroquinona só se misturam em um catalisador responsável por jogar a substância resultante em um spray, com aproximadamente 100°C, expelido pelo bumbum do animal diretamente em seu alvo.
 


O besouro-bombardeiro consegue rotacionar seu popô 360° e lançar a substância química em diferentes direções, um autêntico “quadradinho” da natureza. Diferente das serpentes, que levam um certo tempo para fabricar veneno em grande quantidade após um bote, esse inseto é capaz de produzir o spray infinitamente. Sempre que se sentir ameaçado, ele liberará esse jato químico. 

Uma curiosidade é que o besouro-bombardeiro só usa essa habilidade para defesa. Apesar de ser considerado carnívoro, o animal se alimenta apenas de insetos de corpo mole, como larvas, pulgões e outros bichos menorzinhos. Com uma dieta tão “facinha”, ele pode dedicar as bombas químicas apenas para as ameaças reais à sua existência. 
 


 

O ciclo de vida do bombardeiro é o clássico de todos os besouros (ovo, larva, pupa e adulto) e ele anda trajado como seus parentes: possui antenas, cabeça, tórax, abdômen e três pares de pernas. Todo o seu corpinho é devidamente protegido por um exoesqueleto, a famosa casca dura que possuem alguns insetos e que garante uma proteção extra. Durante o ataque de sapos, por exemplo, ele pode ser engolido, mas seu exoesqueleto o protege do sistema digestivo do anfíbio e, quando há o disparo do spray, o predador acaba regurgitando o artrópode, que segue seu caminho sem maiores complicações. 

Esta espécie pode ser encontrada em qualquer lugar do mundo em que haja floresta. Apesar disso, o bicho é bem low profile, vivendo discretamente entre troncos e folhas. Em caso raro de alguma pessoa desavisada ser bombardeada por esse besouro, o máximo que pode acontecer é uma pequena lesão na pele.
 

Besouro-bombardeiro (Brachinus spp.)

Família: Carabidae

Onde habita: em todos os cantos do mundo, com exceção da Antártida

Características físicas: lookinho tradicional de besouros – antenas, cabeça, tórax, abdômen e seis perninhas, com a proteção de um exoesqueleto 

Ciclo de vida: ovo, larva, pupa e adulto

Tipo de alimentação: carnívora – alimenta-se de insetos de corpo mole

Curiosidades: produz líquido químico de aproximadamente 100ºC e tem a capacidade de rotacionar o bumbum em 360°

 

Este texto foi validado e redigido com o apoio dos biólogos e técnicos do Laboratório de Coleções Zoológicas do Instituto Butantan Eli Campos e Natália Batista Khatourian.