Com tanto medo de serpentes, Beatriz Kopel, de 20 anos, nunca imaginou chegar perto desses animais – muito menos dividir o ambiente de trabalho com eles. Mas a aluna de Iniciação Científica do Laboratório de Herpetologia do Instituto Butantan mostrou que a sua paixão pela ciência vai além. Hoje, o pavor se transformou em admiração. Orientada pela pesquisadora Anita Tanaka-Azevedo, Beatriz é estudante de graduação em Química da Universidade de São Paulo (USP) e pesquisa maneiras de aprimorar a produção do soro antielapídico, que trata o envenenamento por acidente com cobra coral-verdadeira (gênero Micrurus), a partir de componentes do veneno da naja (Naja kaouthia).
O soro contra o veneno da coral é obtido a partir do plasma de equinos hiperimunizados com uma mistura de venenos das serpentes Micrurus frontalis e Micrurus corallinus, tendo eficácia limitada contra certas espécies, como a Micrurus altirostris. O principal objetivo do estudo é tentar aumentar o volume de soro produzido e conseguir otimizá-lo, sem precisar utilizar mais corais. Isso porque a média de volume de veneno extraído de uma coral é muito baixa: 5,5 microlitros. Mesmo com o uso de pilocarpina (substância que induz a liberação do veneno), esse número só chega até 12,5 microlitros. De uma jararaca, por exemplo, é possível extrair 1.000 a 1.500 microlitros (1 a 1,5 mL).
Além disso, manter as cobras corais em cativeiro não é simples. Elas possuem hábitos fossoriais, ou seja, vivem abaixo do solo, e precisam ser alimentadas com muito mais frequência do que outras serpentes (de duas a quatro vezes por mês, contra uma vez por mês). O alimento dessas cobras também é bem específico, pois elas são ofiófagas: só se alimentam de outras cob